Marília

Eleições – Saiba mais sobre Nayara Mazini, pré-candidata do PSOL à prefeitura

Eleições – Saiba mais sobre Nayara Mazini, pré-candidata do PSOL à prefeitura

O Giro Marília inicia neste domingo uma série de publicações com entrevistas a pré-candidatos já identificados e potenciais candidatos a prefeito em Marília. A primeira série envolveu convite para os pré-candidatos Daniel Alonso (PSDB), Abelardo Camarinha (Podemos), Marcos Juliano (PRTB) e Nayara Mazini (PSOL). Daniel e Camarinha não responderam aos questinários enviados pelo Giro.

A enfermeira Nayara Mazini, ativista social e servidora pública, é a primeira mulher indicada pré-candidata à Prefeitura de Marília. Mãe de dois filhos, ela fala sobre a expectativa, sua atuação político, vínculo partidário, temas municipais e vida pessoal. Conheça mais sobre a pré-candidata.

1) Mulher, servidora pública do Estado e em um partido de esquerda. Como é ser pré-candidata nestas situações em uma cidade historicamente conservadora nas votações?

Nayara Mazzini – Marília traz consigo uma homenagem à mulher em seu nome, cidade que já teve em sua história toda uma concretude progressista e reconhecimento por isso. Numa análise longitudinal, percebemos que há tempos vem perdendo visibilidade, notoriedade e mesmo credibilidade política, dominada por grupos de interesses, setores oligárquicos comandados pelos mesmos homens de sempre, que controlam o poder econômico e político local.

Ser pré candidata a Prefeita numa cidade que historicamente teve como agentes políticos homens, em sua grande maioria branca pertencente a partidos de direita é uma tarefa de grande responsabilidade e motivo de muito orgulho.

As eleições municipais de anos anteriores foram disputadas entre a falsa polarização do grupo dos empresários versus o grupo dos políticos profissionais, sem qualquer compromisso com as demandas dos trabalhadores levando a população a acreditar, confiar, induzindo ao erro da falsa renovação.

Fui procurada por diversos partidos, inclusive da direita. Entretanto, ao refletir sobre as causas e valores que represento, toda esta associação de pré-candidatura de Mulher trabalhadora e ativista pelas causa sociais só é possível ocorrer num partido de esquerda. São os partidos de esquerda que efetivamente expressam e consolidam os anseios de milhares de trabalhadoras e trabalhadores de nossa cidade, bem como as necessidades da população e situações de vulnerabilidades negligenciadas.

Estou num partido jovem, aguerrido, o único em que mulheres e homens têm paridade no Congresso Nacional, com pessoas que o constroem pelas bases, gente como a gente, de todas as cores, de todas as escolhas, realmente democrático, no sentido popular do termo. Um partido limpo, não contaminado por escândalos de corrupção, que quer fazer diferente, governar para a gente, o nosso povo.

O povo mariliense clama por mudanças reais e efetivas. Até então houve uma ausência de alternativa política que realmente expressasse as possibilidades de mudança efetiva na qualidade de vida das pessoas.

Eu compreendo esta oportunidade como uma construção não de cunho individual, mas coletivo, pois quando uma Mulher, Mãe atípica, Trabalhadora da área da Saúde se coloca numa posição como esta, ela carrega consigo toda uma carga de experiências, vivências, ideias, princípios, lutas de coletivos, realidades da sociedade civil organizada, de trabalhadoras e trabalhadores. Tenho a convicção que nenhum dos que já se colocaram como pré-candidatos nesta cidade conseguiram ou conseguirão expressar tamanho contexto.

Não é a toa que sou a primeira Mulher pré-candidata à Prefeitura da história da cidade. Assim, coloco-me como verdadeira alternativa a tudo o que historicamente foi posto e imposto a nós marilienses!

2) A epidemia une discussão de saúde e economia. Será a pauta da eleição neste ano?

N.M. – Sem dúvida, uma das questões centrais, até pelos ataques aos direitos sociais.

O SUS até então surrado, sucateado, desvalorizado e com orçamento congelado por vinte anos tornou-se a grande “tábua de salvação” para todos. Quero acreditar que mesmo aqueles, que até então eram a favor da privatização e terceirização da saúde, tenham realizado ao menos uma breve reflexão e revisto suas concepções.

