O Conselho de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou no fim da tarde desta quarta-feira (16) o reajuste em 0,75% da Selic, passando de 3,5% para 4,25% ao ano. Essa é a terceira vez consecutiva em que a equipe monetária aumenta a taxa básica de juros, atingindo as expectativas econômicas do Banco Central.
De acordo com especialistas, a decisão do Copom era previsível e reflete as dificuldades econômicas que o país enfrenta em decorrência dos aumentos de casos de Covid-19, mesmo com aumento nas projeções de crescimento do PIB e redução inflacionária. O BC já havia anunciado nas últimas reuniões que estudava o aumento da taxa de juros para os próximos encontros.
Em sua decisão, o comitê entendeu ser necessária as alterações na taxa básica de juros neste momento de recuperação econômica. A equipe ressaltou a aprovação de reformas como alternativa para manter a situação monetária do país estável.
“O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, aponta o comunicado.
“Neste momento, o cenário básico do Copom indica ser apropriada a normalização da taxa de juros para patamar considerado neutro. Esse ajuste é necessário para mitigar a disseminação dos atuais choques temporários sobre a inflação. O Comitê enfatiza, novamente, que não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação”, concluiu o Copom.
O coordenador de pós-graduação em Mercado Financeiro da Faculdade Mackenzie em Brasília (DF), César Bergo, vê o reajuste como positivo para a economia do país e acredita em firmeza da autoridade monetária em seguir as expectativas inflacionárias.
“Além de necessário, esse realinhamento das expectativas inflacionárias se mostra fundamental para eliminar ruídos e mostrar firmeza na atuação da autoridade monetária. O mercado já vem agindo de forma otimista no tocante aos indicadores de crescimento”, afirma.
A alta na taxa Selic é uma sinalização para redução de estímulos no mercado de trabalho com objetivo de reduzir os índices de inflação , que apresentam alta nos últimos meses. Para o economista da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, as alterações anunciadas pelo Banco Central devem se manter nos próximos meses.
“Desde a última reunião, os dados de atividade econômica, em especial o PIB do primeiro trimestre, surpreendeu as expectativas. O IPCA de maio também veio acima do esperado e mostrou uma difusão bastante significativa, demonstrando que a alta de preços está se tornando mais disseminada”, diz.
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“Apesar da queda recente na taxa de câmbio, o índice de preços no atacado (IGP-M) continua muito alto, o que deve pressionar os valores no varejo nos próximos meses. Além disso, a reabertura tem continuado e as expectativas de vacinação estão melhorando, favorecendo o crescimento no segundo semestre. Todos esses vetores estimulam uma postura mais conservadora por parte do Copom. Porém, mais preocupante. A continuidade da alta nas expectativas de inflação, em especial a do IPCA de 2022, demonstram que o processo inflacionário continua exigindo retirada de estímulos”, explica Borsoi.
No entanto, o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, ressalta a necessidade de ‘ousadia’ da autoridade monetária para atingir as expectativas econômicas no próximo ano.
“Esperamos exatamente que o BC mantenha a sinalização de que o ritmo de avanço de 75bps parece prudente, mas deverá ‘ousar’ na sinalização sobre o tamanho do ciclo de aperto da política monetária. Com as próprias projeções condicionais subindo para 3,7% em 2022 (projetamos) a autoridade deverá se mostrar austera e afirmar que a redução do estímulo monetário deverá ser total e não mais parcial”, analisa.
A redução de estímulos na economia vêm após a necessidade de controlar a inflação em meio à crise econômica provocada pela Covid-19. O impacto a geração de empregos e população provocou uma busca para reanimar a economia do país, seja com redução de juros – para manutenção de empregos – ou pela Selic – objetivada pelo aumento do poder de compra da população.
A previsão dos especialistas em mercado financeiro e do Banco Central é que a Selic encerre o ano entre 5,5% e 6%, as maiores taxas desde outubro de 2019. No entanto, os reajustes na taxa básica de juros vão depender da situação econômica do país nos próximos meses.