Fala, galera. Beleza? Um colega meu pediu para trazer dados sobre o mercado de mobilidade elétrica do Brasil como forma de fundamentar minha opinião do texto anterior .
Farei isso, prometo. Mas antes gostaria de falar um pouco mais sobre a aceitação da mobilidade elétrica pela população em geral na minha visão. No início, as pessoas me ouviam falar do assunto com um pouco de ceticismo, mas com muita curiosidade. Hoje estamos cercados de especialistas de carro elétrico sem nunca terem dirigido um.
Uma publicação sem nenhuma pretensão gerou mais de 20.000 visualizações em apenas 24 horas, 300 curtidas, 250 comentários e dezenas de compartilhamentos. Muita coisa para um perfil que possui menos de 3.000 seguidores. Não se trata de uma publicação diferente das demais que faço rotineiramente, apenas mostrava um carregamento em um local próximo de casa.
O mais curioso é que quase que todos os comentários diziam a mesma coisa: “Não vale a pena”, “compraria um carro de luxo pelo mesmo valor”, “rodaria por muito tempo com a diferença do valor”, “a bateria vai custar o preço do carro” e “quero ver como farão o descarte da bateria”.
Muitos comentários feitos por especialistas de rede social, sem nenhuma experiência própria. A diferença é que parece haver uma ação organizada para gerar o sentimento de raiva sobre a mobilidade elétrica. Não são poucos os vídeos e podcasts que apresentam doutores e com números extremamente negativos. Todavia, as informações nunca são completas ou baseadas em nossa realidade.
Em um dos comentários que respondo a pessoa escreveu: “a Europa é totalmente dependente do gás russo e das termelétricas mantidas a carvão”. Então respondi: “está na hora de aprenderem algo com o Brasil”.
Mas não é toda a Europa que se encontra nessa situação. Inclusive o país com o menor índice de emissão de CO2 por kWh produzido é a Suécia, com apenas 21g (gCO₂eq/kWh). Apesar de apenas 65% da matriz energética ser de origem renovável, 99% da fonte de energia é de baixo carbono.
Apesar do Brasil apresentar um índice de 92 g (gCO₂eq/kWh), a nossa matriz energética é constituída por 90% de fontes de baixo carbono e 87% de fontes renováveis . O mais interessante é que 18,38% são originados da energia eólica, e a tendência é aumentar cada vez mais.
Voltando um pouco para o mercado de mobilidade elétrica, um dos principais argumentos utilizados é que o carro elétrico é muito caro e inacessível para a maioria das pessoas. De fato, o carro elétrico possui um valor de aquisição muito alto, mas não é exclusividade apenas do carro elétrico.
O carro mais barato do Brasil é o Renault Kwid Zen pela bagatela de R$ 68.190, equipado com um motor 1.0 de 12V e 71 cv, entrega incríveis 10 kgfm. Enquanto isso, o JAC EJS1 é vendido por R$145.900, equipado com um motor elétrico de 62 cv, mas com 15 kgfm. Além de 50% a mais de força, em geral, os veículos elétricos possuem muitos mais itens de conforto e segurança que seus equivalentes a combustão.
Cabe uma ressalva: quando falo de equivalentes, não falo de preços e sim de propostas. Porque se fosse comparar preços, estaríamos comparando o mesmo JAC EJS1 com uma Chevrolet Tracker. Aí você pode se perguntar: por que eu pegaria um subcompacto pelo preço de um SUV? Simplesmente porque a mobilidade busca muito mais que tamanho, mas a eficiência.
Mesmo que a aquisição de um carro elétrico não aparenta ser tão vantajosa em relação ao preço de aquisição, vamos para o uso no dia a dia. Para equilibrar a comparação, usaremos dois veículos da mesma marca. Renault Kwid Zen vs. Renault Kwid e-Tech.
Apesar do Kwid Zen custar a metade do seu irmão elétrico, seu custo com revisões até 60.000 km será 53% maior. Pode até ser um valor inexplicável quando comparado com o valor de aquisição. Entretanto, a história fica muito interessante quando começamos a considerar o preço das manutenções com troca de peças com desgaste natural e abastecimento.
