A psicopedagoga Viviane Giroto Guedes, uma pesquisadora de Marília junto à PUC do Rio de Janeiro, levou a um simpósio internacional nos Estados Unidos resultados de um ano de estudos sobre uso de meditação junto a adolescentes em comunidades de baixa renda na capital carioca.
Professora nos cursos de psicologia e medicina da PUC-RJ, Viviane Girotto desenvolveu a pesquisa como tese de pós-doutorado com atendimento a jovens entre 15 e 17 anos das comunidades Pavão, Pavãozinho e Canta Galo.
O estudo foi aprovado para apresentação durante o Simpósio para Pesquisa Contemplativa, um evento internacional e bienal com fila de pesquisadores inscritos – https://iscr2018.org/ – promovido por um instituto com respaldo e participação de profissionais dos Estados Unidos, Candá e diferentes países da Europa e Ásia, o Instituto Mind And Life.
O encontro reuniu entre 8 e 11 de novembro alguns dos principais nomes da área, incluindo médicos, pesquisadores, neurocientistas, produtores culturais e até monges com atuação na área.
Os resultados da meditação apontaram valorização do silêncio, melhora na disciplina, controle de agressividade e ainda ganhos nas formas de avaliar e reagir às condições de adversidade provocadas pela condição social.
“A comunidade mais pobre sempre foi meu público, desde o mestrado, com foco enquanto a saúde mental. A meditação pode configurar um instrumento para lidar com adversidades, especialmente neste contexto de divisão social no Brasil”, explica a psicóloga.
O estudo teve um resultado tão positivo que a escola pública onde foi aplicado já confirmou a renovação para 2019. E apesar de já ter concluído a tese de pós-doutorado, a pesquisadora vai ampliar o trabalho com melhorias, como a participação de um neurocientista.
O projeto começou com dois grupos de alunos – 15 acompanhados com meditação e 15 sem – e terminou com dez e dez.
Viviane, que contou com dois assistentes, atuou tanto na intervenção direta quanto na análise de dados. Em fevereiro apresentou artigo sobre o projeto para eventual apresentação no simpósio. Em julho recebeu convite e em novembro viajou a Phoenix, nos Estados Unidos.
Além do campo profissional e acadêmico , com o mestrado e doutorado em psicologia, a pesquisadora como projeto pessoal a prática de Yoga há 30 anos e a partir dela aprendeu a valorizar situações como silêncio e concentração. Há cinco anos passou a se dedicar à meditação.
“Há cinco anos comecei a praticar como estudo e aí me tomou, mudou tudo. Fiz um teste para uma decisão pessoal importante, durante duas semanas e o maior benefício é a lucidez para reagir”, explica.
Além da pesquisa, ela levou o método ao trabalho em consultório para que pacientes possam colocar no dia-a-dia e ter o profissional da área como ajudar para atravessar a ponte na mudança de hábitos.
“A meditação promove ganho em autoconhecimento, empatia, compaixão”, diz. E a aplicação ganha o país. O SUS (Sistema Único de Saúde) reconheceu o benefício no contexto de doenças crônicas – como diabetes – e em situações de dor e pacientes hospitalizados.
Apesar disso, Viviane diz que o Brasil ainda está muito atrasado em relação a grandes centros. O berço da mudança de hábitos, explica ela, foi à Califórnia, onde um pesquisador aceitou um desafio do Dalai Lama – líder mundial do budismo – e passou dez anos no Tibete aprendendo e praticando.
“A meditação usa muito do budismo, mas sem a conotação religiosa. Buda deixou um tratado filosófico que é um manual, hoje muito usado em conjunto com psicanálise”, conta.
O início envolve alguns desafios em mudança de hábitos, como o silêncio e parar a vida por momentos apesar dos dias tão atribulados. “O treino diário permite um ver mais amplo”, afirma.
Veja abaixo um vídeo da pesquisadora durante apresentação na PUC-RJ sobre desenvolvimento da mindfulness, um estado de meditação para busca de controle sobre a capacidade de se concentrar nas experiências, atividades e sensações do presente e sua influência na memória emocional.