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Mobilidade elétrica: Brasil pode virar depósito de sucata da Europa

Mobilidade elétrica: Brasil pode virar depósito de sucata da Europa


Fala, galera. Beleza? Gostaria de deixar bem claro que trarei minha percepção e opinião, mas quero gerar uma reflexão sobre o assunto. Para ser bem direto: há tantas coisas acontecendo nesses primeiros meses do ano que fico com a impressão de termos “forças do mal” planejando destruir a mobilidade elétrica no Brasil.

No começo de janeiro, tivemos a novela do Inmetro e o PBEV, com a bagunça gerada pelo anúncio da redução da autonomia declarada dos veículos elétricos no Brasil. Para entender melhor a história, de uma olhada no texto publicado sobre o assunto .

Na mesma época, alguns “especialistas” do mercado defendiam o fim da isenção do Imposto de Importação para os veículos elétricos no Brasil. Agora já vemos montadoras que se declararam empenhadas na eletrificação idolatrando o maravilhoso Etanol.

Sobre o Imposto de Importação: ele tem como puro e simples objetivo proteger a produção nacional de uma determinada mercadoria contra a oferta de produtos importados. Se quer tem o objetivo de arrecadação, serve apenas para encarecer os produtos importados e torná-los menos atrativos em comparação aos nacionais.

Interessante que já usam o argumento de que o veículo elétrico é muito caro e elitista. Agora desejam torná-lo mais caro e reduzir as opções, visto que, se for aplicada a alíquota de 35% do imposto de importação, veículos como JAC EJS1, Renault Kwid e-tech e Chery iCar teriam preços injustificáveis ou, no máximo, ficariam restritos a frotas operacionais.

Na verdade, aqueles que defendem o imposto de importação para veículos elétricos pensam em preservar os veículos a combustão produzidos no Brasil. Enquanto não houver a produção de veículos elétricos em quantidade, qualidade, variedade e preço para atender o consumo local, não faz sentido algum taxar a importação

Recentemente, tivemos a declaração de Carlos Tavares, CEO da Stellantis, que o Brasil não precisa de carros elétricos, mas de Etanol. Engraçado ouvir isso da pessoa à frente de uma das empresas que mais foram beneficiadas pela venda de veículos elétricos. Só posso pensar que uma declaração como essa pode ter alguns motivos implícitos.

Primeiramente, Carlos Tavares representa as principais marcas vendidas na Europa e sabe-se que a União Europeia decidiu banir os carros novos que usam combustível fóssil a partir de 2035. Sendo assim, precisam de um mercado consumidor de proporções continentais para continuarem vendendo esses veículos.

É importante deixar claro que, com a meta de redução de emissão de carbono e o aumento da demanda por veículos elétricos no velho mundo, é preciso garantir a maior parte da produção para essa região. Se conseguirem desmotivar os brasileiros a comprarem veículos elétricos, será um mercado a menos para se preocupar em atender e disponibilizar infraestrutura de carregamento.

O segundo ponto seria mais uma questão de espelhar a situação atual da Europa para o Brasil. O continente está sofrendo uma crise energética devido à guerra na Ucrânia. Como a principal matriz na Europa é à base de termelétricas, e essas alimentadas por gás de origem russa, o custo da energia foi para as alturas. Ficou a impressão de que o CEO da Stellantis inveja um pouquinho a nossa situação, pois ele se declarou apaixonadamente pela tecnologia brasileira, o Etanol.

Mas por que a Europa não produz o Etanol se é tão bom assim? Bem, imagino que seja pela restrição de áreas para plantio de cana de açúcar com objetivo de produção para combustível. Já não há muitas áreas de plantio para alimento, imagine ter que reservar uma boa parte para abastecer os carros. Mas se ele fosse tão bom assim, poderiam importar nosso Etanol. Acho que seria uma boa troca, mandamos Etanol e eles nos pagam com carros elétricos.

Vejam como é irônico: o que não querem para os países mais avançados, pregam com a solução para o Brasil. Por que temos que reservar uma parte da nossa área de plantio para combustível enquanto a produção de alimento do Brasil é a mais eficiente? Nós alimentamos o mundo. Dessa forma, mais importante é garantirmos que o espaço que temos para plantio seja usado ao máximo para produção de alimentos.

O interessante é que não se fala nada sobre a matriz energética limpa que o Brasil possui e muito menos sobre o potencial de produção de energia solar e eólica na terra mais abençoada por Deus.

Tenho colegas no mercado de energia a base de biomassa que já fizeram as contas e chegaram à conclusão que um hectare de placa fotovoltaica pode produzir até 60 vezes mais energia que um hectare de cana de açúcar. Por conta disso, estão mudando gradativamente a matriz energética de biomassa para fotovoltaica.

Algumas pessoas usam o argumento de que a cana de açúcar captura o carbono emitido pelos carros, só se esquecem que as plantas também emitem CO2 durante a noite. O processo de produção do etanol consome energia elétrica, o transporte e a distribuição do etanol é quase tão complexo e danoso quanto da gasolina, os motores flex continuam a ser complexos e exigem uso de lubrificantes. Mesmo que o etanol fosse usado como célula de combustível para alimentar um motor elétrico, ainda teríamos boa parte da problemática que citei. Está vendo como a conta não fecha tão bonita quanto querem pintar?

Ah, mas a produção e descarte da bateria do carro elétrico causam um dano muito grande à natureza. Será mesmo? Por que não estão preocupados com isso na Europa, Estados Unidos e na China? Só no Brasil que a bateria pode causar dano?

Até mesmo o lítio, que é considerado o principal bicho papão das baterias (e nem é um problema tão grande assim), será coisa do passado em pouco tempo.  A CATL, principal produtora de baterias para veículos elétricos, anunciou recentemente que começará a produzir baterias com íon de sódio. Inclusive, o primeiro modelo que será equipado com a nova bateria será o JAC EX10 (versão chinesa do JAC EJS1).

Ah, mas boa parte da energia elétrica é oriunda de termelétricas. Mais uma vez, se na Europa, que possui uma boa parte da matriz energética à base de carvão, não se preocupam com isso, por que o Brasil, que possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, deveríamos considerar um problema?

Tudo isso é a tentativa desesperada de adiar ao máximo a migração dos veículos a combustão para o veículo elétrico. Até os carros híbridos são uma tentativa desesperada de manter vivo o motor a combustão por mais algum tempo.

No final das contas, a minha conclusão é que as montadoras precisam garantir que o brasileiro continue desejando os velhos carros para o bem do velho mundo. Não sou radical a ponto de dizer que os carros a combustão devem ser proibidos, mas aí prejudicar a mobilidade elétrica é demais.

Então, meu caro colega, entusiasta ou não da mobilidade elétrica: não se deixe enganar por quem sempre vendeu carro a combustão e quer continuar vendendo a mesma coisa para você. Diesel, gasolina e etanol tiveram sua parte fundamental na história e continuarão existindo por algum tempo, mas não adianta adiarem a evolução. A mobilidade elétrica, sim, é a solução para o Brasil e para o mundo.

Até mais.

Fonte: IG CARROS