Focando apenas no abastecimento, considerando os dados divulgados pelo INMETRO através do PBEV, enquanto o Renault Kwid Zen possui um consumo de 15,3 km/l de gasolina na cidade, o Renault Kwid e-Tech teria um consumo equivalente de 52,7 km/l.
Sem considerar a diferença do custo de manutenção e focando apenas no abastecimento. Com R$ 81.800 de diferença entre ambos os carros, considerando uma gasolina por R$ 5 o litro, você rodaria 250.308 km no modelo a combustão e 862.172 km, apenas quase 3,5 vezes e meio mais eficiente.
O problema é que nossos amigos haters de plantão não conseguiriam imaginar um Renault Kwid rodando mais de 800.000 km. Então vamos comparar o custo que cada um terá para rodar 100.000 km.
Para o Renault Kwid Zen rodar 100.000 km, ele precisará de 6.536 litros de gasolina, o que custaria R$ 32.679,73. Enquanto isso, carregando em sua casa, para rodar os mesmos 100.000 km, você precisaria de 0,12 kWh por km. A um custo de R$ 0,88 por kWh, seu gasto com energia seria de R$ 10.560. Praticamente 3x mais barato.
Ah, ainda sim a conta não fecha. De fato, pensando friamente na relação financeira, você precisaria de 369.818 km rodando com um carro elétrico. Para muitas pessoas, seria uma vida inteira de motorista. Para outras, seriam apenas 4 anos dirigindo. Pergunte para um motorista de App o quanto ele roda por ano.
Acontece que as vantagens financeiras não devem ser as únicas a serem avaliadas. Além de conforto e segurança, ainda temos os benefícios ao meio ambiente. Para termos ideia do potencial de benefícios, apenas a rede de carregamento da Tupinambá foi responsável por mais de 300 MWh de energia fornecida.
Tudo isso equivale a 3 milhões de quilômetros rodados com veículos elétricos e 420 toneladas a menos de CO2 na atmosfera. Seriam necessárias 20.000 árvores para compensar toda essa quantidade de gases nocivos na atmosfera.
Não sei se você valoriza mais o conforto, a segurança, a tecnologia ou o dinheiro, só sei que dificilmente você conseguiria ter tantos benefícios com o carro a combustão. Até a agora, a defesa dos carros a combustão se resume a ser mais barato do que comprar e mais rápido para abastecer. Em pouco tempo, nem essas vantagens poderão ser consideradas.
O ponto é que, mesmo que a maioria da população ainda seja usuária de carro a combustão, pesquisa realizada indica que 58% dos entrevistados desejam trocar seu veículo a combustão por um carro movido à eletricidade .
Claro que você pode dizer que papel e sonhos aceitam tudo, a questão é que o mercado automotivo está refletindo na prática esse desejo de mudança. Enquanto as principais marcas instaladas no Brasil estão paralisando a produção de carros a combustão, os números de vendas dos veículos eletrificados batem recorde após recorde. Apenas no mês de março de 2023, foram emplacados quase 6.000 veículos eletrificados, um aumento de 55% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a ABVE.
Acha pouco? E se eu te disser que os números de veículos eletrificados estão aumentando em um ritmo que já superaram o número de vendas dos veículos exclusivamente a gasolina? Não acredita? Pois isso já aconteceu em 2022. Segundo a Anfavea, foi uma diferença pequena, mas já aconteceu.
Esse crescimento não acontece simplesmente porque aumentamos a quantidade de carregadores no Brasil, muito menos porque a renda per capita aumentou. O crescimento das vendas é impulsionado primordialmente pela competição entre as marcas e a maior oferta de modelos.
Até 2019, quando tínhamos apenas algumas opções de carros, a frota de veículos de passeio não passava de 3.500 unidades. Hoje temos muito mais opções e atingimos mais de 10 vezes a quantidade de 2019.
Como a chegada de novas marcas, como a GWM e a Seres, a competição será ainda mais acirrada. Não são apenas elas que prometem mais opções. Ainda esse ano haverá lançamentos de diversos modelos das marcas já representadas no Brasil. Veremos o que o final de 2023 nos reserva. E para meus queridos haters de plantão, só desejo que continuem acompanhando o conteúdo que produzo. Vocês são meu maior incentivo para continuar.
Até mais.
Fonte: Carros