Ela chorou.
Sentou no meio fio e chorou.
Abandonou o carro e chorou.
Ela não aguentava mais o peso da vida.
O peso de ser quem era.
Ela calou.
Calou porque não havia mais nada a ser dito.
Lutou com todas suas forças para manter, para não enlouquecer, para não se entregar.
Não via mais sentido em continuar.
Parou o carro, desceu e tomou um banho de lágrimas.
Lavou corpo e alma.
Soluçava porque seu coração dava trancos e ela precisava colocar para fora.
Ele batia contra sua caixa torácica lembrando que ela era humana e que em algum momento iria confessar a dor.
Ah, ela estava triste. Dessas tristezas incomunicáveis e imperceptíveis.
Dessas que só quem sente conhece sua existência.
Ela sorria, mas sorria só para não ter que explicar a dor.
Explicar que dói, às vezes, faz doer mais. E ela estava cansada de sentir dor.
Ela queria ser corajosa para abandonar tudo, todas suas obrigações, todos os pesos e cobranças.
Sempre quis uma vida mais leve, nunca lhe permitiram.
Ela quebrou, ou quebraram ela.
Estava ali juntando os cacos, tentando colar com a cola do tempo, dizem que ele tudo ajeita ou conserta, ela contava com isso.
Ela estava com o peito cheio, coração pesado e garganta cheia de palavras.
O silêncio que transparecia estava muito barulhento.
Ela gritava enquanto sorria.
Ela morria porque não sabia sentir pouco.
Amava com sofreguidão como quem toma um copo de água depois de ter passado muita sede.
Lamentava por si mesma e por coisas que não a afetavam diretamente.
Ela era sensível demais e o mundo lhe doía.
A água que escorria entre o meio fio e seus pés, levando os restos de uma calçada lavada, mistura de detergentes, folhas, parecia a água que saía de si mesma.
Levando amores, perdas, desenganos e a dor do desrespeito.
Ela se jogou.
Não para a vida, mas da vida.
Ela escorreu junto com as lágrimas e nunca mais voltou.