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Encontro resgata 60 anos de história do 'Cativeiro' em Marília

Encontro resgata 60 anos de história do 'Cativeiro' em Marília

Um encontro com quase 60 anos de histórias levou para um passeio turístico em Marília um grupo de amigos que na década de 50 criaram um concorrido ponto de encontro junto à escadaria do antigo prédio do Gimnasyum, atual centro de cultura.

O local nos fundos da escola foi batizado pelo grupo como cativeiro. Era ponto de encontro, paquera, organização de disputas na quadra do ginásio, que ficava ao lado, em uma área onde fica hoje o fundo do Teatro Municipal.

“Cativeiro” nos anos 60, a escadaria ao lado do ginásio que virou ponto de encontro – Reprodução Página Memória de Marília

O grupo começou o encontro na noite de sexta, com o jantar de chegada de alguns dos visitantes – a maioria na faixa dos 70 anos – e levou os amigos para o ‘cativeiro’ na manhã de sábado.

O encontro repete uma tradição dos amigos que se dedicam a manter viva a memória sobre o espaço, costume e relações pessoais que atravessaram décadas, além da distância física, sem se perder. O grupo que chegou a ter pelo menos 60 pessoas no encontro dessa vez teve 23.

Ausências sentidas de alguns já falecidos, como Artur Del Masso ou Adilson Viviani Valença, e amigos que não puderam comparecer por viagens ou distância.

Amigos do“cativeiro”  em encontro na praça do ginásio- Reprodução Página Memória de Marília

“Talvez quem more em Marília não se dê conta de como a cidade é agradável, fácil para se locomover. Foi ao mesmo tempo uma viagem ao passado e um passeio no presente pois visitamos vários bairros novos, que se espalham cobrindo os extremos da cidade, praças e bosques para lazer, Faculdades e escolas, um comércio ativo, hospitais”, descreveu Liana Eppinghaus Telles, integrante do grupo que vive em Bragança.

Liana é uma fomentadora da memória da cidade em redes sociais. É uma das responsáveis por abastecer com dados e imagens a página Memória de Marília, no Facebook, que resgata eventos públicos, vida privada além de lugares e momentos da vida na cidade.

Outros nomes do cativeiro também, como o arquiteto Laerte Rosseto, um dos entusiastas do encontro e da história do cativeiro. “O cativeiro existiu entre a década de 50 e lá por 65, 66, quando boa parte mudou de Marília. A escada ainda ficou lá como um símbolo dessa história, que foi perdido em uma reforma da praça”, explica o arquiteto.

Na turma do cativeiro Laerte conheceu Nelice, que virou esposa e companheira em mudanças, diferentes cidades e muitas histórias

Ivo Severiano, filho do comerciante Bernardo Severiano e irmão do jornalista Mylton Severiano, é outro que aproveita o encontro para lembrar amigos, resgatar a própria história e o modo de vida dos anos 60.

Um dos reencontros, na década de 90, quando a escada que foi símbolo do grupo ainda existia na praça – Reprodução Página Memória de Marília

Da escada, os rapazes contemplavam residências à frente onde moravam alguma das musas dos jovens estudantes e ali todos seguiram para adolescência e início da vida adulta que na década de 60 espalhou os amigos.


Parte da turma em um dos encontros na década de 90 – Reprodução Página Memória de Marília

O cativeiro guardou histórias mais ingênuas e típicas da idade, como burlar a segurança para usar a quadra à noite, enfrentar a relação dos vizinhos por causa do barulho e jogos, até o início de namoros e as opções profissionais e políticas que marcaram a década de 70. Revelou profissionais em diferentes áreas, lideranças políticas e ativistas que atuaram na cidade e fora dela.

São figuras como Francisco José de Oliveira, o Chicão, estudante de Cabrália que veio morar em Marília, integrou o grupo e saiu da cidade para estudar. Envolvido com os movimentos de resistência à ditadura, foi morto em novembro de 1971 e redescoberto como um dos militantes sepultados de forma clandestina no cemitério de Perus em São Paulo.

Apesar dos nomes influentes e de toda a história que envolve, o cativeiro ainda não ganhou nenhum investimento significativo para preservação da memória, arquivo das histórias ou imagens. O grupo dos integrantes e de quem viveu com eles diminui a cada encontro. Manter viva essa mensagem é um desafio para a cidade.

“Muita coisa na cidade foi demolida, como o Cine Marília, a casa do Pau-Brasil (de Sr. Eurípedes Rocha, Sampaio Vidal com Álvares Cabral), a casa dos Almeidas na avenida Rio Branco…Mas ainda há muita coisa preservada, nas ruas do comércio muitas casa em estilo Art Déco, a influência arquitetônica dos inícios do século XX. Espero que continuem preservando esse passado tão interessante de nossa cidade”, pede Liana Barbalho.

Confira na galeria de fotos algumas imagens do encontro deste ano