Cada pessoa infectada com o novo coronavírus (Sars-Cov-2) no Brasil contaminou, em média, outras três com a doença entre 25 de fevereiro e 31 de maio. O dado é de uma pesquisa publicada pela revista científica “Nature Human Behaviour”, do grupo “Nature”, nesta sexta-feira (31).
A pesquisa conduzida por cientistas do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP, da Universidade de Oxford e do Imperial College de Londres descreve características da Covid-19 no Brasil .
No Brasil mais de 90 mil pessoas já morreram com Covid-19 , o país tem a maior taxa de transmissão quando comparado a França, Espanha, Reino Unido e Itália, nações que apresentam um R0 médio de 2,5 e 2,6 (uma pessoa infectada contamina entre 2 ou 3 outras). Na prática, cientistas afirmam que os índices do Brasil podem se aproximar dos europeus.
R0 é o índice que mede a capacidade de uma pessoa contaminada infectar outra. Para que seja possível conter a transmissão, esse número precisa estar abaixo de 1, de forma que uma pessoa doente não contamine outra.
MAIS DINHEIRO, MAIS DIAGNÓSTICOS
Foi identificado nos estudos uma relação direta entre maior renda e mais diagnósticos para o novo coronavírus . “Nossos dados descobrem um viés socioeconômico nos testes e diagnósticos nas diretrizes de vigilância atuais e sugerem que o número de casos confirmados relatados pode subestimar substancialmente o número de casos na população em geral, particularmente em regiões de menor nível socioeconômico”, afirmaram os cientistas.
Segundo o estudo, a falta de acesso igualitário aos testes de Covid-19 são um dos fatores que levaram a doença a se disseminar e ser sustentada tão rápido no país.
“As diferenças socioeconômicas estão associadas ao acesso aos cuidados de saúde e devem ser levadas em consideração ao projetar intervenções direcionadas”, afirmam.
Observa-se que casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), de causa desconhecida e uma das principais consequências da Covid-19 , foram mais comuns entra a população com menor nível socioeconômico. “Conforme bases clínicas e epidemiológicas, é provável que muitos casos de SRAG com causa (etiologia) desconhecida sejam causados por Sars-CoV-2”, alertaram os autores do estudo.
PERIGO NO AR
O estudo publicado na Nature Human Behaviour detectou ainda outros oito vírus respiratórios, além do Sars-Cov-2 , circulando pelo Brasil entre fevereiro e maio. Entre eles, os da Influenza A e B e o rinovírus, que causam gripe e resfriado comum, respectivamente.
No fim, os dados mostram a necessidade de aumentar a triagem laboratorial e molecular de vírus respiratórios nos laboratórios públicos do país. “Nossos resultados fornecem novas percepções sobre a epidemia brasileira de Covid-19 e destacam o alto potencial de transmissão do Sars-CoV-2 no país, o papel de seus grandes centros urbanos e a falta de lockdown “, concluem.