Uma morte, sete homicídios tentados, rajadas contra residências, formação de quadrilha, disputa pelo comando do tráfico de drogas na zona sul de Marília.
É esse o enredo de um conjunto de processos produzidos pela Guerra do Tráfico de Marília, que deve chegar ao Tribunal do Júri com 31 acusados e julgamentos fora da cidade.
O processo central, em que figura como principal acusado Alex Amarildo de Oliveira, o Rico, foi encaminhado para o Tribunal de Justiça para que seja decidido um pedido de desaforamento, ou seja, mudança do julgamento para outra cidade.
Caberá ao Tribunal decidir em que comarca em um raio provável de até cem quilômetros de distância a Guerra do Tráfico será julgada por sete pessoas daquela comunidade.
Os casos tratam de uma disputa por pontos de vendas e distribuição de drogas em diferentes bairros da zona sul, uma região de perfil popular e crescimento acelerado a partir do bairro Nova Marília.
Em 2011 uma série de crimes na disputa pelo controle envolveu dois grupos, que aparecem nos processos como gangues, quadrilhas, bandos e facções.
O desaforamento é uma medida prevista no Código de Processo Penal e adotada nas situações em que sejam ameaçadas a ordem pública, a garantia de imparcialidade dos jurados e segurança dos próprios envolvidos.
Indiscutível que qualquer morador de Marília possa sentir-se intimidado para julgar acusados de crimes em que sentenças judiciais destacam previsível medo das vítimas em falar dos acusados. Medo que foi sentimento comum para moradores das zonas sul e oeste durante os meses em que tiroteios se repetiram em madrugadas nos diferentes bairros dos crimes.
Alex Amarildo, o Rico, principal acusado nos processos que apontam disputa de facções – Reprodução/Jornal da Manhã
Rico está denunciado por comandar, participar ou orientar 12 casos de crimes que envolvem de um homicídio consumado aos sete tentados e outros delitos.
As vítimas eram geralmente apontadas como integrantes de outro grupo criminoso, que seria comandado por Edson dos Santos da Silva, o Dinho, também denunciado em um processo à parte e que deve ter igualmente um julgamento popular fora de Marília.
Mais de cem páginas de relatório policial, 75 páginas de transcrições de escutas telefônicas, dois policiais – um civil e um militar – acusados de colaboração com o grupo de Rico e 26 páginas da decisão do juiz Angel Tomas Castroviejo que considerou o processo preparado para o julgamento popular são alguns dos documentos desta trama.
Os principais acusados estão presos e respondem ainda a outros processos criminais. Familiares, amigos e apoiadores figuram na extensa lista dos denunciados.
Apreensões de drogas repetidas pela polícia mostram que o fim da guerra passou longe de ser o fim do tráfico, como no mais acontece em todas as cidades de médio e grande porte do país.
Mas a guerra das facções caminha para uma resposta oficial da sociedade, finalmente. Será histórica, digna de Hollywood, com situações em que a realidade supera a ficção, e pela decisão de pessoas comuns, na mais democrática forma de julgamento: o Júri Popular.
Mas Marília, que viu e ouviu a guerra explodir, não vai assistir a esse julgamento.