Horinhas de descuido.

Ontem encontrei um amigo e conversando com o mesmo perguntei como ele tinha se apaixonado, adoro histórias de amor.

Me contou como conheceu seu parceiro, o encontro e os desencontros até a hora que ele se deu conta de que estava apaixonado.

Segundo o mesmo, só queria alguém para sair, bater um papo, alguém para aquelas coisas gostosas sem o peso do compromisso.

E quando viu estava apaixonadinho, caidinho e hoje está casado e super feliz.

Não que o casamento seja condição para ser feliz, mas no caso dele a pretensa felicidade estava em outro caminho ou destino.

Tinha desenhado o que queria e como queria, só não se deu conta de que a vida não  segue o nosso roteiro, tem um rascunho e texto próprio.

Diante de nosso bate papo fiz um retrospecto e lembrei-me de como conheci alguns ex amores, um no trabalho, outro no consultório de um dentista, outro em uma festa que não parecia interessante.

Sabe aquela frase  do Guimarães Rosa que diz que felicidade se acha é nas horinhas de descuido? Pois bem, amor também!

Um outro amigo confidenciou-me que tem dificuldade em se apaixonar, não tenho dificuldade e, aliás, adoro está apaixonada.

Sim, você perde o controle, seu senso de direção fica comprometido, acorda e dorme pensando na pessoa, ela se transforma na coisa mais especial, o cheiro é bom, o sorriso é o mais bonito e gostoso. O ser vira o centro da sua vida por um bom período.

Não considero ruim sentir e pensar assim, me sinto viva quando estou apaixonada, cheia de emoções aqui dentro que na maioria do tempo ficam adormecidas.

Para se apaixonar ou encontrar alguém bacana, não tem receita pronta, não tem lugar adequado, não tem hora.

Talvez aquele dia  em que você saia vestida para matar, não conheça a criatura, no entanto, pode ir à padaria vestida com seu moletom surrado, de chinelo e cabelo em desalinho e voilà, lá está a pessoa que vai te olhar e pensar: que mulher é essa, meus amigos?

Não necessita arrumar demais o cabelo, ou colocar o melhor perfume, não precisa vestir manequim 38, ter um bumbum mais redondo que a lua, seios siliconados e apontando para o céu, o corpo da Paolla Oliveira ou o sorriso da Juliana Paes.

Sabe qual a receita para apaixonar-se e permitir que alguém também se apaixone por você? Ser você mesma! Simples, né?

O padrão de beleza que tanto conhecemos não é unânime, e vamos glorificar de pé por isso.

Nem essa pretensa beleza é capaz de “segurar” alguém ou forçar uma fidelidade, lealdade. Amor é um negocinho bem mais elaborado, bem mais.

Acontece quando estamos distraídos, é um acidente de percurso, vem com a força da vida para mostrar quem manda de verdade. Muda roteiros, planos, sonhos, objetivos.

De repente você se vê olhando para outro caminho, desejando outras coisas, feliz no aconchego de uma rotina de contas e afazeres, com o churrasquinho a dois e com as piadas cheias de cumplicidade.

De repente ele está ali no tinder, no happn,face e outras redes sociais,  ou pode está no seu trabalho, faculdade, na balada, barzinho.

Ah, mas pessoas interessantes  não encontramos nesses lugares. E você é o quê? No mínimo interessante e está aí, então, se você, que é interessante, está nesses lugares outras tantas pessoas também podem está só aguardando aquele match, aquela curtida, ou aquele papo despretensioso de qualquer lugar, inclusive fila de supermercado.

Porque o amor  a gente encontra quando está distraído ou simplesmente quando está descuidado, nessas horinhas bobas em que  não seguimos fazendo poses para selfies, em que nosso sorriso pode parecer um pouco mais torto que o normal.

Quando o desodorante já está um pouco vencido pelo dia de trabalho cansativo, naquele happy hour onde você solta um riso espontâneo e feliz de quem está de bem consigo mesma ou na cara sisuda de uma pessoa que leva o trabalho a sério demais.

O amor chegou para o meu amigo pisando mansinho, sem alarde e num endereço que não era o previsível para ele, foi nocauteado.

E para não deixar de lado quem escreve tão bem sobre o amor, cito aqui um trecho da música de Chico Buarque, Futuros Amantes, que diz:

” Não se afobe, não
Que nada é pra já
O Amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios no ar.

Não se afobe, não. Saia por aí, ria, coma o que gosta, vista o que te faz bem, fique confortável com você  mesma, goste do seu jeito, aprecie sua companhia e o amor te encontra. Ah, ele te encontra. Enquanto você se distrai, ele se aproxima porque amor a gente acha é nas horinhas de descuido e enquanto está distraído.