– foto Pexels
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É  na hora que  deitamos que as visitas aparecem e sentam à cama conosco.

Um dia inteiro de trabalho, correrias, resolvendo problemas,  às  vezes sendo o próprio.

Passamos o dia fingindo que vivemos nossa vida e estamos apenas evitando pensar sobre ela.

Como é  chata essa vida moderna.

Não  estamos acostumados com a ausência  de tarefas. Impomo-nos, o tempo todo, obrigações.

E quando, por um milagre,  conseguimos a proeza de não  ter nada para fazer.

 Consultamos  as redes sociais para arrumar uma discussão,  curtir um vídeo  ou uma foto, um texto quem sabe.

É imperativo não  parar nunca, talvez  seja por isso que vivemos cansados.

E cansados jogamos sentimentos, dores alegrias, tristezas, para  o momento em que possamos dialogar com eles.

Eles uma hora vêm nos visitar, cobrar nossa negligência,  falta de bom senso em fingir que somos  seres autômatos.

Daí  aparece a bendita insônia,  crise de ansiedade, o choro agarrado ao travesseiro ou sufocado por ele, porque o bom é  que ninguém  ouça  o nosso pranto.

 Que ninguém  perceba nossas fragilidades ou o quão  humanos, temerosos e covardes somos.

 Uma hora a vida vai nos cobrar muito caro por sermos tão negligentes com ela.

 Com uma doença,  nossa ou de quem amamos,  ou com a perda de um familiar.

Cobrará  de nós essa irresponsabilidade que temos com o que somos, com nosso tempo e com o quê  priorizamos enquanto  estamos aqui nessa travessia.

No livro A morte é  um dia que vale à pena viver da Ana Cláudia Quintana Arantes, fala-se de morte, mas sobretudo de vida.

 Uma médica  especialista em cuidados paliativos  aprendeu que a morte  não  precisa e nem deve ser tão  punitiva e pesada.

No livro a autora trabalha temas como espiritualidade, arrependimentos, luto, fé  e a sobriedade de quem está  partindo.

São  vários  arrependimentos, mas o que nos toca sobremaneira é  como as pessoas  deixaram o tempo passar sem dar importância  ao que é de fato  importante, ou dando importância  ao que era irrelevante.

Será  que estamos vivendo uma vida com sentido para nós  mesmos?

Que enquanto estamos  com nossa família,  amigos, amores, estamos com eles  ou estamos preocupados com nossas redes sociais, nosso trabalho, nossos compromissos?

Estamos sempre com a cabeça  num futuro que, talvez, nem chegue.

O que o livro traz de mais contundente é  que tudo que damos demasiada importância  agora, talvez e,  provavelmente,  não  será  tão  importante  no futuro.

Vale à pena receber visitas incômodas  na cama quando poderíamos  receber  um amor, o nosso e/ ou do outro, o abraço  de um filho, a mão  carinhosa da mãe?

Ou o simples beijo de Morfeu, coisa rara  e valiosa atualmente.

Quem estamos levando para a cama, quem merece dormir conosco?

Qual o tipo de pessoa você  se tornou para ser anfitrião  constante de visitas tão  questionáveis?

Essa é  a pergunta e a resposta. Boa noite!