O SUS é o maior e mais complexo sistema de saúde no mundo, uma conquista da luta dos trabalhadores que emerge durante a reivindicação da democracia e é instituído por nossa Constituição Federal.

O SUS é um direito social! Preza em seus princípios pela equidade, integralidade e universalidade, garantindo a gratuidade do acesso, com políticas públicas amplas desenvolvidas por meio de ações e serviços que propiciam desde a promoção e prevenção em saúde até os cuidados mais complexos como, por exemplo, o transplante de órgãos. O SUS está continuamente em construção.

Quem não defende o SUS negligencia a própria vida e daqueles que ama, pois, é o SUS quem garante a qualidade dos alimentos que consumimos, as boas práticas na produção de medicamentos, insumos e equipamentos de saúde, desenvolve vacinas, tecnologias e combate epidemias, controla a qualidade da água que ingerimos, proporciona a quem precisa medicamentos de alto custo entre outros.

Feitas estas considerações, é válido ressaltar a falsa oposição entre saúde e economia intencionalmente articulada por quem sustenta todo um mecanismo de supressão de direitos, inclusive os trabalhistas e principalmente a inviabilização do direito à vida.

Pelo contrário, diante de tal visão monocromática, desintegrada e genocida da pandemia, há que se cuidar das pessoas, para se ter um bom desempenho econômico. Sem trabalhadores saudáveis, não apenas fisicamente, mas também psiquicamente, os negócios vão mal, as pessoas não compram, não há investimentos que se resguardam, como podem, para tentar enfrentar a crise.

Esse impasse e falta de comando correto, que ora flexibiliza e depois tem de restringir as atividades, arrasta mais e mais a crise sanitária e agrava a crise econômica. É preciso racionalidade, encarar o problema de frente, valorizar a vida, as pessoas, como aliás a maior parte dos países desenvolvidos fez.

Numa gestão responsável, diante da precarização do SUS frente à carência orçamentária, aconteceria a busca por recursos, antecipação de ações preventivas, a ampliação da capacidade de produção da assistência e instalação de serviços, dado o estado de exceção.

Entretanto, o que vimos foi a encenação de egos e da disputa pelo poder, o distanciamento reincidente do olhar da gestão pública para as reais e prementes necessidades da população, de tudo aquilo que compõe a existência humana.

A pandemia não será extinta tão brevemente. Penso que o maior desafio neste momento é a disposição, a disponibilidade e coragem de pôr em prática o certo a se fazer, ou seja, agir em defesa da Vida.

3) Em que medida a inovação de sua candidatura pode mudar o debate eleitoral na cidade?

N.M. – Com o anúncio de minha pré-candidatura de pronto foi notória a movimentação dos demais pré-candidatos em relação às pautas que defendo, com uma preocupação maior em compor suas candidaturas e/ou propostas abarcando as questões relativas às mulheres e à saúde. Percebi que houve um certo incômodo, visto a repercussão gerada por minha “ousadia”.

A intencionalidade de minha participação política institucional vem do meu crescente e persistente ativismo na participação política social, evidenciado por minha plena exerção de cidadania, transitando pelos diversos espaços na luta por direitos.

Digo sempre que minhas maiores inspirações são meus filhos. Como toda mãe, é para eles que desejo e luto por um mundo melhor, mais inclusivo, digno e humanizado. E esse mundo melhor é aqui, na cidade que escolhi para constituir minha família, o meu viver.

São principalmente com as próximas gerações que tenho o grande compromisso de vida, em deixar minhas contribuições para que este futuro esperançado seja possível, sem utopias ou demagogias.

Toda a minha formação profissional, minha experiência de interrelações nas diferentes instâncias e minhas vivências como mãe de uma criança especial perfazendo percursos de dificuldades, de inúmeros “nãos”, das portas fechadas e os diversos graus de complexidade, me impelem propor de fato pautas diferenciadas, sensíveis a toda forma de sofrimento humano.

Defendo a primazia da implementação de políticas públicas partindo da construção coletiva, na perspectiva horizontal-democrática, atenta para as fragilidades, singularidades e subjetividades que fazem parte da existência de cada indivíduo.

