Janete.

Joaquim esperava que ela fosse quente e sensual, como uma boa amante, e dócil e servil como uma boa mulher.

Sua mãe desejava que fosse obediente, podia engordar, mas não muito, podia ser magra, mas não tanto, porque, segundo ela, ” parecia uma doente”.

Suas amigas a queriam presente, não grudenta, que desse espaço para respirar e respeitasse a intimidade. Embora, não podia ficar tão distante, afinal, que amiga é essa que sempre some?

Nas redes sociais desejavam que ela fosse bonita, pele impecável, bem maquiada, sobrancelha feita, corpo trabalhado num crossfit ou numa academia.

Mas ela  tinha que ser inteligente, entendesse de política, literatura, música clássica, arte, dança contemporânea.

Janete já não sabia mais como se configurar para agradar tantos interesses diferentes.

Ela era muito bonita, não tinha grana para bancar tratamentos estéticos, pagar um personal, mas reconhecia sua beleza singular e peculiar.

Era inteligente, só não entendia como as pessoas mediam a inteligência das outras e qual era seu lugar nisso.

Janete sabia que podia ter inúmeras características sem, necessariamente, se encaixar em uma.

E não se encaixava.

Contaram-me que, certo dia, Janete vestiu-se dela mesma, abandonou Joaquim,  desobedeceu sua  mãe,  cansou de suas amigas e excluiu suas redes sociais.

Não a conheço, dizem as más línguas que ela engordou, mas que agora emagreceu.

Não aparece com homem nenhum e estão achando até que ela gosta de mulher.

Vi Janete numa festa esses dias, pareceu-me feliz, alheia a todas más línguas e cuidadores de sua vida.

Estava fazendo o que sempre tentaram lhe roubar, sendo ela mesma e vivendo.

Ela sabe que continuam tentando rotular sua vivência.

Mas Janete não se importa, vive.