Márcia Maria Mota ainda se lembra da cena que viu no Plaza Shopping, em Niterói, em 2 de julho deste ano. Havia ido ao local encontrar a filha, Vitórya Melissa Mota, na cafeteria onde a jovem trabalhava, após sucessivos convites frustrados. A confusão no dia, perto do horário do almoço, chamou sua atenção. Uma fita amarela isolava um trecho do segundo piso, encharcado de sangue. Ainda em busca da filha, Márcia foi informada pela gerente da cafeteria o que havia acontecido: Vitórya, de 22 anos, tinha sido esfaqueada por um homem. Era dela o sangue no chão. Nesta segunda-feira, dia 2, será realizada a primeira audiência do julgamento do caso, na 3ª Vara Criminal do Fórum de Niterói. O réu, Matheus dos Santos da Silva, de 21 anos, teria esfaqueado a vítima devido a um “amor não correspondido”.
Dois meses depois da morte da filha, a dona de casa de 53 anos ainda não conseguiu superar o trauma. Passa a maior parte do dia com o celular de Vitórya nas mãos, assistindo a vídeos e vendo fotos da jovem. Estudante de um curso de Auxiliar de Enfermagem, Vitórya gostava de cantar — tinha aprendido inglês e exercitava o idioma com as músicas.
Márcia carrega, ela mesma, os traumas de um relacionamento abusivo. Foi vítima de agressão física no primeiro casamento, quando morava em Laguna, Santa Catarina, onde nasceu. Abandonou o agressor e a cidade natal e veio para o Rio. A violência, contudo, acabou atingindo a filha mais velha do segundo relacionamento.
“Na semana em que ela se foi, senti que estava incomodada. Perguntei o que estava acontecendo. Ela me contou que esse Matheus estava lhe importunando, ficava colado nela. Eu falei que podia ir no curso, falar com a direção, mas ela me disse que resolveria do seu jeito. Eu sofri muito com a violência doméstica, não queria que nada de mal acontecesse com ela”, conta Márcia, sem conter as lágrimas.
Uma colega de Vitórya, que pediu para não ser identificada, contou que o agressor disse que estava apaixonado pela amiga. Em 30 de maio, aniversário da vítima, tentou presenteá-la com dois livros, mas ela se esquivou. Matheus, no dia do crime, atingiu a jovem com oito golpes de uma faca comprada minutos antes no shopping. Ele está preso no Instituto Penal Ismael Pereira Sirieiro, em Niterói.
A defesa do acusado entrou com um pedido de que um laudo de insanidade mental fosse produzido. A juíza da 3ª Vara Criminal de Niterói, Nearis dos Santos Carvalho Arce, porém, não autorizou o exame. Num trecho da decisão, fundamenta que “não há nos autos qualquer indício de que o réu seja acometido de distúrbio psiquiátrico”.