A morte do filósofo, professor e escritor Roberto Romano, aos 75 anos, nesta quinta-feira em São Paulo causa repercussão nacional e expõe mais um grande nome com ligações em Marília a ser pouco reconhecido na cidade.
Vítima de complicações da Covid-19, Roberto Romano estava internado desde 11 de junho no Instituto do Coração. Nascido em Jaguapitã, no norte do Paraná, próximo à divisa com São Paulo, Romano mudou-se para Marília com a família ainda jovem. Na cidade, cursou ginásio e ensino médio. Foi também professor na antiga Fafi, hoje Unesp.
“Velho companheiro. Por essa eu não esperava, Roberto Romano. Você partir assim, antes que a gente cumprisse a promessa de um reencontro para muitas conversas. E para recuperar histórias, desde que a militância na política estudantil e o teatro nos aproximaram. Éramos meninos ainda quando, em Marília, fizemos o musical “Canto livre” para, com nossa voz juvenil, resistir à ditadura militar recém imposta ao País. Dividimos o palco”, diz o ator, diretor e escritor Oswaldo Mendes, um grande nome das artes que a cidade também deveria tratar com maior reconhecimento.
“Pois é, você ator falando poemas de Castro Alves e cantando a liberdade. Logo seguimos nossos caminhos, você já um pensador foi estudar com os Dominicanos e a partir do anos 70 nos perdemos de vista. Retomamos a conversa quando já tínhamos caminhado muitos caminhos. Ficamos adiando nosso reencontro, trocando mensagens por e-mail ou WhatsApp, Agora só me restam as lembranças e o disco de poemas de Drummond falados por Paulo Autran, presente seu em um momento longínquo dos anos 1960. Valeu a vida, meu amigo. A vida vale, sempre”, diz Oswaldo Mendes.
Casado há 50 anos com a socióloga Maria Sylvia de Carvalho Franco, Romano era professor titular aposentado do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.
Formado pela USP, fez doutorado em Filosofia na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. Era uma das vozes mais respeitadas no meio acadêmico.
Em nota, o reitor da Unicamp, Antônio José de Almeida Meirelles, o Tom Zé, lamentou a perda e ressaltou que o docente era um defensor do ensino público, da ética, das políticas de inclusão nas universidades e da justiça social no país.
“Após enfrentar complicações em decorrência da Covid-19, ele se soma às tantas vítimas da pandemia em nosso país, decorrentes da pouca atenção que parte de nossas autoridades deram a esta tragédia que acomete o mundo.”
Autor de vários livros, entre eles Brasil: Igreja contra Estado (Editora Kairós, 1979), Conservadorismo romântico: Origem do totalitarismo (Editora da Unesp, 2001), Silêncio e Ruído: a sátira em Denis Diderot (Editora da Unicamp, 1996), Razão de Estado e outros estados da razão (Editora Perspectiva, 2014),
Foi vítima de uma epidemia em que repetidas vezes denunciou o negacionismo. “Se o presidente classifica trágica moléstia como ‘simples gripe’ e nega os saberes científicos ao impor fármacos, estamos na aurora do fascismo.”