Marília

Daniel embalou, mas derrapa no discurso

Daniel embalou, mas derrapa no discurso

O prefeito Daniel Alonso transformou a retomada das atividades essenciais em sua guerra santa. Desde que passou a enfrentar abertamente o governo do Estado, ganhou visibilidade, popularidade e engoliu o discurso da oposição, que perdeu o fôlego em momento de ascensão nos ataques à administração.

Mas Daniel embalou demais sem controle e no meio disso começou a derrapar. É óbvio que boa parte de sua atuação e decisões têm objetivo eleitoral. E 100% de seu discurso. Nisso seu maior deslize.

Não se trata aqui, diga-se logo, de ser contra ou favor das medidas. Mas de entender que nas omissões e nas falhas Daniel cria margens para as discussões judiciais, cria situações de desinformação e insegurança jurídica.

A indispensável retomada da atividade econômica precisa cada vez mais de embasamento técnico e qualidade de normas.

No esforço para parecer eficiente demais, o prefeito atropela medidas administrativas importantes, como as regras específicas para suas medidas políticas, atropela a verdade em alguns e dá margem para questionamentos técnicos que poderia evitar com um pouco mais de cuidados.

Atropelou uma regra básica: o agente público só pode fazer o que a lei manda. E deixou sua nova lei sem várias regras complementares. O discurso oficial é bonito mas não tem força de lei.


Daniel mente sobre obedecer ao Plano São Paulo. O plano o manda seguir a faixa laranja. Ele não segue e pronto. Sob o ponto de vista de aprovação popular e até das necessidades da cidade ele pode estar certo, mas não está certo no discurso e com certeza não está certo nas regras estaduais.

Diz que não está fazendo “reclassificação”, mas “adaptações funcionais”. Em que ponto das regras estaduais achou brecha para isso? Qual a parte das várias decisões judiciais dizendo que a prefeitura não pode reduzir as restrições, só ampliar, ele não entendeu? Assumir o enfrentamento com mais dados técnicos, dados da economia, questionamentos técnicos das falhas do Plano São Paulo fariam mais pelas empresas e trabalhadores que essa mentira repetida.

Daniel mente sobre números da cidade na epidemia. Diz que com o aumento dos testes a cidade tem “a menor letalidade do Estado”. Uma sandice desnecessária. Os próprios números divulgados por Daniel no seu ranking da epidemia mostram que pelo menos duas cidades que ele acompanha – Araraquara e Bauru – têm índices menores.

O Plano São Paulo têm falhas e muitos questionamentos. O governador usa politicamente de forma absurda, faz oba-oba com prefeitos amigos, faz promoção pessoal de candidatos. O caminho ideal para o questionamento não seria o falatório.

O discurso de enfrentamento em Marília pode dar a reeleição a Daniel. Mas não mostra um grande líder que os momentos de crise exigem.