Emprego

Walkiria Martinez Heinrich Ferrer - Doutora em Educação, professora na Unimar

Walkiria Martinez Heinrich Ferrer - Doutora em Educação, professora na Unimar

– Como vê as relações de trabalho no país?

Vivemos a era globalizada, com diversas transformações em âmbito político, econômico, cultural e social. Nessa nova realidade as relações sociais também se transformaram, pautadas, principalmente nos avanços tecnológicos. Perante ao contexto mundial as instituições tornaram-se voláteis, com uma imensa capacidade de adaptação aos novos tempos. E essa adaptabilidade também se aplica ao mundo do trabalho, representando latente retrocesso em termos de direitos dos trabalhadores.

– De que forma a reforma trabalhista impacta nestas relações?

Certamente, perante os avanços tecnológicos fez-se necessário apresentar possibilidades de modernização das relações trabalhistas, visando sua adequação às novas condições do setor produtivo, mas o que foi contemplado pela reforma trabalhista de 2018 foi a intensificação da precarização das condições de trabalho no Brasil, gerando alterações em direitos assegurados por décadas de mobilização da classe trabalhadora.

Em razão do período de discussão da reforma das relações de trabalho no Brasil ter sido inexistente, a reforma trabalhista foi implementada de maneira afoita e intempestiva, mostrando-se carente de fundamento democrático.

Excludente em sua natureza, a reforma trabalhista enaltece os mecanismos de perpetuação das desigualdades sociais, manifestando claramente objetivos com vistas à reprodução e manutenção da precariedade das relações de trabalho no Brasil, além de um desacordo latente com os princípios constitucionais que asseguram as condições de valorização do trabalho. Em lugar de segurança e modernidade, trouxe insegurança e agravamento das condições laborais.

– O que aponta como maior necessidade de mudança para promover mais justiça nas relações de trabalho?

Conciliar as novas relações geradas pela era globalizada com condições dignas de trabalho, ou seja, não utilizar a necessidade de modernização das relações trabalhistas em discursos vazios e retrógrados, que visem exclusivamente recrutar mão-de-obra para servir aos interesses de apenas um dos lados.

Em uma sociedade de mercado há a tendência em rotular o trabalho apenas como mecanismo gerador de riquezas, mas o trabalho é, acima de tudo, meio garantidor da efetivação da dignidade da pessoa humana.

Perdeu-se a oportunidade em promover adequações efetivas na legislação trabalhista para garantia de melhorias tanto para empregados como para empregadores, resguardando direitos trabalhistas já consagrados constitucionalmente.

Que este 1º de Maio não represente apenas mais um feriado nacional, mas um momento de resgate da consciência da classe trabalhadora de seu papel no desenvolvimento econômico do país e, principalmente, a necessidade da retomada do direito ao trabalho digno.

Profa. Dr. Walkiria Martinez Heinrich Ferrer – Doutora em Educação e Pós-doutoranda em Sociologia pela UNESP/Marília. Docente da Universidade de Marília UNIMAR.