Uma operação deixou ao menos nove pessoas mortas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. O confronto entre agentes policiais e civis aconteceu entre a noite de sábado (20) e a manhã de domingo (21).
Na segunda-feira (22), dez pessoas foram encontradas mrotas. Destes, nove foram identificados. O outro corpo, que ainda não foi reconhecido, foi encontrado junto com as outras vítimas em um manguezal. Entre os indentificados estão:
1. David Wilson Oliveira Antunes ;
2. Ítalo George Barbosa Gouvea Rossi , o Sombra;
3. Kauã Brenner Gonçalves Miranda ;
4. Leandro Rumbelsperger da Silva , sargento do 7º BPM (São Gonçalo), morto em Itaúna numa emboscada;
5. Rafael Menezes Alves ;
6. Carlos Eduardo Curado de Almeida ;
7. Douglas Vinicius Medeiros da Silva ;
8. Élio da Silva Araújo ;
9. Jhonatan Klando Pacheco Sodré ;
Operação policial
O 7º Batalhão de Polícia Militar em São Gonçalo é responsável por diversas operações na comunidade desde junho. A equipe tem como objetivo ocupar o território e diminuir os índices de criminalidade no local.
O conjunto de favelas em São Gonçalo, que integra sete comunidades, entre elas o Complexo do Salgueiro, é uma região conhecida por roubo de cargas e veículos. Segundo informações da Polícia Civil, é da comunidade que costumam sair veículos com traficantes para realização de roubos.
De acordo com a polícia, o criminoso à frente do tráfico na região é Antônio Ilário Ferreira, conhecido como Rabicó.
O confronto
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O confronto que durou 48h teve início na manhã de sábado (20), após o policial Leandro Rumbelsperger da Silva, de 38 anos, ser morto por criminosos que efetuaram disparo contra a equipe policial que estava inspecionando a região.
No mesmo dia, por volta das 22h, moradores do Complexo do Salgueiro relataram ouvir sons de tiros. A Polícia Militar informou que o Bope foi acionado para atuar no local e estabilizar o terreno.
No domingo de manhã, uma senhora de 71 anos, indentificada como Carmelita Francisca de Oliveira, ficou feriada após ser atingida por um disparo. Somente no período da noite a PM informou que estava realizando uma operação na região.
Na segunda (22), os corpos foram encontrados e retirados por moradores em um manguezal.
A Polícia Civil afirmou que vai investigar a PM pela demora ao informar sobre a ação na comunidade. Investigadores da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI) afirmaram que a Civil só foi acionada na segunda-feira de manhã.
Depoimento de moradores
Ao jornal O Globo , moradores do Complexo do Salgueira deram relatos sobre a operação policial no local. Um deles, um leiturista de 45 anos, disse que houve “tiros para todos os lados e chefes de família ficaram em risco”.
“E o resultado é esse: nove corpos e muitos outros que podem estar no mangue. Não existe segurança pública no Rio. Eles tratam a gente com a morte. Aqui não tem nada. O estado não dá condições para a gente sobreviver. Nós somos manipulados pelo governo e eles fazem isso com a gente”, afirmou.
Um mototaxista de 43 anos, disse que ação foi uma “chacina”. “É uma sensação horrorosa. Infelizmente, a polícia só entra para matar. Eles não podem chegar aqui e fazer essa chacina”, explicou.
A esposa de Jhonathan Klando Pacheco , um dos mortos durante a ação, relatou que o marido estava dentro de casa quando foi retirado da residência e executado.
“Eles fizeram uma varredura e levaram todos os homens que suspeitavam que era bandido. Ele estava em casa e fizeram essa arruaça. Eles estão lá já dois dias. Vivemos momentos guerra e a todo tempo a gente estávamos se jogava no chão”, disse.
Complexo do Salgueiro
Somente em 2021, o Complexo do Salgueiro já contabilizou 42 tiroreios. Segundo o Instituto Fogo Cruzado, a região de São Gonçalo é um das mais violentas. Foram mais de 167 homicídios em confrontos com a polícia somente no Complexo do Salgueiro.
Segundo o tenente-coronel Ivan Blaz, porta-voz da PM, a ação “foi necessária”. Ainda assim, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) abriu um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para investigar a operação. O processo vai analisar eventuais violações da PM no caso.
A Organização da Nações Unidas (ONU) também reforçou a importância da investigação. De acordo com o órgão, o uso da força só deve ser aplicado em casos de extrema necessidade e respeitando a “legalidade, precaução, proporcionalidade e necessidade”.