A Narizinho

Tenho problemas com cheiros, confesso. Sou uma pessoa tão ligada aos perfumes que um ex namorado me apelidou de narizinho, e não foi porque tenho o nariz pequeno e arrebitado.

Sou daquelas que ao sentir um cheiro que me recorda alguém ou algum momento, fecho os olhos e respiro fundo, fazendo uma viagem no tempo e na minha história.

Quer saber o quanto um cheiro tem importância? Pergunte a uma pessoa que tem enxaqueca o quanto uma determinada fragrância lhe causa asco.

Ou pergunte a uma pessoa apaixonada o quão gostoso é sentir o perfume da pessoa amada ou rememorar algo ruim só de sentir determinado cheiro.

Hoje, numa das crises de enxaqueca, das tantas que tenho, estava esperando atendimento médico sentou ao meu lado uma moça que, possivelmente, deve ter jogado o vidro de perfume inteiro no corpo.

Entre o asco e o susto lancei- me para o lado oposto daquela presença olfativa, tampando, discretamente, o nariz.

Consultórios médicos são ótimos para observação,  a minha frente tinha um casal beirando seus 24/25 anos. Casados, observei a aliança nos dedos, ela se aconchegava em seu ombro, beijava seu pescoço,  roubava-lhe beijos, ele, distraído, nem percebia o carinho.

Logo, concluí, ela tão apaixonada e ele tão distante, nossos julgamentos, ele estava tão apaixonado quanto ela, só demonstrava de forma mais discreta, pude constatar ao vê- la passando mal e ele, além do colo, passava a mão em seus cabelos enquanto a observava.

Outro rapaz, lá pelos seus 27, estilo hipster, não parava de coçar sua barba e olhava as moças bonitas e moribundas que desfilavam com sua palidez e seus narizes catarrentos.

Mas o que de fato chamou a atenção nesse amigo hipster foi seu perfume, que naquele momento tinha cheiro de amor.

Não,  eu não amava o barbudo olhudo, eu amava o cheiro que ele exalava, cheiro dos beijos , abraços, dos sorrisos deixados.

Cheirava o impronunciável, a sorrisos perdidos na noite, a beijos no pescoço e roubados, a cobertores puxados na noite, roncos que tiravam o sono.

Hoje fui a uma consulta para tratar a enxaqueca e saí de lá com um amor impregnado no meu corpo.

Me dei o direito de sentir só mais uma vez como gostei de te amar.

Percebi que ao deixar o consultório deixei você em minha vida.