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Advogada explica os desafios da adoção monoparental no Brasil

Pexels/Karolina Grabowska Advogada Mariana Serrano pontua o estigma enfrentado por pais e mães solos que desejam adotar
Pexels/Karolina Grabowska Advogada Mariana Serrano pontua o estigma enfrentado por pais e mães solos que desejam adotar


Tem se tornado cada vez mais comum enxergarmos uma série de mudanças nos arranjos familiares. A tradicional estrutura familiar, composta por um pai e uma mãe, vem dando lugar a uma diversidade de configurações familiares, incluindo a adoção monoparental, feita por pais e mães solos. No entanto, este modelo traz consigo desafios que são únicos, incluindo um processo burocrático exigente que envolve avaliações psicológicas, estudos sociais e adequação do ambiente doméstico.

A advogada Mariana Serrano, sócia na Crivelli Advogados, explica que formalmente a adoção monoparental se equipara à feita por pessoas casadas. “Quando uma pessoa decide constituir uma família monoparental por meio da adoção, teoricamente todas as premissas que existem para permitir ou negar o direito a adotar são as mesmas daquelas praticadas em relação às pessoas casadas. A questão da adoção por pessoas ‘solo’ é que a nossa sociedade produz valores sobre o que deve ser uma família ‘ideal’ a partir de uma perspectiva que costumo chamar de ‘família de comercial de margarina’, ou seja, uma família multiparental e heterossexual”, pontuou.

Ou seja, o próprio processo de adoção ainda não é visto pela sociedade como algo “comum”. Desta forma, muitos pais e mães acabam enfrentando dificuldades decorrentes de preconceitos e estereótipos sociais, que, muitas vezes, questionam sua capacidade de criar um filho de forma equilibrada. “Na teoria, é deixado em letras garrafais que não se deve haver discriminação entre o tipo de formação familiar para o processo de adoção, já que são muitos os tipos de família que existem. Na prática, há seres humanos que participam desses processos e que acabam por perpetrar preconceitos, ainda que por um viés inconsciente”, afirma a advogada.

Mariana acrescenta: “Há equipes multidisciplinares, promotores e juízes, e todos eles, como humanos que são e inseridos na sociedade que estão, possuem vieses inconscientes de julgamento que podem desvalorizar, ainda que sem querer, as conquistas e os esforços de famílias monoparentais”, complementa. “Nesses 12 anos de advocacia, já ouvi mais de uma vez que ‘é estranho um homem gay solteiro querer adotar uma criança’. Isso porque nossa sociedade ainda é homofóbica e ainda pensa que a família saudável é composta por pai, mãe, e filhos, todos heterossexuais”, diz.

Mesmo enfrentando o olhar preconceituoso da sociedade, estudos têm mostrado que crianças adotadas por pais solos têm a oportunidade de desenvolver laços afetivos estreitos e individualizados. O ambiente familiar pode ser rico em amor, atenção e suporte emocional, fundamentais para o crescimento e desenvolvimento saudáveis da criança. “Embora, a rigor, não haja diferença teórica no processo de adoção entre uma pessoa solteira e uma casada, costumo recomendar procurar advogados empáticos às vivências solo, para que essas pessoas tenham condição de defender seus interesses nesse processo, que é longo, cansativo e burocrático”, finaliza a advogada.

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Fonte: Mulher