Trago a representatividade das lutas das mulheres, da quebra de paradigmas, preconceitos, discriminação, estigmas e tabus, um olhar diferenciado para a saúde mental e o capacitismo. Trago nas premissas da eficácia, eficiência, sustentabilidade e otimização de recursos minhas retóricas para o enfrentamento do próximo quadriênio, com gestão das demandas de crise e valorização das pessoas, ou seja, a ressignificação do atual modelo de governança perversamente excludente, que não conversa com as discrepâncias sociais e não atende às emergentes transformações que progressivamente vêm ocorrendo, causando grande desamparo à sociedade.

Faremos a nossa campanha popular, com a escolha e compromisso pelas pessoas, pela dignidade e humanização, pela vida e não pelos lucros, muito diferente do que nós, marilienses, temos visto nas práticas dos grupos políticos tradicionais, que ainda dominam por aqui.

Se, com nossas ideias e propostas, conseguirmos contribuir para que se avance a consciência política das pessoas e melhore o nível do debate público, já teremos minimamente cumprido um papel essencial para este momento.

Ganhar as eleições deve ter o significado de consequência pelo nosso trabalho, apresentando nossos valores, compromissos e nossas propostas com todo afinco que nos é natural.

Ser eleita será uma consequência do reconhecimento de nossa população, espelho do encontro de tudo o que sou capaz e competente para acolher, representar e pôr em prática com a excelência necessária, por nós.

4) Além das questões ideológicas com um eleitorado identificado com o governo federal de direita, como vê a candidatura na discussão de experiência, capacidade de gestão e articulação política?

N.M. – As eleições de 2018 trouxeram à tona diversos sentimentos, concepções e vertentes do eleitorado, desde o medo, a insegurança política, esperança de tempos diferentes, falta de um representante legítimo que expressasse nossos anseios, até as questões mais profundas, íntimas de cada um de nós brasileiros. O resultado foi uma polarização despolitizada generalizada, extremista, destrutiva e devastadora. Todos nós passamos por este processo de diagramação política, cada qual dentro de seu contexto.

Na esfera municipal, mesmo com todo alinhamento mariliense com o cunho mais conservador, é inegável que Marília vem perdendo muito politicamente nos últimos tempos. Há um rebaixamento, submissão, ausência de criatividade e articulação política, falta de compromisso com a população e cumprimento do próprio plano de governo, eleito pela sociedade.

É necessário mostrar a que se vem!

Eu venho para trazer conceitos apropriados que proporcionarão inovação e criatividade à governança pública, colocando Marília noutro patamar, comprometida com sua população e desenvolvimento potencial, ocupando o lugar que merece no cenário nacional.

Meu modelo de planejamento estratégico situacional e operacional será direcionado para a construção coletiva de uma Marília altiva, com os pés assentados no presente e mãos operosas trabalhando, voltadas para um futuro promissor.

Não é raro questionarem a nós Mulheres quanto nossa experiência, capacidade e desenvoltura, principalmente quando nos colocamos na política institucional, um cenário que nos é habitualmente hostil e violento.

Tais questionamentos habitualmente não seriam feitos a um homem. Me atrevo em dizer que se quer olhariam com tamanha apreensão seu currículo ou sua história de vida, nem mesmo o contexto social no qual se insere ou o que já fez pela sociedade mariliense, mas se satisfariam com suas propostas registradas, na maioria das vezes escritas por terceiros.

Talvez um tanto de minha trajetória profissional elucide sobre tais questões que imprescindivelmente a princípio estão ligadas às questões de gênero, ou seja, pelo simples fato de ser uma mulher.

Mas, para além de meu ser mulher, é interessante o conhecimento de minha trajetória de vida para explicar minha coragem, minha ousadia, meu atrevimento ou qualquer outro nome que se deseje dar à minha iniciativa em me propor a ocupar um espaço endereçado até então a homens, bem como a legitimação pelo partido de minha propositura.

Pois bem, farei pormenorizadamente as honrarias no decorrer das publicações a meu respeito, bem como indico consultas ao meu Currículo Lattes e meu perfil do Facebook.

5) Sua candidatura pode dar visibilidade também a causas comunitárias que vão do cannabidiol à organização de representatividade nos bairros. Como você vê a inserção destes temas na cidade neste momento?

N.M. – A pandemia trouxe um novo status quo que mobilizou muita gente diante do desastroso e contínuo desfecho para os mais vulneráveis.

Pessoas se conheceram, novas entidades surgiram e o mais belo no ser humano sobreveio com a empatia, a compaixão e a união por um bem maior, a Vida!

