
Muita disposição aos 82 anos, enorme empatia tão rara em grandes artistas internacionais, talento e disciplina técnica. Durante pouco mais de uma hora, o maestro João Carlos Martins, mostrou tudo isso em Marília e emocionou o público que lotou o ginásio do Sesi na noite de sábado.
Melhor intérprete de Bach da sua geração, João Carlos Martins esteve na cidade com a Bachiana Filarmônica, projeto do Sesi que envolve artistas renomados e jovens talentos e que já atraiu milhões de pessoas em apresentações presenciais.
O projeto reencontra o público após as restrições provocadas pela pandemia em que a orquestra foi obrigada a uma postura que marca a vida do maestro: se reinventar.
“Nas lives a Bachiana conseguiu atrair três milhões de pessoas. O importante na vida é você respeitar a tradição e a inovação. Claro que a gente sentiu falta do público. No reencontro é impressionante como a gente pode observar o desejo do público de voltar aos teatros.”
A filarmônica lidera o ranking de democratização da música clássica. Atingiu 17 milhões de pessoas ao vivo, além das redes sociais.
“Já fizemos concertos para um milhão de pessoas e já fizemos para 17 pessoas. O público que você tiver, tem que entrar sempre com desejo de que aquele é o concerto mais importante de sua vida. E o de amanhã será mais importante que o de hoje.”
Martins realiza em torno de 130 apresentações por ano. Nesta semana fará duas apresentações, nesta terça e quarta no Teatro do Sesi, em São Paulo.
E programou uma apresentação com Gabriel Satter com uma revelação: é ele quem toca ao piano o tema de amor de Juma e Jove, principal casal da novela Pantanal.
A cada apresentação a filarmônica renova o repertório. Começa sempre com o que chama de BBB, para representar três dos maiores compositores da música clássica – Bach, Beethoven e Brahms -, e outros clássicos de diversos gêneros.
A apresentação de Marília teve interpretações de sucessos dos Beatles, Queen, Cazuza, Raul Seixas, Adoniram Barbosa. Fechou o espetáculo com Brasileirinho, que como ele diz, tem a cara do país.
Conversa com o público durante todo o evento. Fala de música, do repertório, das novidades e planos futuros. E também de sua história. Enfrente há décadas um quadro de distonia focal – síndrome que só receberia este nome em 1982, quando ele já sofria bastante com os efeitos – que o afastou do piano.
Graças a luvas biônicas desenvolvidas por um designer brasileiro, voltou à atividade, reinventando sua atuação como maestro. Mas também de volta ao piano.
Um vídeo com imagens de seu retorno atingiu 33 milhões de visualizações em redes sociais, incluindo grandes nomes de diferentes gerações da música e cinema no Brasil e nos Estados Unidos. Faz postagens semanais com vídeos de 60s falando de sua história, inovações e carreira.
O maestro, que esteve na cidade pela primeira vez na década de 50, falou de futuro e nos dois próximos meses terá grandes compromissos, que incluem uma apresentação dia 19 de novembro no Carneggie Hall em Nova Iorque, para celebrar 60 anos de sua primeira apresentação naquele teatro, considerado o principal do mundo.
Deixou lições de vida, uma especial que distribuiu nas redes sociais com imagens suas, de roupão, praticando em sua casa. “É meu cotidiano, dia sim e o outro também: sentar no piano e estudar. Você nunca deixa de estudar na vida e no dia seguinte você sempre vai aprender um pouco mais.”
Falou sobre a Portuguesa de Desportos, seu time do coração, e mostrou que acompanha a participação do MAC (Marília Atlético Clube) na Copa Paulista. Diferente de outras celebridades que estiveram em visitas recentes na cidade, não ganhou camisa do time.
Emocionou, fez rir e por diversas vezes ganhou muitos aplausos e assovios. Uma apresentação marcada ao final por um, grupo de crianças na plateia que se identificou com a música e cantou com vontade Trem das Onze. Foi o concerto mais importante da vida. Até o próximo.