A ex-presidente do PTB Graciela Nienov disse em depoimento à Polícia Federal (PF) que o ex-deputado Roberto Jefferson, que também já comandou a sigla, havia lhe pedido para usar dinheiro do fundo partidário para confeccionar outdoors em sua defesa. Segundo ela, essas peças publicitárias deveriam dizer que Jefferson era um “preso político”, em uma crítica à ordem de prisão determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Procurado, seu advogado, Luiz Gustavo Pereira da Cunha, disse que “nunca Roberto Jefferson pediu para que usassem recursos do fundo partidário para outdoors ou o que quer que seja”. A defesa também afirmou que “desde o seu licenciamento voluntário e posterior suspensão imposta pelo ministro Alexandre de Moraes, Roberto Jefferson nunca mais tomou nenhuma gestão financeira e político-partidária. Está completamente afastado do partido”.
O fundo partidário é abastecido com recursos públicos para financiar o funcionamento das legendas. Graciela era aliada de Jefferson e chegou ao comando da legenda em agosto de 2021, depois que o ex-deputado foi preso por ordem de Moraes por incitar ataques ao Supremo. Posteriormente, eles romperam e se tornaram adversários. Passaram a disputar o comando da sigla e trocar acusações mútuas, levadas também ao STF.
Os depoimentos de dirigentes da legenda foram determinados por Moraes para apurar se Jefferson, mesmo preso, continuava dando ordens e comandando a sigla.
No depoimento, prestado em 18 de abril, Graciela disse que, mesmo quando era presidente do PTB, integrantes do diretório nacional eram indicados por Jefferson ou deveriam passar pela aprovação dele. Foi nesse contexto que ela relatou sobre o outdoor.
“Em janeiro de 2022, a depoente foi até a penitenciária de Bangu juntamente com a Sra. Ana Lúcia Novaes, esposa de Roberto Jefferson, no Rio de Janeiro/RJ e recebeu uma ordem de Roberto Jefferson para patrocinar outdoors, utilizando o fundo partidário, para divulgar mensagens pedindo liberdade a Roberto Jefferson e o colocando como ‘preso político'”, diz trecho do termo de depoimento de Graciela.
Ela disse ter se recusado a cumprir essa ordem, uma vez que envolvia o uso de dinheiro público e não queria provocar um conflito com o STF. Jefferson seria ouvido em 3 de maio, mas ele exerceu o direito de permanecer calado.
Foram ao todo sete depoimentos. Graciela e outros dois dirigentes estaduais alinhados a ela acusaram Jefferson de interferir na gestão do partido, comandando-o de fato. Já os aliados dele disseram que o ex-deputado não intervinha na sigla.
O deputado estadual do Rio de Janeiro Marcus Vinicius de Vasconcelos Ferreira, o Neskau, por exemplo, disse que Jefferson não estava atuando para continuar no comando do partido. Neskau é ex-genro de Jefferson e presidiu a legenda durante um período, mas também foi afastado por Moraes. Contou também não ter identificado nenhum ato indicando que ele estaria atuando como presidente de fato do PTB, e que não recebeu qualquer ordem de Jefferson ou intermediários para a prática de atos partidários.
Após essas idas e vindas, o comando do PTB foi assumido por Kassyo Ramos, que ocupava a secretaria-geral do partido.
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