Iniciei muito cedo meu trabalho voluntário, em minha adolescência, em Lucélia onde nasci, por meio de atividades da igreja como catequese, atuação em pastorais, participei de grupos e ministérios vocacionados à oração pela palavra e pela música, ajudei em muitas atividades festivas e em campanhas de arrecadação para a Santa Casa da cidade.

Após a faculdade, vim para Marília cidade em que sempre desejei morar e para onde vinha desde criança todo mês para visitar meus avós, tios e primos maternos. Aqui comecei ajudando na arrecadação de roupas e alimentos para famílias necessitadas.

Com o nascimento de minha filha, criança com múltiplas deficiências, sentindo na pele todas as dificuldades e me aproximando da dura e triste realidade de outras famílias, fiz parte da fundação de uma rede de apoio inicialmente constituída por pais de crianças especiais que hoje desenvolve um relevante trabalho em nossa cidade dando voz às pessoas com deficiência e lutando por seus direitos.

Com a evolução do quadro de Epilepsia de minha filhinha, percorri todos os caminhos terapêuticos tentando controlar as convulsões até restar uma última opção, o uso compassivo da Cannabis Medicinal. Nesta fase eu trabalhava com políticas públicas de saúde mental, atuava como Articuladora de Saúde Mental assessorando os 62 municípios de nossa referência regional tanto nas demandas de neurologia, psiquiatria como no uso abusivo de drogas e dependência química.

Para ajudar minha filha, tive que ressignificar tudo o que aprendi sobre drogas, revi conceitos, busquei formação e informação, me desfiz de estigmas, preconceitos e tabus. Descobri um universo muito diferente onde maconha não era droga, mas sim remédio para muitas doenças, principalmente última esperança para quem já havia usado todo tipo de medicamento sem melhora de sua saúde.

Neste percurso, em razão de todas as dificuldades que o governo impõe de acesso à maconha medicinal, foi quando judicialmente adquiri o direito de plantar e fazer o remédio de minha filha, uma autonomia que me permitiu testar várias plantas até descobrir a planta ideal para ela.

Eu e outra mãe nos tornamos referência no uso de Cannabis Medicinal em nossa cidade e muitas pessoas começaram a nos procurar desesperadamente para alívio do sofrimento causado pelas doenças das quais padeciam, como câncer, Parkinson, Alzheimer entre outras.

Dada a importância para a população, a crescente comprovação científica e os resultados extremamente positivos na qualidade de vida das pessoas que conseguem o acesso ao tratamento com a Cannabis, junto com um grupo formado por pacientes e profissionais de saúde movido pela compaixão, abracei o desafio de lutar pelo direito à saúde, direito à vida e por políticas públicas includentes para que todos tenham acesso à terapêutica que vem dando novos contornos à medicina do século XXI. Participei de ações de educação em saúde organizando seminário, ministrando palestras e aulas sobre o tema. Neste ano fundamos uma associação que hoje atua firmemente em Marília buscando, junto ao Poder Público, caminhos para inserir esta terapêutica no SUS e garantir o acesso à todos os que necessitam. A luta pela Cannabis Medicinal acontece em nível nacional, um remédio que hoje poderia beneficiar mais de 10 milhões de brasileiros.

Mediante toda essa experiência no voluntariado, no Terceiro Setor, acredito que a sociedade civil organizada cumpre papel fundamental nas diversas pautas, principalmente atuando onde há a ausência e negligência da administração pública, construindo novas possibilidades frente às necessidades “invisíveis” da população. Assim também nesta pandemia as comunidades se uniram no amor para que não faltasse o pão na mesa de ninguém.

Por estas razões, mais do que a representatividade de todos os que se doam por amor, abstrata e distante da gestão pública, desejamos uma governança que atue junto à sociedade, com os bairros, os trabalhadores e as comunidades vulneráveis, motivando o exercício da cidadania e a luta por seus direitos. Queremos não só participação popular, mas a efetiva construção de uma cidade com as pessoas. Nossas propostas para Marília irão evidenciar este compromisso.

6) Uma das pautas constantes é a valorização dos servidores. Como administrar essa situação em um quadro financeiro em que a folha já bate os 50% da arrecadação?

N.M. -Os gastos do município não são apenas com os servidores. Aliás, todo recurso destinado à saúde, educação, direitos sociais e trabalhistas, não são gastos, são investimentos!

