Coração acelerado, pressão arterial alterada, ansiedade. O que acontece no organismo dos torcedores fanáticos durante as partidas de futebol? Para encontrar respostas a essa pergunta as pesquisadoras Aline Colares e Heloísa Helena Baldy dos Reis dedicaram quatro anos ao estudo que deu origem ao livro Fisiologia das Emoções no Futebol, obra lançada oficialmente no final de semana em Campinas.
Professora titular aposentada da Unicamp e uma das maiores autoridades em pesquisa esportiva do Brasil, Heloísa ressalta que o livro traz os resultados de um estudo inédito, sugerido por Norbert Elias, um dos mais importantes sociólogos do século XX.
“A ideia da pesquisa surgiu no livro A Busca pela Excitação, escrito por Norbert Elias e seu ex-estudante Eric Dunning, homem que tive a honra de chamar de mestre e amigo. Ter concretizado este estudo de forma inédita é, sem dúvida, uma das realizações mais gratificantes da minha carreira”, afirma a socióloga.
Heloísa conta ainda que o livro Fisiologia das Emoções no Futebol é resultado de um encontro marcado pelo destino. “Eu procurava há anos por um especialista em fisiologia para propor a pesquisa sugerida por Norbert Elias. Em 2016, Aline Colares chegou até mim com o convite para ser sua orientadora no doutorado que ela já havia iniciado na Unicamp. Propus a pesquisa, ela topou na hora. O resultado não poderia ser melhor”, diz.
Aline Colares é cearense, graduou-se em Educação Física na Universidade de Fortaleza, fez mestrado em Ciências Fisiológicas, no Instituto Superior de Ciências Biomédicas da Universidade Estadual do Ceará e concluiu seu doutorado em Educação Física e Sociedade, na UNICAMP.
A obra
O livro avalia cientificamente as emoções no futebol, vivenciadas por torcedores fanáticos durante dois jogos do Corinthians.
“Buscamos recapitular o desenvolvimento filosófico da teoria das emoções ao longo do tempo, estabelecer o significado de torcer para os fanáticos e evidenciar suas emoções auto percebidas e relatadas em diferentes situações de jogo, como fazer um gol, perder a chance de gol, sofrer um gol, vitória e derrota”, relata Aline.
O engate entre a sociologia e a fisiologia do esporte, complementa a autora, se estabelece quando a experiência emocional dos torcedores na hora da partida é agregada a análise de marcadores bioquímicos (cortisol e glicose) e hemodinâmicos (pressão arterial e frequência cardíaca) para dar início às investigações da trilha emocional impressa no corpo pelo ato de torcer pelo seu time de futebol.
“É a primeira vez que a impressão biológica das emoções desencadeadas pela vivência esportiva é destacada como evidência científica e como objeto de estudo da educação física”, ressalta Colares.
Entre os indicadores estudados na pesquisa, que contou com a participação de seis voluntários, estão os níveis de cortisol dos torcedores.
“Conseguimos enxergar, por exemplo, que em um dia de disputa de final de campeonato, os fanáticos por futebol já acordam com seus níveis de cortisol mais elevados. Outro fato curioso é que, apenas pela análise dos níveis de cortisol e frequência cardíaca, é possível deduzir o que está acontecendo no jogo: uma chance de gol perdida, uma defesa de pênalti, uma derrota, e até se a partida já chegou ao fim”, explica.
Durante o estudo, que aconteceu entre 2016 e 2019, as pesquisadoras analisaram mais de 117 mil batimentos cardíacos, dezenas de coletas de sangue e cortisol salivar, respostas para o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e Inventário de Depressão de Beck (BDI), além das avaliações dos resultados de acompanhamento de pressão arterial dos participantes em três situações diferentes: dias rotineiros, dias de jogo de final de campeonato e dias de jogo no meio do torneio, sem caráter decisivo.
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