Estou me mudando e fui realizar a faxina clichê de toda mudança.
Minha irmã foi comigo e entre vassouras, pás e rodos, no murmúrio de nós duas e com o receio de que qualquer barulho pudesse incomodar os vizinhos.
Lá para as tantas, no meio do nosso silêncio barulhento, do pó e da rinite, olhei para minha Irmã e constatei, lugares vazios são barulhentos.
Naquele momento me dei conta do quão profunda era aquela afirmação.
Lugares e pessoas vazias são barulhentas.
E são barulhentas porque ecoam, muitas vezes, as vozes externas, na ânsia de calar aquela voz interior chata e que nos causa medo, nos lembrando de quem somos e do que estamos fazendo a nós mesmos.
Quando a gente não quer se permitir ouvir o próprio barulho, deixa que o barulho dos outros seja mais alto.
Isso ocorre com aquela pessoa que é a animada da festa mas que, por vezes, é triste.
Com aqueles que vivem postando fotos em redes sociais, rindo de orelha a orelha, mas que à noite chora abraçado ao travesseiro pela ausência de um amigo ou da pessoa que ama.
Isso ocorre comigo, a moça brava das redes sociais que, muitas vezes, se manifesta para não se sentir sozinha.
Com o intuito de saber e sentir que, mesmo virtualmente, há vida do outro lado.
No fundo, somos um bando de crianças crescidas fazendo manha, fazendo barulho para sermos notados e amados.
Utilizamos esse recurso para que também não sejamos esquecidos no nosso silêncio.
Quem silencia deixa de ser lembrado também e, atire a primeira pedra, quem quer ser esquecido por completo.
Que possamos encontrar o equilíbrio entre o silêncio e a fala, a manifestação de que estamos vivos.
Que não precisemos fazer barulho para que nos notem, para que nos abracem, para que sejamos amados.
E que nossos silêncios sejam respeitados e não nos cause medo de sermos abandonados quando optarmos por ele.
Nem que seja só um pouquinho para nos lembrar que, mesmo quando tudo silencia, ainda continuamos com nossas vozes, nossas falas e nossos barulhos.