Ando pensando muito sobre o uso das redes sociais. Desde as eleições passadas, quando nos engalfinhamos por conta de nossas escolhas políticas, que ando, às rodas, num caso de amor e ódio com toda forma de exposição virtual e essa ilusão de sociabilidade.
Todos os dias quando entro em qualquer rede social sempre faço o mesmo questionamento, por que ainda uso isso mesmo?
Minha saúde mental tem sido, há exatos cinco anos, o meu objetivo de vida, como diz minha terapeuta, “Viviane, você faz qualquer coisa para ficar bem.”
Ela tem toda razão, tenho passado na vida de algumas pessoas como furacão, abandonei quase todos os barcos onde estava ora com o pé dentro da água ora com o pé fora.
Desfiz amizades, amores, desconfio de quase todas as pessoas, cerquei-me de uma bolha onde as pessoas são solidárias e carinhosas com as diferenças, os fracassos, complexidades e escolhas dos outros.
Sou mais virtual do que real para a maioria das pessoas, algumas me consideram o máximo, outras não gostam de mim pensam que sou uma mulher arrogante, que “se acha demais.”
Aí é que está, se eu te disser que não tenho me achado nada, que ando me procurando faz 37 anos e quando as pistas me fazem acreditar numa proximidade, mais me afasto.
Certezas, aquelas que dizem que quando beiramos os 40 anos virão, balela, estou cercada de dúvidas.
Minhas sobrinhas de 17 e 22 anos possuem mais certezas que eu. Estou cercada de questionamentos, não porque esteja vivendo uma crise existencial, vivi algumas e tenho certeza, bem, olha ela aí, a certeza novamente aparecendo, que logo mais ao dobrar alguma esquina topo com ela me olhando de frente e perguntando “e aí, camarada, é isso mesmo?”
Não sei, não sei se é isso mesmo, não sei se é outro, não sei de nada. Estou me perguntando.
Não tenho certezas sobre a vida, o porquê de escolher isto e não aquilo.
Você está errado quando pensa que eu me acho, talvez com meus vinte e poucos anos eu me achava, sonhava que lá longe, formada, estaria ganhando um salário condizente com meu esforço e estudo.
Sonhava que amaria alguém e que esse amor teria um retorno, que seria uma pessoa, minimamente, realizada na questão amorosa. Desejava a quase ilusão da reciprocidade.
Hoje estou quase pegando você pelo braço, levando para um passeio e interrogando na busca ingênua de respostas que não se darão. Às vezes não há respostas para a angústia latente da velhice, das dores da alma, do corpo, para as perdas, corações quebrados. É só a vida seguindo seu rumo e fluxo.
Feito um rio beirando a margem, por vezes beijando-a com a aproximação e outras vezes arrancando-lhes os galhos e terra com violência.
É a vida passando.
A gente não se acha não, viu? É essa brincadeira de esconde-esconde mesmo, revela, esconde, revela, esconde.
As certezas a gente deixa para quem está rasgando o ventre da mãe e irrompe num choro e para aqueles que na margem oposta respiram pela última vez.
O meio do caminho é incógnita, constante ilusão de conjugação dos verbos achar e descobrir, brincadeira de uma malandra danada que, tais quais as redes sociais que nos enganam com o engodo da aproximação de pessoas, nos ilude com a perspectiva do encontro.
Ainda ando perdida na cartola do mágico procurando um caminho para sair ou como Alice no País das Maravilhas entre o encantamento e estranhamento de um mundo dicotômico equilibrando-se entre a acolhida e a repulsa.
Como Jorge Luis Borges acredito que todos os caminhos levam à morte por isso a necessidade de se perder.
Portanto, quando se referir a mim, sugiro a troca do verbo, diga, ela não se acha, ela se perde.
Ela se perde.
Tem toda razão.