Um grupo formado por 29 instituições financeiras de todo o mundo assinou carta direcionada ao governo brasileiro exigindo redução do crescente desmatamento na Amazônia e ameaçando deixar de investir no País, de acordo com informações publicadas pelo jornal britânico Financial Times nesta terça-feira (23).
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Segundo a reportagem, os investidores acreditam que a continuidade das práticas de destruição da Amazônia criam “incerteza generalizada sobre as condições para investir ou fornecer serviços financeiros ao Brasil”. Além do Brasil, toda a América Latina poderia ser afetada pela saída do grupo de investidores, que gerencia mais de US$ 3,7 trilhões.
“Como instituições financeiras, que têm o dever fiduciário de agir no melhor interesse de longo prazo de nossos beneficiários, reconhecemos o papel crucial que as florestas tropicais desempenham no combate às mudanças climáticas, protegendo a biodiversidade e assegurando serviços ecossistêmicos”, diz trecho da carta enviada ao governo de Jair Bolsonaro .
“Considerando o aumento das taxas de desmatamento no Brasil, estamos preocupados com o fato de as empresas expostas a desmatamento potencial em suas operações e cadeias de suprimentos no Brasil enfrentarem uma dificuldade crescente de acessar os mercados internacionais. Também é provável que os títulos soberanos brasileiros sejam considerados de alto risco se o desmatamento continuar”, avaliam os investidores.
O Financial Times ressaltou ainda que a alta do desmatamento no Brasil é uma tendência desde o início do governo Bolsonaro e que o tema já é recorrente preocupação. Segundo o jornal, o presidente apoiaria a abertura das terras protegidas à atividade comercial, e que normalmente elas seriam convertidas em pasto para criar gado .
Além de Bolsonaro, outro representante do governo também é citado nominalmente como “inimigo” da Amazônia: Ricardo Salles , ministro do Meio Ambiente. A reportagem cita o trecho do vídeo da reunião ministerial que foi divulgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em que Salles sugere mudar regras ambientais sem alarde aproveitando que a imprensa está tratando majoritariamente da pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2). O ministro fala em “passar a boiada” e aprovar medidas que sofreriam maior resistência não fosse a pandemia e poderiam, inclusive, ser questionadas pela Justiça.
Casos recentes de boicotes ao Brasil e outras ameaças de deixar o País também são citados pela carta, que conta com o precedente prático da rejeição do acordo entre União Europeia e Mercosul por parte da Holanda. No início deste mês, o parlamento holandês rejeitou a parceria justamente por conta da Amazônia, citando a possibilidade do acordo aumentar ainda mais a destruição da floresta.