Estes recursos quando bem empregados, incidem diretamente em melhor qualidade de vida, maior IDH, mais credibilidade para investimentos e reconhecimento do município. Gastos inúteis para o povo são as centenas de milhões que se esvaem com terceirização, como a do transbordo do lixo, inúmeros aluguéis de prédios privados etc.

É importante o entendimento de que esta pauta é constante justamente porque os próprios servidores exigem a valorização de seu trabalho para que a qualidade do serviço público prestado à população seja de excelência. Quando se fala em valorização dos servidores a primeira coisa que nos vem à cabeça é a questão salarial, naturalmente uma questão central.

Contudo, valorização dos servidores vai muito além e envolve assegurar estrutura e condições adequadas para a execução do trabalho e prestação do serviço, a formação permanente e continuada dos trabalhadores e possibilidades de ascensão profissional dentro da carreira e do serviço público.

Em nosso entendimento as medidas tomadas até hoje de valorização de servidores em nosso município perpetuam práticas da velha política, como a realização de loteamento de funções gratificadas e cargos em comissão a apoiadores políticos entre os servidores, um grande descontrole de realização de horas extras pelo funcionalismo e constantes alterações pontuais de referências salariais para contemplar determinadas carreiras ou segmentos do serviço público, que muitas vezes agravam ainda mais as distorções salariais.

Medidas deste tipo, sem nenhum critério técnico e de previsibilidade orçamentária é que deixam a folha de pagamento no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. Lei esta que cumpre o papel de limitar o investimento em servidores e em consequência na qualidade do atendimento à população, forçando ou facilitando a terceirização e privatização dos serviços.

Além disto, é muito comum em ano eleitoral, e este ano não foi diferente, a iniciativa desesperada de prefeitos de apresentação de Projetos de Planos de Carreiras poucos debatidos com o funcionalismo municipal e sem nenhuma perspectiva séria e efetiva de implantação. Foi assim ao menos nos últimos governos municipais.

Entendemos que é preciso resolver esta questão de uma vez por todas, realizar um pacto com o funcionalismo para a formulação e implantação de um Plano de Cargos, Carreiras e Salários de médio e longo prazo, pois um Plano desta natureza necessita de planejamento orçamentário, de incentivo e qualificação profissional que dentro de quatro anos sabemos ser impossível de implantá-lo completamente.

É possível num ano de governo realizar esta formulação técnica em conjunto com o funcionalismo e iniciar a sua implantação a partir do ano subsequente e assim sucessivamente, de forma que gestões futuras deem continuidade na implementação.

É possível e viável, por meio de um plano de cargos, reorganizar os cargos públicos municipais com o objetivo de diminuir as distorções historicamente criadas entre os níveis de escolaridade e que tragam mais eficiência para a prestação do serviço público.

É possível e viável constituir valorização salarial na carreira tendo como base a formação continuada. É possível e viável reestruturar as funções gratificadas vinculando-as ao Plano e constituindo critérios e seleções internas para que os servidores assumam as responsabilidades de chefias. É possível e viável aumentar o percentual de servidores em cargos em comissão (hoje em 5%), constituindo critérios técnicos e educacionais para a nomeação de servidores de carreira nestes cargos. Além destas questões é necessário reestruturar e equipar o Serviço Municipal de Saúde do Trabalhador, realizar parcerias com a Diretoria de Ensino, Escolas técnicas e Universidades com o intuito de assegurar aos servidores a possibilidade de formação permanente e continuada.

7 – Como pretende tratar o quadro do Ipremm e a projeção de reforma na previdência municipal para acompanhar regras federais e estaduais?

N.M. – O Ipremm tem problemas sérios justamente pelas escolhas equivocadas dos grupos que ainda mandam em Marília. Esses problemas vêm de anos, décadas. Marília tem grande arrecadação, um povo trabalhador, é pujante economicamente, mas os benefícios desse poderio todo não alcançam quem produz essas riquezas. É preciso democratizar, fazer escolhas certas, em prol da coletividade, do conjunto da população. Uma Marília de direitos, para todas as pessoas, e não para beneficiar apenas a alguns.

Como trabalhadora conheço bem a importância da previdência e da seguridade social na vida de quem depende de salário para viver. Institutos como o Ipremm asseguram aos trabalhadores direitos como de manutenção da renda individual ou familiar em caso de doença ou até mesmo morte do trabalhador, além é claro da tão sonhada aposentadoria.

