O número de registros oficiais de violência contra crianças e adolescentes em Marília saltou de 45 casos em 2014 para 161 em 2017, um aumento superior a 250%.
Apesar disso, a Saúde não vê a situação como explosão de violência, mas como um fator positivo de aumento das denúncias e quebra do silêncio sobre os casos.
A enfermeira Fernanda Bigio Cavalhieri, responsável pelo programa Saúde da Criança no município, explica que a elevação no número de notificações não pode ser confundida com “aumento da violência” de forma simplista.
Para ela, o número reflete maior uso do instrumento da notificação (os profissionais de Saúde, Educação, Assistência Social) estão aderindo ao enfrentamento e tornando a violência mais conhecida, em números.
“Essa realidade está sendo tirada da obscuridade. A subnotificação é um problema grave, reflete uma situação muito íntima e restrita ao núcleo familiar. Com esse movimento para reduzir a subnotificação, estamos dando voz às vítimas, através dos profissionais capacitados”, disse a enfermeira.
O volume de registros, o tipo de incidente, as causas e as medidas de prevenção e atendimento a estes casos serão temas de um encontro técnico que vai apresentar o primeiro grande relatório sobre violência contra crianças na cidade nesta quinta-feira.
O encontro acontece a partir das 13h30 no teatro do Colégio Sagrado Coração de Jesus. Será a terceira edição do encontro, organizado pelo Programa de Atenção à Saúde da Criança.
O evento terá a presença do médico e deputado estadual Carlos Bezerra Jr, especialista em Desenvolvimento da 1ª Infância pela Universidade de Harvard (EUA).
Bezerra foi um dos responsáveis pela cartilha “7 Passos para o Enfrentamento da Violência Sexual Infantojuvenil”, que instrumentaliza pais e educadores na luta contra esse crime. O material será tema da palestra em Marília.
Kátia Santana, secretária municipal da Saúde, destacou a importância do evento e lembrou que, nas edições anteriores, o movimento contou com o entrosamento dos profissionais de Saúde e Assistência Social. Já neste ano, a meta é envolver e empoderar a Educação.
CASOS
Em 2014, a Vigilância Epidemiológica de Marília recebeu 45 notificações. Em 2015 foram 42, em 2016 subiu para 83 casos e no ano passado, 161.
Os dados chegam pelo “Disque 100”, telefone disponibilizado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, ou ainda pelas fichas de notificação preenchidas pelos profissionais de Saúde, Assistência Social e Educação.
O detalhamento dos casos de 2017 em Marília mostra que em 50 deles ocorreu violência física, 47 sexual e 36 lesão autoprovocada. Em 70 episódios, o agressor/violentador é conhecido ou faz parte do núcleo familiar mais próximo (pai, mãe, padrasto, madrasta ou irmão).
As meninas são as vítimas mais frequentes (nos casos notificados), com 68,94% dos registros. Em 31,05% dos abusos, as vítimas foram meninos.
São duas as faixas etárias com maior número de denúncias: 12 a 15 anos (58 notificações) e 16 a 18 (43 registros). Chama atenção também o número de bebês vitimados: 21 crianças, no universo de 161 casos computados pela Vigilância Epidemiológica.