Marília

ONG detona concessão em Marília; ‘prefeitura quer queimar seu dinheiro’

ONG detona concessão em Marília; ‘prefeitura quer queimar seu dinheiro’

A Origem Associação Ambientalista de Marília divulgou nesta sexta-feira um manifesto público contra uma licitação da prefeitura da cidade para contratar uma concessionária responsável por processo de geração de energia com gás produzido a partir da queima controlada de lixo.

A licitação prevê contrato de 30 anos, com custo acima dos R$ 30 milhões, além de ocupação no condenado espaço do lixão em Marília. Segundo a ONG, o local é inapropriado, a técnica é ultrapassada e haverá danos ambientais, econômicos e sociais.

A organização, fundada em 1995, participa em diferentes encontros de planejamento urbano e desenvolvimento sustentável.

Desenvolve campanhas como defesa de mobilidade com redução do número de veículos, incentivo a ciclistas e transporte de qualidade, e entregou à prefeitura um projeto de implantação da ciclovia ao lado da ferrovia, que pode criar um parque linear na cidade.

“A Prefeitura quer queimar o seu dinheiro” é o título do manifesto. Leia o conteúdo abaixo

“Licitação milionária a caminho, sem discussão popular, quer contratar serviços de pirólise – queima controlada, já ultrapassados no mundo inteiro. Saiba porque a Origem é contra:

1. O processo não passou por avaliação participativa junto à sociedade civil. O Conselho Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável jamais foi consultado sobre o tema, contrariando disposição legal. Lembrando que o CADES tem caráter deliberativo, que tampouco foi consultado e respeitado.

2. No contrato da empresa que anteriormente era responsável pela coleta de Resíduos Sólidos, Monte Azul, consta a implantação de uma Usina de Compostagem que não foi realizada e tampouco se procedeu à realização de auditoria para o cumprimento do contrato, o que implica em potencial prevaricação em torno das responsabilidades da atual gestão municipal.

3. Foi realizada Audiência sobre o tema no dia 21 de dezembro de 2017. Na ocasião o projeto foi apenas apresentado de forma superficial, sendo amplamente contestado por técnicos e pela população presente, que não obteve respostas a inúmeras questões apresentadas, por exemplo, como seria realizada a Coleta Seletiva no município, Logística Reversa e as ações frente aos atuais recicladores da cidade.

4. Conforme a Lei Federal 12.305/2010, em seu artigo 9o , “Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”.

O projeto vai totalmente contra a Lei no seu espírito, pois coloca o tratamento sem a observância da ordem de prioridade prevista na legislação.

5. A geração de resíduos necessária à viabilidade da operação é da ordem de 300 toneladas, acima da atual geração que é da ordem de 250 toneladas.

Tal fator torna obrigatória a maior geração de resíduos para potencial queima, implicando na supressão total da atividade que é geradora de renda para centenas de catadores de resíduos e indo na contramão do que no mundo hoje é padrão, que é a diminuição na geração de resíduos, de aposta em compostagem e reciclagem, inclusive conforme previsto na Lei como acima citado.

6. Apesar de ser apresentada como segura, não há nada de limpo na queima do lixo, ou seus processos análogos, como os de pirólise e de gaseificação. A técnica de queima, pelo procedimento que for, é extremamente perigosa (exigindo monitoramento frequente), cara e vai na contramão da sustentabilidade.

Ela é contestada pelos ambientalistas por causa das emissões de poluentes e pelo retrocesso que representa em relação aos processos de reciclagem, base da economia circular, que reinsere na cadeia produtiva os resíduos gerados pelo consumo.

O tratamento responsável dos resíduos, contemplando a reciclagem, compostagem e coleta seletiva gera 10 vezes mais empregos do que o tratamento proposto. Um estudo feito nos Estados Unidos, constatou que a cada 10 mil toneladas de lixo depositadas em um aterro sanitário é gerado um emprego.

Se esta mesma quantidade de resíduos for destinada à compostagem, poderá gerar quatro empregos e, caso seja implantada a coleta seletiva, dez pessoas serão empregadas no processo. Em uma perspectiva ideal, o estudo demonstrou que de 75 a 250 postos de trabalho podem ser gerados se o destino dos resíduos for a reutilização.

7. De acordo com Elisabeth Grimberg, do Instituto Pólis, o impacto ambiental é um dos pontos mais frágeis e problemáticos da incineração. Ela gera cinzas tóxicas e escória que devem ser acondicionadas e dispostas em aterros especiais com gerenciamento complexo para monitoramento de emissões.

Os incineradores são a maior fonte de poluição por mercúrio, prejudicando as funções motora, sensorial e cognitiva, além de fonte de poluição por metais pesados. Outros poluentes são hidrocarbonetos halogênicos, gases ácidos, que são percursores da chuva ácida; partículas que prejudicam as funções pulmonares; e gases que provocam o efeito de estufa.

8. A cidade passará por mais um processo de endividamento por conta desta licitação. Inúmeras cidades se endividaram e têm enormes dificuldades em mantê-los.

9. Sabendo que o local onde atualmente se encontra o aterro é inapropriado, a usina irá causar ainda maior impacto ambiental com enormes prejuízos à saúde e à qualidade de vida dos moradores, além de acarretar desastroso prejuízo financeiro, arrasando o valor cênico e turístico da região.

10. A usina não contempla a questão dos resíduos orgânicos gerados pela cidade, que de acordo com o edital serão de responsabilidade do município, sem especificação do tratamento a ser aplicado.

Além disso, a usina de pirólise ou gaseificação, técnicas análogas à incineração, compete com os programas de reciclagem pelos mesmos materiais.

O uso de fundos públicos para cobrir seus altos custos de instalação e manutenção reduz, e em muitos casos elimina, a possibilidade de investir em soluções sustentáveis e reais.