Marília

Júlio Villani reecontra público brasileiro com três mostras em São Paulo

Júlio Villani reecontra público brasileiro com três mostras em São Paulo

Júlio Villani, um artista plástico celebrado dentro e fora do país que trocou Marília pela França, está de volta ao Brasil e vai apresentar três mostra de diferentes trabalhos em espaços tão diferenciados quanto sua produção em um importante reencontro com o público brasileiro.

Nascido em Marília, Villani está radicado na França desde a década de 80, depois de passar pela Dinamarca, Espanha e Inflaterra, mas sem deixar de fazer aparições, mostrar, criações e interações com a arte no Brasil. E não para de produzir.

Nesta temporada apresenta de forma especial uma série de esculturas ‘almost readymade’ que tem “por motor dar a ver a poesia que reside em objetos corriqueiros – nesses pequenos ‘nadas’ pelos quais a gente normalmente passa sem olhar”.

As peças de “Museu de Tudo” ficam na Casa de Vidro, onde funciona o Instituto Bardi com projeto da arquiteta Lina Bo Bardi, na R. Gen. Almério de Moura, 200 – Morumbi, aonde fica até 4 de novembro.

No dia 14 de outubro Villani chega a novo endereço e com outras obras, em composição têxtil, e vai ‘andar’ 200 metros para levar sua arte à Capela do Morumbi.

O artista tem ainda trabalhos expostos na Galeria Raquel Arnaud, na rua R. Fidalga, 125, coração do cultuado bairro da Vila Madalena. E quem quiser ver esta precisa correr: a mostra termina dia 16 de setembro. O Giro Marília conversou com Júlio Villani e mostra sua avaliação da mostra, do reencontro com o Brasil e da arte em geral, veja abaixo.

 Reencontro com o público brasileiro
Expor, confrontar o que acontece de maneira isolada no atelier ao olhar de outros, do público é sempre superinteressante. Mas é particularmente interessante mostrar esta série no Brasil, sobretudo na casa de Lina Bo Bardi – ela que tanto misturou arte erudita com arte popular, que no fundo talvez seja o lugar onde se situam essas esculturas.

Como escreveu Samuel Titan (em Por um fio, texto de apresentação da exposição na Galeria Estação em 2019): muitas delas são móbiles à maneira de Calder [mas são também] brasileiríssimas, filhas do jeitinho e da gambiarra elevados à condição de arte, dotadas daquela graça etérea e desajeitada que as petecas têm.

– A temporada no país
Esta exposição na Casa de Vidro se desdobrará em uma segunda à partir de 14 de outubro, na vizinha Capela do Morumbi, situada a apenas 200 metros. Nela exploro de outra maneira o que Manoel de Barros descreveria como atribuir à poeira e as pequenas coisas do chão, a importância de catedral.

Trata-se de uma obra têxtil monumental, uma composição de 15 x 5 metros feita em fios de lã, intitulada “Paraíso” (aqui se borda aqui se paga) e que está sendo realizado em colaboração com duas costureiras, Camila Prado e Flauzina Rocha, ambas da também vizinha comunidade de Paraisópolis.

As duas exposições são assim não somente uma ocasião de explorar a poesia escondida nas miudezas do mundo, mas também de criar um movimento que vai do Morumbi – com seus dois monumentos históricos e arquitetônicos excepcionais: a Casa de Vidro dirigida pelo Instituo Bardi e a Capela do Morumbi, que depende dos Museus da Cidade de São Paulo – à Paraisópolis, criando um polo ativo e criativo na região.

– Em tempo de inteligência artificial, criatividade é uma atração?
No dia que deixar de ser, acho que o mundo perde a graça…

– Como vê o avanço da arte no mundo digital?
Como em todo progresso, corre-se sempre o risco de retrocesso escorregadio junto. O mundo digital propicia mil avanços e apoios – “como fazíamos antes?”, me pego perguntando mil vezes – mas cria também um campo livre para a ignorância, alienação, fake news e a avalanche de consequências nefastas que trazem. Me agarro à arte e à poesia como um instinto de sobrevivência.