Quem fiscaliza o fiscal? O Ministério Público do Estado de São Paulo é alvo de uma série de acusações em mensagens divulgadas em redes sociais com discussões de servidores sobre condições de trabalho, queixas de assédio – moral principalmente, mas também sexual – e sobrecarga no órgão, que é o principal serviço de apoio à comunidade no cumprimento das leis no Estado.
A situação foi agravada em julho com a morte de um servidor que seria alvo de assédio. A situação repercutiu em grandes veículos de comunicação, como o jornal Folha de S.Paulo.
Mashá uma forte atuação em divulgação de mensagens – sempre anônimas – de trabalhadores de diferentes setores. Uma carta aberta anônima jogou o tema em grupos de redes sociais e nesta semana o debate em postagens se intensificou, com várias delas em uma página dedicada a informações para candidatos a concursos para carreiras jurídicas.
As mensagens foram todas divulgadas na chamada área de stories, com publicações temporárias. O Giro teve acesso a algumas das mensagens, especialmente casos em que o MP do Estado de São Paulo é diretamente citado.
“Sou servidor do MPSP, já sofri assédio, já vi servidor sendo assediado e continua a mesma coisa. Recentemente foi divulgada uma carta aberta de servidores anônimos cansados de humilhação e assédio na instituição”, diz uma das mensagens a que o Giro Marília teve acesso.
“Os servidores têm medo de reclamar na Ouvidoria da Instituição por medo de represália. Eu sou um deles”, diz outra postagem.
“Sou analista do MPSP e já sofri assédio, com ameaças de processo administrativo se não aumentasse a produtividade. Os abusos são rotineiros, promotores exigindo que analista use o token pessoal, passando-se por eles, pedem para manobrar carro, msg por whatsapp fora do horário”, diz outro texto (veja mais mensagens na galeria de imagens no final do texto.
Em manifestação encaminhada ao Giro Marília, a assessoria de comunicação do MPSP diz que o órgão “desconhece as publicações” e que a instituição conta com canais para recebimento de denúncias de assédio moral, inclusive anônimas.
“Dispõe, ainda, da Câmara de Prevenção e Resolução de Conflitos, na qual a via do diálogo restabelece o clima de lhaneza que preside as relações interpessoais no MPSP”, diz a nota oficial.
O comunicado afirma também que “na instituição, todos são tratados sob a égide da paridade, conforme atesta a Resolução 1.068/18, que passou a denominar os procuradores, promotores e servidores que fazem o Ministério Público por uma designação comum: integrantes”.
A forma de tratamento ganha importância e a reportagem da Folha em julho mostra isso. Uma servidora aponta que “o Ministério Público promove uma profunda distinção entre servidores e “membros” (como são chamados os procuradores e promotores)”.
Uma cartilha divulgada em 2019 pelo Ministério Público do Trabalho – uma instituição federal para atuação junto à justiça trabalhista – explica que “o assédio moral interfere na liberdade, na dignidade e nos direitos de personalidade de trabalhadoras e trabalhadores por meio de atitudes abusivas voltadas à degradação do relacionamento digno no ambiente de trabalho”.
É um problema que atinge empresas de diferentes portes e padrões, em todos os setores – na imprensa e comunicação inclusive – mas o caso ganha destaque por envolver o órgão que a constituição estabelece como “essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.
Veja abaixo algumas das mensagens divulgadas