A projeção de gastos da Prefeitura de Marília com a organização de eventos públicos de carnaval rendeu polêmicas nas redes sociais e discussão sobre casos como a contratação de uma empresa para organizar a festa na cidade, que deve custar pouco mais de R$ 100 mil, além dos custos de estrutura: palco, som, artistas, banheiros.
Em tese, qualquer gasto público deveria chamar a atenção do maior número possível de eleitores. Enquanto manifestantes de diversas linhas e envolvimento discutem o caso do carnaval, por exemplo, a Matra debate o que considera um exagero em gastos com moldura e copos de água na Câmara. São gastos do seu, do meu, do nosso dinheiro, todos merecem controle.
Mas as críticas sobre o carnaval, apesar de serem repetidas por alguns importantes críticos e analistas da gestão pública, esbarram em alguns casos velhos de discussão.
As contratações para a o carnaval rendem mais debates do que renderam recentemente os gastos com a festa do IPTU, com show e estruturas mais caras que os prêmios, com um grande palanque político antes do musical e a celebração pública de “dez mil presentes” – sem qualquer divulgação de critério técnico dessa contagem – em meio a quase cem mil contribuintes.
Investir em eventos culturais é obrigação de qualquer administração. Lazer gratuito envolvido com cultura é uma necessidade e os eventos são sempre um alento especialmente à população mais pobre, que não paga para shows particulares e não conta com eventos em bairros, programação efetiva de cultura e formação cultural onde moram.
E parece que este é o maior problema não só no carnaval mas no ano todo: planejamento, diversificação, disseminação de ações culturais, acesso real à cultura o ano todo.
A contratação dos gastos do carnaval chama mais a atenção pelo modelo que pelos valores. A contratação da empresa, por exemplo, é uma medida no mínimo atrasada, a ponto de o edital prever gastos com serviços que já foram feitos pela própria prefeitura.
É possível e necessário discutir esse modelo, discutir a real necessidade da empresa, discutir a eterna centralização e exclusão das iniciativas populares da organização dos eventos.
Com participação das comunidades na organização durante todo o ano, com planejamento, transparência e uma democratização da cultura que ainda não chegou dá para fazer o carnaval, fazer as festas de final de ano, fazer eventos o tempo todo.
Dá para discutir ainda os critérios de escolha para os gastos, como o fato de a prefeitura preferir o carnaval a festas em datas como aniversário da cidade e 7 de setembro, por exmeplo. Bem, aí é discricionário do eleito e o morador pode pensar nisso durante a eleição, cobrar planos concretos de cultura e eventos, o que não acontece, assim como não há participação decente de moradores em audiências sobre gastos, orçamento, plano diretor e demais formas de pensar para onde vai o dinheiro público.
A crítica contra os gastos em si erra. Contra o modelo de eventos e de cultura são sempre salutares e o debate é uma obrigação de todos.