Dando tchau às borboletas.

Esta semana sonhei que borboletas saíam das minhas coxas. Não estavam vivas, mas também não estavam mortas.

Estavam como se estivessem intactas, possuíam uma cor viva, mas não voavam, abria as pernas e elas se despregavam da minha pele, uma de um colorido entre azul e branco, outra amarela e laranja.

Não me causavam espanto, nem incômodo, eu as considerava muito bonitas dentro do meu sonho.

Quando a gente sonha com essas coisas bonitas quer logo verificar o significado, lá vou eu na internet fuçando o que é sonhar com borboletas, significado das borboletas, enfim, queria arrumar um sentido para aquele sonho desprovido de sentido.

Sei que borboletas saíram de mim, da minha pele, das minhas entranhas.

As borboletas não ficam somente no estômago, às vezes, e que bom, elas resolvem ir embora.

Paradas, imóveis, como as minhas no sonho ou voando, mostrando sua graça e beleza ao nos abandonar.

Tão bom quanto a sua chegada é a sua partida.

Quem já teve o coração destroçado pelo amor, ou pelo que acreditou ser ele, sabe como é bom tirar o peso do gostar do coração, como é bom por um ponto final numa história que doeu demais, que nos tirou a paz e que por vezes nos fez implorar a alguma divindade para que aquele sentimento fosse embora. E vai, e foi.

Borboletas não possuem casas fixas, saem por aí polinizando flores e possuem preferência por flores com odores adocicados e de cores vermelha e laranja.

Borboletas precisam enxergar bom lugar para executar o que vieram fazer, ambiente propício. Esse seu estômago aí tem que está atrativo para que elas sobrevivam e queiram ficar.

Quando partem não significa que o ambiente ficou tóxico, mas que chegou a hora de polinizar outras flores, tal qual cupido que hora ou outra muda o alvo e dá descanso para alguns corações cansados, elas também têm o momento certo de voltar para aquela visita.

Aquela em que o ar fica em suspenso, onde o cheiro, o beijo, é o mais doce, aquele momento em que antes de dormir sorrimos porque lembramos o sorriso do outro que está do outro lado, da cama ou da vida.

Mas daí, num determinado dia elas percebem que não faz mais sentido ficar ali no estômago de um determinado ser, percebe que essa pessoa começa a ficar ácida, que as cores, vermelha e laranja estão sendo substituídas por um azul petróleo ou um verde musgo.

Daí, espertas que são, resolvem sair num sonho qualquer da coxa de uma mulher, não saem feias, saem bonitas, não tão cheias de vida, mas também não estão mortas.

Talvez anestesiadas ou cansadas da tentativa de permanecerem vivas num estômago que as forçava a sair.

Amor é assim, minha gente. Tem hora de chegada e tem hora de partida. Nas redes sociais vemos muitos conselhos dizendo “namore alguém que” daí segue-se uma lista enorme.

Como se fosse possível o tempo todo seguir regras dentro de um negócio que é desregrado por natureza. Muitas vezes não conseguimos ver lógica no que sentimos, não entendemos porque gostamos de Zezinho e não de Betinho.

Não há sentindo nessa polinização, na flecha do cupido, não há sentido no cheiro bom do outro ou no riso que te vem à memória vez ou outra.

Tenho a impressão que o amor existe para nos provar como somos tolos e como estamos à mercê da vida e dos projetos dela.

Eduardo e Mônica, música da Legião Urbana, tem toda razão “e quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração”, parece musiquinha clichê para vender disco, mas esses casais improváveis e apaixonados existem.

O amor é uma junção de improbabilidades, borboletas entram e às vezes só passeiam pelo nosso corpo polinizando várias partes, em outras permanecem no estômago e em muitos momentos arrumam uma forma de escapar de um lugar que não é mais delas.

Adoro quando as borboletas chegam, no entanto, aprecio quando resolvem deixar meu estômago vazio e se recuperando para a próxima polinização.

As espero quando meu estômago estiver adocicado e laranja anunciando o nascimento de um novo amor, até breve.