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Visita de advogado de Monteiro durante depoimentos assusta testemunhas

Visita de advogado de Monteiro durante depoimentos assusta testemunhas
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Na tarde da última terça-feira, dia 5 de abril, cinco homens e uma mulher se apresentaram espontaneamente na 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes). Ex ou atuais assessores do vereador Gabriel Monteiro (PL) , todos desejavam fornecer informações que pudessem abastecer a investigação sobre o vazamento de um vídeo íntimo em que o parlamentar aparece mantendo relações sexuais com uma adolescente de 15 anos, fato que levou o Ministério Público do Rio a denunciar Monteiro anteontem. Durante os depoimentos, porém, uma visita inesperada assustou as testemunhas: era o advogado Sandro Acácio Fraga Gramacho de Figueiredo, que defende Monteiro em diversas acusações e inquéritos, que correm em diferentes frentes.

A cena é descrita na representação pela ordem de busca e apreensão enviada pela delegacia à Justiça, obtida pelo EXTRA. Diante da gravidade dos relatos, que incluíam orgias filmadas com menores de idade e supostas tentativas de destruir provas, o pedido acabou autorizado. Com os mandados em mãos, agentes fizeram varreduras na casa e no gabinete do vereador dois dias depois, além de em outros nove endereços associados a ele.

No documento, a delegada Talita Roberta Carlos Carvalho conta que o advogado Sandro Figueiredo chegou sem ser aguardado. “É importante registrar que, enquanto as seis testemunhas se encontravam nesta delegacia para oitiva, foram surpreendidas com a visita (inesperada) do Dr. Sandro, patrono de Gabriel, o que causou desconforto àquelas e temor”, descreveu ela.

Procurado pelo EXTRA, o advogado classificou a interpretação da delegada como “totalmente equivocada”. Segundo Figueiredo, ele esteve no local somente para realizar procedimentos de praxe.

“Advogado não necessita marcar hora para despachar com autoridade policial e menos ainda para protocolar petição”, frisou o defensor de Monteiro, acrescentando que foi cumprimentado por quatro das seis testemunhas, com quem “só teve contato visual”.

Os seis depoimentos foram tomados entre 14h e 19h28. No mesmo documento, a delegada relata que, “já no avançar da noite”, Sandro Figueiredo solicitou que também fosse ouvido Rafael Murmura Angelo, assessor de marketing do vereador, cujo termo de declaração só foi assinado às 22h42. À polícia, Murmura alegou que Vinicius Ward Hayden Witze, um dos seis que estivera no local horas antes, o procurou para que “produzisse conteúdo em desfavor do vereador mediante pagamento em dinheiro”.

Os outros cinco depoentes na ocasião foram Luiza Caroline Bezerra Batista, Fábio Neder Fernandes Di Leta, Robson Coutinho da Silva, Heitor Monteiro de Nazaré Neto e Mateus Souza de Oliveira. Os dois últimos chegaram a ser apontados por Monteiro como envolvidos no vazamento do vídeo íntimo, mas negam a acusação.

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‘Queima de arquivo’

O próprio Sandro Acácio Fraga Gramacho também foi citado nos depoimentos prestados na 42ª na última terça-feira. Segundo Heitor Neto, ex-assessor de Gabriel Monteiro, o advogado teria orientado o vereador a destruir equipamentos e mídias portáteis, como cartões de memória, HD externo e pendrives, que ficavam armazenados em um cofre camuflado na casa dele.

A “queima de arquivo” — termo que consta no termo de declaração de Heitor — teria como objetivo, de acordo com o relato do ex-funcionário, “inviabilizar que alguém encontrasse qualquer prova que desabonasse a conduta” de Monteiro. A orientação teria surgido logo após um episódio envolvendo uma empresa de reboques que atua na cidade, quando uma denúncia de oferecimento de propina feita pelo parlamentar chegou a levar o dono do grupo à prisão.

Entre o material a ser supostamente destruído, estaria um HD no qual Gabriel guardaria o vídeo íntimo com a adolescente, que acabou vindo a público. É justamente esse equipamento que o vereador acusa Heitor de ter furtado.

Na última quinta, após a operação contra Monteiro, Sandro Gramacho negou qualquer tentativa de “queima de arquivo”. Ele desafiou o ex-assessor a provar a acusação:

“Eu atuo de modo ético. Jamais mandaria um cliente destruir provas.”