Há muito se discute a transformação do futebol num business: frio, calculista e sem paixão, um lugar onde o negocio abarca todos os ambientes.
Primeiramente, são inegáveis as mudanças ocorridas no futebol nas últimas décadas. Processo que começou com João Havelange, “o Rei Sol”, nos anos 70 com contratos astronômicos para a FIFA até a proliferação da prevalência da injeção de dinheiro em todo o mundo.
Olhos foram fechados para esse fenômeno em prol da paixão pelo futebol enquanto o dinheiro jorrava nas ligas e contratava jogadores por cifras inimagináveis a ponto de 100 milhões de euros parecerem troco de feira.
A hipocrisia dos atletas acompanhou o mesmo ritmo das contratações e declarações de amor vazias permearam o ambiente e a mídia. Mudava-se de clube como se mudava de roupa.
As ligas vendendo também uma paixão inexistente recheada de propagandas e apostas restando ao torcedor defender seu clube do coração, por sinal fora dos estádios pois a elitização do lado de dentro passou a impedir o acesso das classes populares.
“Não tirem os negros do nosso futebol” dizia João Saldanha. Ainda assim um grupo seleto passou a dominar os estádios no Brasil, mesmo com as novas arenas s sem lotação máxima, nasceram as torcidas de teatro…
Mas agora veio uma situação nova, e interessante, que nos permite dissociar quem só pensa em dinheiro daqueles que ainda tem um punhado de amor por onde jogam. É o caso do elenco atual do Botafogo em que Eduardo, Adryelson, Tiquinho e Lucas Perri já recusaram propostas para ganhar mais no brutal “mundo árabe”.
Não se deve esquecer nisso tudo, principalmente nos últimos tempos, o protagonismo desses árabes, esses corpos cujas almas têm apenas dinheiro as quais compram atualmente sem dó o universo do futebol. Kanté, Benzema, Cristiano Ronaldo, Luis Castro, Brozovic, e agora Neymar (que abriu mão do reconhecimento e glória por pomposos petrodólares), assim como outros que já se renderam a essa pobreza sem tamanho que só o dinheiro dá.
Morar numa ditadura, num calor abrasador, com todas as liberdades tolhidas em meio a uma campanha ferrenha para comprar uma copa do mundo nesse movimento frenético por abocanhar o mundo do futebol tem um aspecto revelador: agora sabemos quem está de fato ao lado do jogo e quem espera encontrar apenas dinheiro, a despeito de tudo.
Não sou hipócrita de achar que o dinheiro não é importante para a independência financeira de qualquer um em qualquer atividade mas, até que ponto, ele basta por si só sem enxergar as outras belezas da vida e do esporte mais amado do mundo?