Marília

Especialista da Unimar dá dicas para saúde mental de idosos no isolamento

Especialista da Unimar dá dicas para saúde mental de idosos no isolamento

Saúde física está ok, isolamento está ok, mas como fica o cuidado com a saúde mental e condição psicológica de idosos em tempos de isolamento? Segundo a psicóloga e professora da Unimar Adriana Cirino, diferentes medidas dos próprio isolados, famílias e amigos podem ajudar.

“De repente virei idoso, vigiado e preso! Eu que criei meus filhos, netos sou visto como frágil e vulnerável. Não posso mais pagar as contas, ir ao banco, nem fazer a feira. Não posso nada. Essa foi a fala de sr. José 62 anos que procurou um serviço de psicologia on-line. Há pessoas muito ativas e saudáveis como o sr José, outras que mesmo com algumas limitações ainda mantem uma convivência familiar e atividades motoras e laborais preservadas.”

Adriana destaca que a situação de afastamento, perda de rotina e atividades são acompanhadas por diferentes fases e é importante cuidar e dar atenção a todas, cumprir o processo para que haja aceitação mais confortável.

Em tempos de isolamento, ocorre a ruptura das relações sociais e da sensação de que algo bom foi tirado dos nossos idosos. Mesmo que para proteção, isso pode ser sentido como uma ameaça aquilo que os traz prazer e alegria a vida.

“Kuber Ross, psicóloga, diz que em situações de perda, adoecimento, privação e luto, nossa mente passa por fases que nos ajudam a chegar a aceitação da realidade. Diante do impacto da uma notícia sentida como ruim, a mente entende que algo a ameaça e aciona mecanismos protetores”, conta.

Ela detalha as quatro fases

– Negar o perigo
“Não é bem assim, as pessoas estão exagerando, isso está acontecendo só com os outros… Depois MININIMIZANDO: “é só um resfriadinho, o povo exagera. Ou damos uma dimensão maior do que é: “Agora o mundo acaba! Vamos nos proteger, correr para o mercado e fazer provisão”.

– Raiva
Atenção filhos de pais idosos, ela precisa aparecer! É esperado que as pessoas sintam raiva quando estão privadas de algo prazeroso e necessário que ela se manifeste de alguma forma.  Caso isso não ocorra, a pessoa pode adoecer. Assim como ficar só na raiva e na revolta, por muito tempo.


– Barganha
“Se eu ficar em casa quietinho, vai dar tudo certo” ou “se eu sarar dessa gripe nunca mais vou ficar em lugares aglomerados”. Ou um pensamento mágico: “eu não pego isso não, já tomei tanta vitamina na minha vida”. Defesas onipotentes… Sou imbatível.

– Depressão
Caso a pessoa venha a contrair uma gripe, comum… ou algo que o valha… surge a culpa. Manifestada  “por que eu não fiquei em casa… bem que me avisaram… porque isso está acontecendo comigo… a tristeza aparece. A depressão que aqui a autora se refere, não é o transtorno depressivo, a doença. Mas um estado emocional de rebaixamento do humor.

“Quando a pessoa consegue passar por essas fases e ir para a ACEITAÇÃO da realidade temos a possibilidade de lidar e de enfrentar o perigo com sensatez e força. As ideias e os recursos para sair da situação aparecem e quando possível trazem aprendizado e criatividade. “

Segundo a psicóloga, a função dos filhos e dos familiares é acolher o outro. Permitir e compreender que leva se um tempo para que novas adaptações ocorram. Colocar-se no lugar do outro, empaticamente e ajudá-lo a compreender o que está acontecendo, com calma, sem acusações ou terrorismos.

“O problema não é sentir. O problema é paralisar em uma das etapas. Ficar só negando ou ficar só na tristeza não ajuda a aceitação e a superação. “

Adriana Cirino destaca que se os filhos e familiares puderem ter paciência com os pais ajudá-los a compreender que esse momento de isolamento social é temporário e todos poderemos retomar as vidas com saúde, será um grande e valioso ganho para todos.

“Idosos, pessoas com mais experiência, por quantas situações de privação ao longo da vida vocês já passaram? Parem e pensem… Como saíram dessas situações? Como enfrentaram? Como imaginam que seus filhos estão se sentindo diante da situação atual? Já perguntaram para eles? Lembram-se dos seus pais quando eram idosos? Quais eram suas preocupações com eles?”

Ela também dá dicas que vão  muito além de uma lista de atividades que cada família pode inventar.

“Lembram-se como era ruim sentir-se café com leite na brincadeira? Então, agora é a hora de telefonar mais para eles, de (re)conhecer as habilidades dos pais e reforçá-las. “

– A mãe cozinha bem? Aproveite para trocarem receitas!

– O pai troca lâmpadas, concerta o ferro, faz churrasco? Aprendam com a experiência deles!

– Maridos e esposas, se ele ia para a praça jogar dominó, já pensou em jogar em casa com ele?

– Marido, já pensou em assistir um filme com sua esposa? Há quanto tempo não fazem isso?

– Já ligaram para os netos hoje? Filhos, vocês conversam com seus pais hoje? Sobre o que?  Ouçam suas histórias, valorizem o que eles estão vivendo, sentindo e valorizem o potencial deles!