Um conselho, não silencie suas dores.
Seja a menorzinha ou aquela em que quer gritar. Não silencie.
Já sentiu muita angústia? Peito carregado de dor? Achou que fosse sufocar?
Provavelmente você anda engolindo palavras e não são quaisquer palavras. São aquelas que deixam o coração em desalinho e a boca seca.
Aquelas que são contadas ao travesseiro nas noites insones ou que escorrem junto com a água do chuveiro.
Por que seus olhos estão vermelhos? Ah, caiu shampoo. Por que estão tão inchados? Não dormi direito.
E vamos inventando desculpas para as palavras mortas ou agonizantes na garganta.
E elas agonizam aos gemidos, apodrecem e vão estragando o corpo todo.
A alma é a primeira que sente, a pele perde o viço, as olheiras se tornam aparentes, a vontade de levantar da cama é inexistente.
Palavras pesam, palavras não ditas, são como chumbo.
Como bigornas carregadas em cada uma das pernas.
E palavras não existem para serem elaboradas mentalmente e sofrer uma censura da boca.
Outro conselho, tenha coragem.
Coragem para assumir o que as palavras transmitem, o que podem desencadear e como podem transformar.
Para transmitir suas fraquezas, fragilidades, ambiguidades, defeitos e aquelas características que os seres humanos não costumam apreciar.
Coragem para assumir para uma, ou várias pessoas, quem você é, o que acredita, suas causas.
Coragem para desdizer o que pensava há um dia atrás, pedir desculpas, manifestar que o outro magoou.
Coragem para não se repetir só porque as pessoas consideram que as outras são estanques.
Palavras nem sempre saem na roupagem que esperamos ou como o outro espera.
Você não é um silenciador, tal qual vem embutido em carros e armas.
Não existe para abafar ruídos, suprimir as vozes.
Não engula palavras, são indigestas, se acumulam na garganta e fazem morada no coração.
Não engula silêncios obrigatórios, choros sufocados e a vontade de liberdade.
Não silencie suas dores, elas te acordarão de madrugada, minguarão teu apetite.
Não subestime o silêncio,porque além de poderoso, ele possui suas próprias vozes.
E se você não fala, ele falará por você.
Pergunte ao travesseiro, ao chuveiro, a sua cama, ao seu corpo. Eles conhecem bem a linguagem das palavras não ditas.
Pergunte ao silêncio.