Marília

Doreto Campanari é sepultado em Marília e fica dívida com sua história

Doreto Campanari é sepultado em Marília e fica dívida com sua história

O médico e ex-deputado federal Osvaldo Doreto Campanari foi sepultado na manhã desta terça-feira em Marília sem solenidades ou homenagens em virtude das medidas de restrição provocadas pela epidemia de coronavírus.

Oftalmologista com longa carreira política de visibilidade nacional, Doreto deixa em sua morte uma dívida para a cidade em resgate de história, reconhecimento e memória da vida pública.

Doreto foi líder estudantil, vereador, deputado estadual e deputado federal por dois mandatos. A visibilidade nacional veio com sua participação como constituinte entre 1987 e 1988.

Em sua morte Doreto entra para uma lista cada vez maior de personalidades com pouca ou nenhuma atenção histórica, agravada por ser ex-vereador na Casa que mantém uma comissão para registros da memória local.

Antes dele a cidade já teve políticos com mandatos no Estado e União, artistas, ativistas e profissionais de destaque com pouco reconhecimento. Não é santificar os mortos, mas respeitar seus legados, conribuições, acertos e erros e inegáveis participações na vida pública.

Parte desta história não interessou muito ao status em boa parte desta carreira. Tempo em que Doreto foi político do MDB na oposição à ditadura. Ainda assim, por dois anos foi vice-presidente da Câmara no início da década de 70.

Comícios feitos em caminhões, campanha em carros particulares, disputas políticas com grandes grupos – incluindo o racha com o então governador Orestes Quércia, a quem apoiou na campanha de 1986 em meio a uma divisão do partido na cidade.

Os registros nacionais da atuação de Doreto mostram ações como fiscalização de fraudes no sistema público de saúde do Inamps; campanha pela estadualização da Famema, mutirões de atendimento médico, controle de zoonoses e participação popular, entre outros temas que seguem tão populares décadas depois.

Recebeu, mesmo que de forma tardia, uma homenagem da Câmara em 2018 com a medalha do mérito. Saiu dos debates políticos de forma precoce, embora fosse figura presente em importantes momentos. O quadro de saúde que o tirou das ruas foi ainda mais cruel ao calar sua voz.

Como contraiu a Covid é um mistério menor em meio a todo o quadro. Mas foi ela que enfim tirou Doreto permanentemente da convivência com a família e amigos. Guardar a memória de Doreto é mais uma vitória a ser conquistada contra a epidemia.