O teleatendimento médico ou telemedicina não são exatamente novidade, mas desde a confirmação dos primeiros casos de infecções por coronavírus no Brasil – e consequentemente a urgência por afastamento social – as práticas ganharam um significado mais presente: o momento em que uma parcela maior de pessoas precisa de atendimentos médicos coincide com a situação cuja orientação é não sair de casa.
A prática foi autorizada em março, em caráter excepcional pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) enquanto durar a pandemia de Covid-19. Além disso, ferramentas como o teleisolamento e a teleinterconsulta – ou seja, a troca de informações entre médicos – também foram liberadas e aconselhadas pelo órgão.
Assim, as orientações médicas à distância se tornaram populares e permitidas no Brasil. Muito além de casos suspeitos de Covid-19 – que em situações com sintomas graves devem ser encaminhados a uma unidade de saúde – as consultas por chamada de vídeo, plataformas especializadas ou telefone atendem demandas diversas.
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De acordo com Felipe Folco, diretor médico da rede de clínicas populares Cia da Consulta, a empresa oferece teleconsultas de médicos com especialidades em psiquiatria, pneumologia, infectologia, dermatologia, pediatria, entre outras. Segundo Folco, o serviço já era uma possibilidade antes mesmo da pandemia.
“aceleramos o projeto de telemedicina que estava aguardando a regulamentação pelo conselho federal de medicina. Como o Ministério da Saúde e o CFM definiram regras para a telemedicina estruturamos um time de TI, operações e uma equipe médica para iniciar o atendimento”, explica.
Ainda segundo Folco, a alternativa “garante a estabilidade das condições crônicas e orientação e tratamento de condições agudas, já que cerca de 80% das demanda costuma se resolver sem a necessidade do encaminhamento para uma consulta presencial”, além de favorecer o isolamento social, reduzindo a exposição de pessoas em situação de risco e circulação de pessoas na cidade.
Apesar de providencial, telemedicina ainda esbarra em dificuldades
Embora procedimentos como emissão de receitas médicas, acompanhamento rotineiro e emissão de atestados para afastamento de atividades – principalmente em casos de suspeita de Covid-19 – algumas atividades da prática médica podem ser prejudicadas pela falta de proximidade física.
“Algumas consultas necessitam de um atendimento clínico composto não apenas da história do paciente, mas também do exame físico. Esse exame é muito difícil de ser executado por teleatendimento, sobretudo porque além de enxergar a lesão precisamos também apalpá-la”, explica a médica e professora de cosmiatria Ana Carolina Rocha.
Além disso, ela pontua que “outro malefício é a desvalorização do médico e de seus serviços por parte das grandes corporações, que podem vir a explorá-lo e tentar automatizar os atendimentos médicos por teleconsultas”, diz.
Por último, a falta de aparelhos especializados de medição e pesagem, como balanças, termômetros confiáveis e aparelhos para medir pressão arterial também podem fazer falta em alguns casos, o que reforça a lembrança de – nos moldes atuais – a telemedicina é uma prática emergencial.
Hospitais em São Paulo vão usar teleatendimento em UTI
Em São Paulo, um projeto lançado na última semana busca otimizar o atendimento dos pacientes de UTI por complicações do Covid-19. De acordo com o governador João Doria, um protocolo unificado de teleconsulta para Unidade de Terapia Intensiva, apelidada de ” TeleUTI “, será instituído em mais de 100 hospitais do estado.
A ação foi desenvolvida pelo Incor, instituto referência ligado ao Hospital das Clínicas. O protocolo, que conta com plataformas de teleatendimento com base nos hospitais, funciona com uma espécie de mentoria. “Todos os dias, nós vamos ver esses pacientes, assistir esses pacientes e fazer sugestões de como ele deve ser conduzido”, explicou o professor Carlos Carvalho, que coordena a ação.