No dia 1º de maio de 1994, quando o piloto Ayrton Senna faleceu após um acidente que dominou o noticiário no mundo todo, um grupo de jornalistas de diferentes veículos de comunicação acompanhou junto o caso na chácara do jornalista Anselmo Scarano. Ali, mesmo antes do acidente, era dia de nostalgia e memórias.
Era aniversário do Correio de Marília, o jornal que nasceu antes da cidade e noticiou a transformação de Marília em município. Anselmo Scarano, o Penaforte, era então um ícone para gerações de jornalistas. O Correio já não circulava mais. E em 2018, quando deveria fazer 90 anos, o Correio sumiu até das memórias, vítima de uma ‘tradição cultural’ em ignorar o passado e de fraudes.
Pela primeira vez desde 1929, quando o jornal fez um ano já na cidade de Marília, emancipada menos de um mês antes, o aniversário do Correio não teve edição para comemorar a data, uma prática mantida mesmo depois de o jornal sumir ao ser incorporado pelo Diário de Marília, que adotava no expediente o nome Diário-Correio. A memória sumiu com o próprio Diário, fechado pela Polícia Federal em janeiro de 2017 em meio a um escândalo que envolve apuração de vários crimes.
As fraudes que fecharam o Diário ‘mataram’ a memória do Correio, algo que nem a venda em 1989 ou o rolo compressor da evolução das empresas conseguiu fazer nos anos seguintes. Basta lembrar que o Diário, surgido em 87, adotou a data de fundação do Correio quando encorpou o rival.
O fechamento do jornal também tirou da internet seu conteúdo e com ele o que ainda havia de celebração desta história e do próprio Anselmo Scarano, que entrou no Correio quase adolescente como jornaleiro, foi gráfico, gerente, editor e virou dono do jornal como um presente e reconhecimento de Olga Araújo, viúva do fundador Raul Roque Araújo, que já não vivia em Marília. ‘Seu’ Anselmo saiu quando vendeu, voltou como colunista e após problemas de saúde, mesmo sem poder escrever, continuou presente e reverenciado no jornal até sua morte, em 5 de outubro de 2006.
O Correio de Marília começou a morrer em 1989, quando Anselmo Scarano sucumbiu à pressão econômica e vendeu o jornal para o empresário Juan Arquer Rúbio, então dono do Diário e das rádios Dirceu AM e Diário FM. Deixou de circular em 92. Sua memória definha.
O pouco do acervo que resta do jornal está desde janeiro de 2017 trancado com toda a estrutura da CMN no prédio lacrado pela PF, sob risco iminente de despejo por falta de pagamento do aluguel, sem nenhuma garantia de proteção ou preservação deste material.
Depois de ser o jornal que nasceu antes da cidade, o Correio caminha para voltar à fazer história como mais um marco da imprensa a caminho de sumir das ruas e também da memória coletiva.