O caso do Ipremm é muito delicado e necessita de profundo levantamento de sua real situação para a formulação de saídas e medidas de reestruturação econômica e administrativa com o intuito de torná-lo capaz de assegurar esses direitos aos funcionários municipais. Entendemos que o Ipremm precisa de uma reforma, mas é preciso sinalizar qual o conteúdo desta reforma baseando-se nestas informações.

A reforma da Previdência Nacional realizada pelo Governo Federal paga a conta do chamado “rombo da previdência” colocando todo o peso nas costas dos trabalhadores. É uma reforma perversa, pois além de dificultar a aposentaria com o aumento da idade e de tempo mínimo de serviço, dificulta também o acesso aos benefícios e aumenta a contribuição previdenciária. O que não se diz é que a responsabilidade do “rombo da previdência” são dos Patrões, das grandes corporações e empresas, são eles que criam e alimentam o “rombo da previdência” quando deixam de pagar a parte patronal. O Estado faz vistas grossas e segue sem constituir nenhum mecanismo de exigência de repasses e punições.

O caso do “rombo do Ipremm” tem a mesma origem. Tanto o atual governo municipal quanto os anteriores são os principais responsáveis pela incapacidade econômica do Instituto. Quando tomaram a decisão política de não realizar os repasses patronais que cabem à Prefeitura e de realizar eternos parcelamentos de dívida com aval da câmara municipal, que hoje está na casa dos milhões, o Instituto passou a ser um constante problema já que são necessários aportes mensais para assegurar sua manutenção.

Para o Ipremm pensamos e defendemos uma reforma ampla com outras características. Queremos constituir mecanismos de punição aos gestores que deixarem de realizar os repasses patronais e o pagamento das dívidas parceladas. Queremos constituir autonomia ao Ipremm com eleição da Presidência do Instituto e não mais o sistema de indicação pelo Prefeito. Defendemos uma reforma que não confisque o salário, a aposentadoria ou outro beneficio do trabalhador. Defendemos a ampliação e reestruturação do quadro técnico do Instituto, bem como uma reestruturação técnica e humanizada do serviço municipal de saúde do trabalhador. E o mais importante, queremos dialogar amplamente, debater e formular junto ao funcionalismo público os caminhos e soluções para a recuperação do Ipremm.

8 – Quem é Nayara: formação, família, rotina do dia a dia?

N.M. – Nayara é uma pessoa simples que defende, com todo seu coração e sua alma, o direito à vida em plenitude.

Nasci na primavera de 1982 em Lucélia/SP, primogênita de três filhos. Minha mãe era professora e também trabalhava nos Correios onde dedicou toda sua vida profissional. Meu pai, falecido em fevereiro deste ano, teve várias profissões, empreendeu na olaria, trabalhou no banco, foi corretor de imóveis e por último atuou na ETEC de Adamantina como inspetor de alunos, servidor público estadual. Meu irmão optou por trabalhar na segurança pública e minha irmã na saúde.

Tenho dois filhos, Miguel com 10 anos que proporcionou minha primeira experiência do amor incondicional, o amor de mãe e Letícia com 7 anos, criança especial que desde seu nascimento tem sido uma escola intensiva de vida, testando todas as minhas capacidades de organização, otimização e articulação, me propondo um mundo completamente diferente com o desenvolvimento de habilidades sócio-emocionais, me moldando na paciência, no amor, na fé, na tolerância, na compaixão e no firme propósito de me tornar um ser humano melhor a cada dia. Com ela aprendi a esperança, a luta e o nunca desistir!

Sempre gostei muito de me dedicar aos estudos, tocar instrumentos musicais, fazer esculturas, desenhos, retratos, pinturas em óleo sobre tela e atividades manuais. Tenho paixão pela natureza, pelos animais e plantas. Como toda moça do interior, cantei em corais de igreja e na adolescência também fui vocalista numa banda de pop rock. Sou razoavelmente eclética em minhas preferências musicais, a música sempre embalou meus ciclos de vida. Adoro poemas, flores, dança e poesias.

Nos esportes já joguei vôlei, futebol, basquete e handball. Gosto de jogos que desafiam o raciocínio e a elaboração de estratégias como damas e xadrez. Meu maior desafio no esporte foi a prática de mergulho, pois além da técnica exige um intenso controle emocional. O último esporte ao qual me dediquei foi o ciclismo, o que me trouxe uma firme análise e crítica à ciclomobilidade de nossa cidade.

