Veículos

Transição para carros elétricos é certa, mas ritmo e forma são dúvidas

Arquivo pessoal Os entusiastas da mobilidade elétrica reunidos no congresso
Arquivo pessoal Os entusiastas da mobilidade elétrica reunidos no congresso
 

Fala, galera. Beleza? Semana passada, mais exatamente no dia 14 de junho, tive a oportunidade de finalmente conhecer a capital do nosso Brasil. Juntamente com os demais membros da diretoria, representei a ABRAVEi (Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores) no seminário promovido pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) com o tema “Conduzindo o Futuro da Eletrificação no Brasil”.

Preciso confessar que não fui de carro elétrico. Apesar da eletrovia entre São Paulo e Brasília permitir essa viagem, eu precisei ir e voltar no mesmo dia. Foram 24 horas acordado entre a saída e o retorno para casa. Mas o que que me afetou mesmo foi a distância da minha família neste dia.

Agradeço à Deus pela minha família e, principalmente, pela minha esposa, que me incentivou a ir e segurou fortemente as pontas em São Paulo, permitindo que eu vivesse essa experiência única.

Sem mais enrolação, peguei a estrada com o Chapolin até o aeroporto de Viracopos, onde o deixei guardadinho no estacionamento para garantir meu retorno como zero emissão de carbono. O voo para Brasília pode até não ser tão verde, mas optei por neutralizar essa emissão quando eu adquiri as passagens.

Chegando em Brasília, o deslocamento até o evento não poderia ser diferente. Meu parceiro Rodrigo de Almeida buscou a mim e mais dois companheiros de viagem (ambos colegas de trabalho na Tupinambá Energia) com seu Bolt. Diga-se de passagem, esse Bolt já fez mais vezes a rota São Paulo – Brasília que qualquer outro carro elétrico. Já adianto que a volta também foi em grande estilo, com uma carona no Volvo XC40 do nosso parceiro Vitor Ramagem.

Já no local do evento, fomos recebidos com muito calor (tanto humano quanto do dia ensolarado) pelos demais membros da “gangue”. Inclusive, de início, tive a oportunidade de conhecer duas personalidades que respeito muito e sonhava em conhecer pessoalmente: o engenheiro Elifas Gurgel e o jornalista Boris Feldman.

Ao entrar na área de exposição do seminário, havia dezenas de veículos eletrificados de diversas montadoras diferentes. Desde o pequeno Caoa Chery iCar até o cavalo mecânico 100% elétrico da Volvo, propostas de veículos de entrega, como o Renault Kangoo e-tech até o esportivo Ford March e4x. Não podemos deixar de citar as novidades, o Iveco e-Delivery e (ainda mascarado) Chevrolet Blazer EV.

Além dos veículos, tivemos a exposição dos produtos que atendem ao universo da mobilidade elétrica. Em relação ao fornecimento de componentes elétricos, tivemos a WEG com um portfólio bem amplo para quem deseja produzir um veículo elétrico e, em relação ao carregamento, a Raizen com o produto voltado para garantir a energia elétrica que moverá nossas frotas, desde a geração até o momento da recarga.

Quanto ao seminário, o evento foi separado em 5 painéis:

Painel 1: Evolução da eletrificação e descarbonização no mundo e no Brasil Painel 2: Produção e cadeia de suprimentos Painel 3: Perspectivas de investimentos e infraestrutura Painel 4: Desafios para o mercado brasileiro frente a eletrificação Painel 5: Visão dos CEOs sobre a eletrificação no Brasil em 2035

A escolha por fazer o evento em Brasília foi estratégica. O objetivo não era trazer o debate da mobilidade para a sociedade, tanto que o evento foi fechado para convidados. O foco era trazer uma discussão perante o Governo Federal.

Quando digo discussão, foi exatamente o que aconteceu. Diferentemente da minha expectativa, que era de um discurso já pronto e com a concordância de todos os participantes dos painéis, o seminário trouxe muitas informações relevantes sobre todo o universo da mobilidade elétrica e muito debate quanto aos dados apresentados e opiniões sobre o assunto. Foi possível observar em vários momentos visões diferentes sobre o mesmo ponto.

Posso dizer que o debate foi muito positivo para que fosse gerada em provocação a uma reflexão em cada um dos painéis. Entretanto, houve um consenso quanto ao fato que a mobilidade elétrica é algo inevitável e fundamental para o desenvolvimento do Brasil. O ponto de contradição entre muitos participantes está mais em relação ao ritmo que deve ser adotado.

Outro consenso fundamental foi que a produção local é fundamental, tanto para atender o consumo interno quanto para tornar o Brasil um polo exportador de veículos elétricos, principalmente para a América Latina. A questão é: o que fazer até que tenhamos capacidade de produção local? A importação é inevitável e, de fato, isso pode tirar o sono de algumas montadoras representadas pela Anfavea.

Por conta disso, grupos como a Toyota e Stellantis defendem a transição gradual, passando pelos veículos híbridos Flex, enquanto empresas como a GM desejam a virada de chave definitiva para os veículos 100% elétricos.

Ah, mas como faríamos se todos os veículos fossem elétricos? Isso geraria um apagão. Bem, além do fato de ser impossível termos veículos suficientes para gerar uma migração em grande escala em um pequeno período, recebemos um dado extremamente relevante do Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, de que o Brasil caminha para uma produção muito superior em relação ao consumo de energia elétrica.

Quem acompanha essa coluna, sabe que já cantei essa bola há algum tempo, mas é bom ouvir isso de fontes oficiais do Governo F/ederal.

Não faltaram discussões quanto ao tamanho da mobilidade elétrica do Brasil em comparação aos demais países, demonstrando que temos um longo caminho a trilhar, inclusive em relação à infraestrutura de recarga. Estima-se que, em 2030, enquanto o Brasil terá 1,27% da frota nacional constituída por veículos 100% elétricos, a margem global será de aproximadamente 10%. Parece pouco, mas isso significa uma expectativa de 725.000 mil carros elétricos no país, um crescimento de 60 vezes em comparação com os números de 2022 em apenas 8 anos.

Pode não ter sido o objetivo original da ANFAVEA, ao propor o seminário, promover um debate de ideias tão heterogêneas, mas essa foi a cereja do bolo. Posso garantir que, melhor que os debates nos painéis, foram as conversas entre os carros no salão. Foi muito gratificante poder falar sobre a mobilidade elétrica com executivos das montadoras, políticos, professores universitários, jornalistas e, ainda mais, entre grandes amigos e entusiastas.

Digo mais, considero que a missão da comitiva da ABRAVEi foi muito bem-sucedida para trazer a visão dos usuários aos principais decisores do setor automotivo. Cada um se dedicou de corpo e alma para falar com o maior número de pessoas sobre a mobilidade elétrica e como o usuário necessita que ela seja desenvolvida.

Gostaria de encerrar a coluna dessa semana com imenso agradecimento aos organizadores e parabenizar pelo debate promovido no seminário. Parabéns, ANFAVEA, que venham os próximos seminários.

Até mais.

Fonte: Carros