Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) aberta na Câmara de São Carlos (270km de Marília) para investigar a crise do transporte urbano na cidade colocou o advogado Ademir Souza e Silva, de Marília, na linha da apuração.
A CPI aponta desaparecimento de R$ 56 mil durante um processo de intervenção da prefeitura na empresa responsável pelo Serviço, a Suzantur, que durou 44 dias. Ademir foi chefe de gabinete na procuradoria jurídica da cidade e é advogado do prefeito Antonio Garcia.
A intervenção e investigação agravaram troca de acusações e crise do setor. A Prefeitura assumiu a empresa em 23 de janeiro e o serviço, com 84 ônibus, tinha muitos com problemas. A Justiça exigia pelo menos 104 Ônibus em circulação na cidade. Em risco de colapso dos serviços, a Câmara aprovou até liberação de emergência de R$ 2 milhões para investimentos no setor.
O último capítulo da CPI, instalada em julho, foi uma visita à empresa em que funcionários teriam acusado Ademir de manipular dinheiro da companhia durante a intervenção.
O vereador Marco Antonio Amaral (MDB), relator da comissão, já adiantou que seu relatório vai ‘lamentar o descaso na intervenção” e pedir punição “aos que provocaram o caos”.
O advogado, que é citado em notícias como Dr Marília, não é servidor municipal e não deve ser atingido por medidas diretas do Legislativo, embora possa ser alvo de representação ao Ministério Público e encaminhamento de medias legais.
Advogado Ademir Souza e Silva durante depoimento à CPI em São Carlos
O advogado disse ao Giro Marília que não exerceu nenhuma atividade direta na gestão durante a intervenção e atuou como assessor jurídico das medidas. Em depoimento à CPI, afirmou que não participou da movimentação de contas mas que intermediou compra de combustíveris e depósitos para pagamento destas compras.
“A prefeitura encontrou muitos ônibus parados, sem condições de circular”, diz o advogado. “No dia 25 precisava abastecimento e não tinha dinheiro. Então encheu com o que tinha e esperou arrecadar durante o dia. Foi entrado em contato com a empresa fornecedora e ela se negou a fornecer em nome da Suzantur, a prefeitura não poderia no momento comprar em nome dela. Saímos em busca de um novo fornecedor e encontramos uma empresa em Paulínia. Foram comprados dez mil litros, mas a empresa exigia pagamento antecipado”, disse o advogado durante depoimento à CPI.
Ademir Souza e Silva disse à CPI e ao Giro Marília que usou dinheiro pessoal para ajudar nos pagamentos enquanto as contas da intervenção não estavam regulamentadas e que deixou de receber em torno de R$ 8 mil do que repassou. “Fiz duas vezes. As duas primeiras compras eu fiz”, disse. “Pegava dinheiro meu e punha. No dia mesmo ou no dia seguinte vinha. Foi dois de óleo diesel que eu ajudei e um que faltavam baterias, fiz um cheque meu e entreguei ao interventor, dei um cheque.”
Além disso, disse ao Giro Marília que a empresa deixou de repassar durante a intervenção valores que já havia recebido, como passes comprados de forma antecipada. Ademir disse na CPI e repetiu ao site que os R$ 56 mil que estariam faltando “são dinheiro de pinga” perto do que considera prejuízos deixados pela empresa, que avaliam em quase R$ 3 milhões.
“Estudantes, usuários que compravam os passes antes, circularam durante a intervenção com viagens já pagas e estes recursos não estavam, disponíveis.”
O advogado disse ainda que tem dezenas de fotos para mostrar acidentes, problemas em veículos e situações de risco que existiam antes da intervenção. E que vai tomar medidas judiciais contra qualquer acusação que envolva seu nome.
A cidade tem estrutura muito parecida com a de Marília: número de habitantes, arrecadação, perfil econômico e até crises políticas. O setor de transporte vive um embate com a administração.
E a participação do advogado na gestão da cidade ampliou estas semelhanças. Ademir é pai do advogado Alysson Alex de Souza e Silva, procurador jurídico em Marília. Alysson é o principal consultor do prefeito Daniel Alonso para o embate com as empresas de transporte na cidade, que já virou uma batalha judicial.
A crise do transporte em São Carlos levou para situações como a intervenção na empresa e a abertura de uma nova licitação para contratação de empresa destinada a prestar os serviços.
A Suzantur, responsável pelo atendimento, está fora da licitação e pode deixar o transporte, embora o processo esteja em meio a disputas legais. Mas conseguiu superar a intervenção e no meio da crise ainda obteve um reajuste das tarifas. A passagem de R$ 3,50 passou a R$ 3,90 em outubro, com alta de 11%. Em Marília a tarifa não sobe há pouco mais de dois anos e está em R$ 3,00.