Desde que veio a tecnologia flex dos carros – a qual permite que se use tanto etanol, gasolina ou a mistura dos dois no mesmo tanque – , o dilema surgiu: qual combustível vale mais a pena? A questão vai além dos valores, pois o lado mecânico se impõe também.
De um modo geral, é sabido que o etanol, um combustível de origem vegetal , além de mais barato em relação à gasolina, é muito menos agressivo para o planeta, sendo apontado por alguns cientistas e estudiosos como a saída mais barata e eficaz para o avanço no processo de descarbonização no Brasil.
Enquanto isso, a questão fica em torno dos altos e baixos com relação aos preços para o consumidor, valores que acabam impactando no orçamento de todos, inclusive dos que não possuem qualquer tipo de veículo.
Quanto aos que têm carros que podem rodar tanto com gasolina quanto etanol, a solução é saber qual dos dois combustíveis compensa mais.
Para chegar a uma resposta, não basta se orientar apenas pelo preço menor do etanol, pois isso vai depender de como o veículo se comporta com o combustível e avaliar qual é a diferença de preços em relação à gasolina para identificar qual é o melhor combustível para economizar.
A regra geral, ainda que dependa muito de carro para carro, é simples. Se o etanol custar 70% ou menos que o valor da gasolina, ele passa a valer mais . Em caso contrário, prevalece a gasolina. A fórmula é simples: basta multiplicar o preço da gasolina por 0,7 e compará-lo com o valor do etanol.
Com a volta dos impostos federais (PIS/Cofins e Cide) sobre os combustíveis, o aumento é de R$ 0,47 para a gasolina e de R$ 0,02 para o etanol. Para tentar compensar o aumento, a Petrobras reduziu o preço da gasolina em R$ 0,13, o que pode levar o combustível a aumentar R$ 0,34 nas bombas. Com aumento ou não, a gasolina ainda é mais vantajosa na maioria dos estados.
Tomando como exemplo o Estado de São Paulo, o preço médio da gasolina era de R$ 5,08, antes da alta. Com a volta dos impostos federais, deverá passar a R$ 5,42. Já o etanol hidratado era vendido a R$ 3,79 e pode passar a R$ 3,81, um pequeno acréscimo, uma vez que o incremento de tributos federais deve se limitar a R$ 0,02.
Se levarmos em consideração o estado de São Paulo, a gasolina é mais vantajosa, uma vez que, se multiplicarmos R$ 5,42 por 0,7, o resultado dá R$ 3,794, um pouco abaixo dos R$ 3,81 pedidos pelo litro do etanol.
Etanol traz vantagens para o seu carro e do ponto de vista sustentável
Vamos tomar como exemplo o Chevrolet Onix, o carro mais vendido do Brasil em janeiro de 2023. A versão 1.0 aspirada (que não tem turbo) faz médias de 9,5 km/l na cidade 12,4 km/l na estrada, rodando com etanol. Na gasolina, são 13,6 km/l na cidade e 17,5 km/l na estrada, segundo a tabela 2023 do PEBV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular), do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).
Com um tanque de combustível com capacidade para 44 litros, a autonomia dá 418 km (ciclo urbano) e 545,60 km (ciclo rodoviário) rodando com etanol, enquanto que com gasolina os valores são maiores: 598,4 km na cidade e 770 km na estrada.
Vamos levar em consideração o custo para encher o tanque com cada combustível. Colocar 44 litros de etanol vai custar R$ 167, enquanto a mesma quantidade de gasolina sairá por R$ 238. O combustível vegetal representa 70,16% do custo pedido pelo derivado do petróleo. Ou seja, é praticamente um empate.
Usando estes dados como parâmetro, rodar com gasolina vai compensar um tico a mais do ponto de vista econômico – lembrando que estamos falando de SP -, mas traz as desvantagens de ser mais poluente e menos limpa para o seu carro.
Em caso de uma diferença pequena, o motorista tem que lembrar algumas vantagens do uso do etanol. A primeira é o desempenho. A maioria dos carros rende mais cavalaria e torque com o uso dele. Além disso, o etanol tem menos carbono, o que ajuda a deixar o motor limpo, sem a contaminação de depósitos carboníferos que a gasolina causa. Ou seja, você terá um motor mais limpo e, com isso, menos propenso a precisar de manutenções mais caras no futuro . No caso, a economia virá a médio e longo prazo. Algo ainda mais importante em uma época em que turbo e injeção direta viraram a via de regra.
Contudo, temos que lembrar que isso varia de acordo com o carro e, claro, o seu perfil de direção, uma vez que o jeito de dirigir pode influenciar o consumo em cerca de 40% . A única maneira de você saber de fato qual é o melhor combustível é testar.
Se o seu carro/moto não tiver computador de bordo, você terá que medir tanque a tanque – tente esgotar o máximo de combustível para conferir qual é o mais custoso. Caso o veículo tenha computador de bordo , zere o odômetro na hora do reabastecimento e confira o consumo apontado.
Instituto Mauá de tecnologia contesta a conta de 70%
Lembrando que a regra de até 70% de rendimento do etanol em relação à gasolina nem sempre se reflete na prática. O Instituto Mauá de Tecnologia fez um estudo envolvendo vários carros (popular 1.0 e 1.6, sedan médio e SUV). O resultado foi que a variação de consumo médio com etanol em relação à gasolina (sempre com combustíveis não aditivados) variou de 70,7% a 75,4% . Os valores encontrados para os mesmos modelos de veículos no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV) foram, respectivamente, 66,7% e 72,1%. As variações deixam claro que somente você poderá saber qual a opção é a mais benéfica. O jeito é aplicar o teste descrito acima.
De qualquer forma, as vantagens vão além da bomba de combustível e da menor manutenção, pois temos que levar em consideração os prejuízos futuros para o meio-ambiente . Não é à toa que o governo optou pelo tributo menor ao etanol como forma de incentivar a usar mais o combustível de origem vegetal, dado que o ciclo de plantio dele é mais limpo do que o ciclo de extração e refino da danosa gasolina, combustível de origem fóssil que é responsável por maiores emissões de gases que agravam o efeito estufa.
Fonte: IG CARROS