Vamos dá aquela parada rápida e fazer uma consulta à nossa consciência. O questionamento do dia é: tenho medo de envelhecer?
Esse questionamento surgiu quando postei algo em meu facebook e uma amiga comentou sobre a questão da velhice e de como, nós mulheres, lidamos com ela.
Lidamos?
Será que lidamos ou fugimos de pensar, falar, escrever, dizer ou pensar em nossas bundas sorumbáticas que sucumbem ao tempo inexorável e que não perdoa nenhum ser humano?
Vemos aí, Xuxas, Veras Fischer, Angelinas Jolies, Elzas Soares, envelheceram.
Não temos muitas alternativas, ou morremos jovens ou envelhecemos.
A idade tem peso diferente para homens e mulheres. O corpo de ambos, quase sempre, é analisado e cobrado de formas diferenciadas.
Vamos fazer alguns apontamentos para percebermos o quão escravas do próprio corpo somos.
As perguntas se referem a mim e a grande maioria das mulheres.
Quantas de vocês fazem sobrancelha, pintam o cabelo, fazem depilação?
Quantas, após seus 30 anos, pensaram sobre se seria adequado ou não colocar determinado tipo de roupa? Afinal, não é para minha idade.
Quantas se sentiram ridículas ao serem abordadas por paqueras mais novas, e a indagação, será que essa criatura tá zombando de minha cara?
Quantas vezes você pensou antes de colocar um biquíni ou maiô?
E aquele short jeans que deixa a celulite à mostra ou aparecendo suas coxas grossas, quanta insegurança antes de colocar ele, né?
Quantas mulheres aqui transaram de luzes apagadas ou não tiraram totalmente a roupa por causa da barriga, dos seios, da bunda.
Agora, a pergunta mais interessante, quem foi que te ensinou que seu corpo é feio e que ele está ficando horroroso com o envelhecimento?
Que seu rosto não é bonito, seu nariz não está arrebitado e pequeno o suficiente e que aquelas rugas que teimam em aparecer são anomalias?
A antropóloga Mirian Goldenberg (Doutora em Antropologia Social; Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro IFCS-UFRJ) estuda a questão do corpo e como as mulheres se relacionam com a velhice.
Anos atrás, assistindo a uma entrevista dela, lembro quando disse que o corpo da mulher é considerado um produto e como tal, com prazo de validade.
Socialmente somos percebidas em três momentos, um corpo infantil, portanto e, ufa, desprovido de qualquer forma de desejo.
O corpo desejável, aquele da adolescência e da juventude, onde a pele tem viço, bumbum na nuca, como dizem os aficionados em academia, um rebento mesmo, algo que está acontecendo ali, só o presente existe.
Por fim a velhice, o momento onde só o futuro existe, onde a preocupação com o que nos resta de vida passa a ser mais importante do que o corpo decrépito que já foi desejável, visto e perdeu a validade.
Mas no meio desses três momentos temos um espaço tempo, um momento onde já não há definição desse corpo, uma certa invisibilidade toma a mulher de 40-50 anos.
Mulheres, como a antropóloga mesmo descreve, nemnem, nem jovens, nem velhas, num limbo temporal que escraviza, maltrata e mutila mulheres.
Esse sofrimento e esse mal estar com o corpo está restrito a mulheres que chegaram aos seus 40, 50 anos? Não, não mesmo!
Adolescentes andam numa onda enfurecida, anoréxicas e bulímicas, tentando aproximação a um padrão de beleza que nem, ao menos, se aproxima da maioria dos estereótipos físicos de nós reles mortais.
É, está tudo um caos quanto a nossa vivência enquanto mulher, estamos passando por uma nova fase em que nossas lutas e desejos estão sendo repensados.
Assim como o reconhecimento de momentos , não tão distantes, onde o voto era estritamente masculino e que, o crime de honra, era defendido por cidadãos de bem.
Andamos brigando e lutando para que as conquistas das mulheres cheguem a todas as esferas, sem exceção de nenhuma, mesmo.
Mas como faremos para conquistar coisas além de nós mesmas se odiamos nossos corpos, novos ou velhos, sarados ou sedentários, padrão ou apenas um corpo comum?
Dentro do que penso, acredito e defendo, sinto que nado e não saio do lugar, falo e nunca digo o que de fato há de ser dito.
Isso mostra somente que ainda estamos no começo de uma luta por direitos e reconhecimento como pessoas humanas, mas que muitas vezes, não conseguimos reconhecer.
Afinal, humanos envelhecem, lembra, é aquele ciclo, nascer, crescer, reproduzir e morrer. Para tudo isso ocorrer, a velhice tem que chegar.
Step by step como diria o New Kids on the block, aquela banda do final dos anos 90, que banda, olha eu aqui entregando minha pós balzaquianidade, ou para as mais jovens como diz a bela Vanessa da Mata:
“Pensei: sou carta fora do baralho
Ou essa calça jeans é de infância
Ou eu engravidei nos meus quadris
Ave, chavê, vixe.”
Ave, chave, vixe!