Saúde

Bolsonaro quer rebaixamento da pandemia para endemia, médicos se opõem

Bolsonaro quer rebaixamento da pandemia para endemia, médicos se opõem


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O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem pressionado o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a editar uma portaria que altere amanhã o status da pandemia da Covid-19 no Brasil para endemia.

Especialistas, no entanto, acreditam que a medida é precoce devido à baixa cobertura vacinal com a dose de reforço e a possibilidade de riscos que levem a uma piora no cenário epidemiológico. Além disso, defendem que a decisão deve ser tomada em âmbito mundial, e não individualmente por cada país.

A medida faria com que o Brasil deixasse de tratar a doença como emergência de saúde pública, e o objetivo do governo é anunciar amanhã junto a um pacote de revogações de mais de 200 medidas restritivas em vigor desde 2020, como revelou o colunista do GLOBO Lauro Jardim. No último dia 16, Bolsonaro já havia declarado, durante viagem em Salvador, na Bahia, que pretendia fazer a mudança até o dia 31 de março.

Para o infectologista Roberto Medronho, professor titular de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o debate acontece de forma precoce e deveria envolver um olhar para fora do Brasil.

“Não concordo com a decisão, é muito precoce decretar que a Covid-19 está com caráter endêmico no Brasil. Nós temos ainda o vírus circulando no mundo e de forma bastante impactante em diversos países. Há ainda o risco de uma nova variante pela cobertura vacinal em países de baixa renda ser baixíssima, o que é uma situação dramática para todo mundo” , defende o especialista.

Ele reforça ainda que a vacinação com a dose de reforço caminha a passos lentos no país, especialmente em cidades menores.

“Graças à vacina, nós temos realmente uma situação bem mais confortável em relação à doença, especialmente em suas formas graves. Porém, muitas cidades do Brasil ainda têm uma cobertura vacinal que não é tão alta e, mesmo nas capitais, a dose de reforço não atingiu nem 50% em muitos locais”, afirma Medronho.

Ele acrescenta que a redução dos casos e óbitos pela Covid-19 no Brasil, que acontecia de forma mais intensa há algumas semanas, começou a desacelerar, o que pode ser um alerta. Além disso, defende que a comunidade científica esteja mais envolvida na discussão.

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“A redução, que era muita intensa alguns dias atrás, já deu uma desacelerada. Não é um aumento, mas nos traz uma preocupação. E, do ponto de vista científico, não há sustentação para essa mudança no status da doença agora. Acho inclusive que essa discussão deveria ser junto à comunidade científica, que tem mais embasamento sobre isso” , diz o infectologista.

O sanitarista e pesquisador da Fiocruz Christovam Barcellos, membro do Observatório Covid-19, concorda com Medronho que a decisão está sendo tomada de forma precoce e destaca que, embora em queda, os indicadores da Covid-19 ainda são altos para que a doença seja considerada endêmica.

“Sem dúvida, estamos num período de baixa transmissão e melhora nos indicadores, o que é ótimo. Mas, o cenário de cerca de 300 óbitos por dia ainda é um número muito alto para ser considerado de uma doença endêmica “, afirma o especialista.

Ele defende também que a mudança no status deveria ser feita não a partir da situação epidemiológica no Brasil, mas do mundo como um todo, e lembra que outros lugares vivem aumentos de casos pela doença.

“Pandemia quer dizer um fenômeno mundial, então ondas de outros países podem sim chegar ao Brasil. Então essa decisão não tem de ser nacional, e sim internacional, de forma articulada e apenas quando o mundo inteiro estiver com a melhora do cenário epidemiológico e uma melhor vacinação.”

Enquanto a América do Sul, por exemplo, lidera na vacinação com cerca de 72% da população com o esquema primário completo, no continente africano esse percentual não chegou a 15%, mostram dados do Our World in Data, projeto de dados da Universidade de Oxford.

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Fonte: IG SAÚDE