Não espanta que Daniel Alonso tenha decidido não cumprir a promessa de acabar com os cargos comissionados. Além de não ser a única, não será a última promessa de campanha não cumprida. E a dose de hipocrisia do dia-a-dia faz o eleitor reagir com mais ou menos indignação de acordo com quem promete e com a promessa ignorada.
Não espanta também que as reações contra os cargos sejam carregadas com mentiras e ataques descabidos, até por quem carrega história de nomeações políticas.
Espanta o tratamento que Daniel deu ao caso, as velhas meias-verdades em torno da discussão, a busca pela solução simplista e fácil e a clara manobra de procurar uma forma de driblar a Justiça. Pode até ter o resultado esperado. Só não será certo. Os cargos podem e precisam ser muito mais que isso.
É um péssimo hábito transformado em rotina, fazer mal feito porque podem haver boas justificativas. Bem, só para ficar em casos mais simples e recentes, a privatização dos serviços de água tinha uma promessa de bons resultados. A fórmula que não valia para Daniel na oposição virou regra com ele na situação.
Em fevereiro, quando decidiu no final da noite ou início da madrugada demitir comissionados nomeados por vereadores infiéis, Daniel enlameou as nomeações. Se eram técnicas e necessárias, por que cortou? Se não eram, por que não mudou antes? Já era a ideia de que a cidade precisava mesmo deles.
Mas Daniel fez pior com a manobra para salvar os cargos. A começar por chamar o projeto de “reestruturação”. Não reestruturava nada. Mudou nomes, corta alguns cargos – muitos deles vagos – e manteve a estrutura existente com nova roupa. Ou seja, mais uma proposta que derrapa e queima a largada na forma de discutir e tratar temas coletivos com o cidadão. E sem isso a proposta ficou apenas naquilo que nasceu para ser: uma tentativa de driblar a ação judicial para extinguir cargos.
Cedo para dizer se vai dar certo. Funcionou com a Emdurb por enquanto. Mas Daniel jogou fora uma chance de fazer pela forma correta e de mudar o jeito de fazer política, de apresentar sua assessoria e de colocar a equipe para interagir com a cidade.
A existência de cargos comissionados não deveria ser avaliada pelo número, mas pela necessidade. Havendo provas de que são necessários, que existam os cargos. E eles podem ser indispensáveis.
Toda vez que a prefeitura precisa criar serviços, criar novas relações, criar canais com o cidadão, falar com os amigos e adversários, implantar políticas novas para novos hábitos, pode trombar com situações em que os serviços de carreira não dispõem dos profissionais necessários, ou já preparados ou mesmo comprometidos com as mudanças, que afinal podem também atingir os servidores.
Em boa parte das funções de confiança o projeto para renomear os cargos não mostra de que forma eles são indispensáveis e nem porque devem existir sem ser ocupados por servidores de carreira. Nada contra os nomeados, não é uma crítica à capacidade ou à colaboração de nenhum deles. Mas o projeto não deixa claro porque a administração precisa deles.
Daniel precisa de pessoas comprometidas com a mudança? De profissionais específicos por experiência e por tipo de atividade? A lei não mostra esta necessidade em diversas funções que abusam de nomes e atribuições genéricas.
E aí independe saber se o prefeito ganhou, se o tribunal vai manter essa vitória. O serviço público poderia ter aproveitado o momento para mudar. Não foi dessa vez. Não tem sido em um ano de quase quatro meses de trabalho.