Tive o privilégio de estudar em ótimas escolas públicas desde minha alfabetização até minha pós-graduação, sei o inestimável valor de uma Educação de excelência. Iniciei meu percurso profissional no magistério por meio de um Programa chamado CEFAM, onde me tornei professora do ensino infantil.

Em seguida comecei minha carreira acadêmica no curso de Direito em Adamantina e trabalhava como estagiária no setor de Recursos Humanos da Santa Casa de Lucélia para ajudar nos custos da faculdade. Sempre quando terminava minhas atividades, gostava de ir ao pronto socorro para conversar com os pacientes e foi assim que descobri minha inclinação vocacional, minha paixão pela saúde. Parei o curso de Direito quando tive uma experiência muito negativa, trabalhando para um advogado.

Dentro da ampla gama de profissões na saúde escolhi a Enfermagem, pois para mim representa a arte do cuidar, curso que concluí em 2006 pela Universidade Estadual de Londrina/PR. Permaneci na UEL ainda por um período cursando Residência em Neonatologia e em 2009 vim para Marília onde permaneci e constituí meus laços de amizade, família e militância na luta por direitos.

Meu primeiro emprego foi na ABHU onde atuei na Maternidade e Centro Obstétrico, nos plantões cobria a UTI Neonatal e demais setores do hospital. Trabalhei com Educação Continuada e em processos seletivos específicos para a área materno-infantil. Em 2011 fui chamada no concurso do Estado e trabalhei no Hospital Geral de Promissão também na área materno-infantil, assumindo atividades gerenciais e assistenciais.

Em 2012 vim para o Departamento Regional de Saúde IX de Marília, onde passei a trabalhar na gestão, com Políticas Públicas de Saúde, atuando por quase sete anos como Articuladora de Saúde Mental prestando assessoria técnica a cinco Regiões de Saúde, fazendo a interlocução com técnicos e gestores da saúde nas diferentes esferas, bem como com o judiciário subsidiando decisões, junto ao Ministério Público Federal e Estadual, auxiliando os municípios na estruturação da Rede de Atenção Psicossocial com a implantação de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e nas estratégias de desinstitucionalização retirando os pacientes moradores de hospitais psiquiátricos por meio da implantação de Residências Terapêuticas. A partir de 2019, em substituição, assumi a Diretoria de Monitoramento e Avaliação em Saúde e passei a trabalhar com os instrumentos de planejamento e gestão do SUS. Neste mesmo ano iniciei meu Mestrado em Ensino e Saúde na Famema. Nas atividades de docência fui Preceptora do curso de Aprimoramento em Saúde Mental da UNESP de Assis e da Residência multiprofissional de Saúde Mental da Famema. Ministrei cursos e aulas em Políticas Públicas de Saúde e Saúde Mental, bem como proferi palestras em diversos municípios nestas temáticas.

Minha contribuição no voluntariado vem desde a adolescência por meio de ações e campanhas promovidas pela Igreja quando ainda morava em Lucélia. Em Marília, participei da estruturação e fundação de duas associações que desempenham papéis de grande relevância social na luta pelos Direitos da pessoa com deficiência, direito à saúde, dignidade e à qualidade de vida. Sou membro da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis e participo de ações no âmbito nacional, na luta pelo acesso à Cannabis Medicinal e desenvolvimento de políticas públicas municipais voltadas a sua incorporação no SUS. Também faço parte de movimentos sociais pelos direitos das mulheres. Tive algumas participações no COMUS, no Conselho dos Direitos da Pessoa com Deficiência e na Associação Ambientalista de Marília, tempo em que pude refletir sobre práticas de sustentabilidade, economia solidária, preservação do meio ambiente, educação ambiental e conhecer projetos incríveis. Participei das Conferências Municipais de Saúde e da Cultura e das audiências do Plano Diretor de turismo de nossa cidade.

Minha rotina diária é tal qual a rotina de qualquer mulher que se dispõe a estudar, trabalhar, cuidar da casa e dos filhos, lutar pelo que acredita e por aqueles que ama, com o bônus do compromisso de vida de contribuir para um mundo mais digno, justo e humano para todos.

“A verdadeira coragem é ir atrás de seu sonho mesmo quando todos dizem que ele é impossível.”    Cora Coralina