O silêncio, muito valorizado em nossa sociedade, às vezes faz um barulho danado.
Ficar em silêncio, curtir a própria companhia, ler um livro, ouvir uma música que toca a alma, meditar, tudo isso só vem quando nós nos permitimos um retiro.
Um momento de afastamento daquela vida cotidiana que, como sabiamente cantou Chico Buarque, é todo dia e sempre igual.
Há momentos em que silenciar é permitir ouvir a própria voz e anseio, com a gritaria que estamos sempre submersos é impossível, de fato, escutar nossas necessidades.
Daí que a natureza, sabiamente, nos deu um corpo preparado para nos falar o momento em que é necessário dá essa trégua, esse falatório compulsivo onde todos nós falamos o tempo todo, mas não dizemos quase nada.
O corpo fala.
Quando você silencia suas dores, tristezas, angústias, aborrecimentos, ele te dá uma cutucada.
Às vezes no quadril, outras no ombro, em outros momentos na cabeça, o corpo vai te lembrando que você não está respeitando a si mesma, seus limites.
Daí conhecemos as doenças psicossomáticas, é aquele sapo que você vem engolindo faz tempo, aquela falta de respeito nas relações que tem aceitado, o choro engolido para se mostrar a forte, os silenciados por um travesseiro e no outro dia o sorriso forçado para que ninguém conheça sua dor.
O silêncio fala, de um modo diferente, mas é bem barulhento.
Para onde vão nossos silêncios, não me refiro aquele que escolhemos, mas o que nos é imposto?
Ele não foi varrido para debaixo do tapete, não adianta dizer deixa pra lá.
Nós, mulheres, conhecemos a potência do silenciamento, desde que nascemos somos ensinadas a nos calar, silenciar.
Silenciar nossas vozes porque falamos demais, silenciar nossos corpos porque eles causam desejo ao outro, calar nossos modos, nossas roupas, jeito de vestir.
Por conhecer o poder do silêncio, valorizamos não só nossa escolha em silenciar, como nossas vozes.
Mas muitas vezes não permitimos essa escuta que, embora pareça corporal, é holística. Os sentimentos se apegam a partes específicas do nosso corpo e tem horas que precisamos desapegar de alguns deles.
O seu silêncio tem te chamado para conversar?
Aquela dor no ombro ou de cabeça foi mau jeito mesmo ou algum alimento que não caiu bem?
E essa dor de estômago? É uma gastrite que precisa ser tratada ou a digestão de um sapo
Considero que chegou o momento de ouvirmos um pouco nossos barulhos silenciosos. O que nosso corpo, intuição, alma, espírito, tem nos dito?
O meu, nesse exato momento, está dizendo que estou cansada e que preciso dormir, que devo encerrar esse texto e deixar por sua conta a escuta.
Aliás, o meu, tem me dito tanta coisa, teimo em não ouvi-lo, teimo em continuar sentindo as dores, não só as cutucadas que dele recebo, mas as que insisto em calar.
E assim silencio a parte em mim que diz que devo parar ou ele me para.
E mais uma vez, silêncio.
Como diria Marisa Monte: silêncio, por favor.