A Fazenda Cruzeiro do Sul e a Estação Ferroviária Engenheiro Hemílio, localizadas entre os municípios de Paranapanema e Campina do Monte Alegre, no estado de São Paulo, foram tombadas como Patrimônio Histórico e Cultural. A decisão é de fevereiro, mas foi divulgada na última sexta-feira (18) pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).
Conhecidos nacionalmente por abrigarem tijolos e documentos com símbolos nazistas, os locais também foram apontados como ponto de exploração infantil durante os anos 30 e 40. Para o antropólogo Rafael Coelho, trata-se de uma oportunidade prara conhecer a história.
– As pessoas não têm consciência total do que é e foi o nazismo e atualmente o Brasil passa por um processo de aumento dos discursos de ódio e violação dos direitos humanos. Relembrar o que aconteceu é essencial – destaca o especialista.
O argumento é o mesmo apresentado na decisão do Condephaat. No texto, o órgão apresentou as locações como a “materialização de pensamentos segregacionistas e preconceituosos vividos pela sociedade brasileira”. Para o antropólogo, ações como essa podem impedir a volta do autoritarismo.
– O conceito de habitus de Pierre Bordieu se baseia em como reproduzimos comportamentos de forma consciente e inconsciente. Quando trazemos assuntos para a discussão, eles começam a fazer parte dos meios sociais que vivemos e do nosso capital cultural – explica.
Neste sentido, o tombamento decretado ajudará a manter preservada a única região com indícios nazistas de São Paulo, graças ao trabalho de historiadores que coletaram materiais e entrevistaram antigos trabalhadores do local.
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O processo até o tombamento
Há 30 anos, o fazendeiro José Ricardo Maciel encontrou tijolos marcados com suásticas nos locais, enquanto reformava um chiqueiro. Depois da primeira descoberta, José Ricardo encontrou o mesmo símbolo em várias construções.
Em 1998, o achado histórico em Campina do Monte Alegre chegou ao conhecimento do historiador Sidney Aguilar Filho. Em entrevista ao g1, Sidney revelou que, após anos de estudo, constatou que a fazenda pertencia a uma família carioca que integrava a Ação Integralista Brasileira (AIB), organização de extrema-direita simpatizante do nazismo.
Além disso, o pesquisador também descobriu que os antigos donos traziam crianças negras de orfanatos que foram escravizados na região. A estimativa é de que cinquenta meninos teriam vivido nesta situação. Esses meninos não tinham nomes e eram chamados por números.
– A preservação é pela história da população que foi marginalizada e explorada – destaca Sidney.