Mulher

Produtora audiovisual busca maior participação de mulheres

Divulgação Bruna Cassapietra e Laura Terra, co-fundadoras da beel films
Divulgação Bruna Cassapietra e Laura Terra, co-fundadoras da beel films


O setor audiovisual no Brasil, como em muitas partes do mundo, passa por uma jornada rumo à igualdade de gênero. Nos últimos anos, houve avanços significativos na inclusão e no reconhecimento das mulheres nesse campo, que vêm assumindo papel de liderança em diversos setores, no entanto, muitos desafios persistem, segundo Laura Terra e Bruna Cassapietra, co-fundadoras da beel films.

De acordo com a Agência Nacional de Cinema (Ancine), que em 2016 analisou 142 longas-metragens lançados comercialmente em sala de exibição, a maioria das histórias produzidas no país foi feita do ponto de vista masculino.

Poucos anos mais tarde, o estudo “A presença feminina nos filmes brasileiros”, também realizado pela Ancine, em parceria com o Instituto de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2020, apontou que apenas 25% dos filmes lançados no Brasil entre 2017 e 2019 tinham mulheres como diretoras. Além disso, somente 19% das produções tinham roteiristas mulheres, e apenas 35% tinham mulheres na produção executiva. O mesmo estudo mostra que, em média, mulheres representaram apenas 37,1% dos personagens com falas nos filmes analisados. Em 25% dos filmes, elas não tinham nenhum papel importante na história, e em 33% dos casos, elas não tinham falas ou não eram creditadas.

Apesar de os dados apontarem para um mercado predominantemente masculino, as amigas Laura e Bruna deram um passo na contramão das estatísticas. Em 2016 fundaram a beel films, produtora audiovisual de conteúdo para o digital, com liderança 100% feminina.

De acordo com as sócias, a curiosidade de algumas empresas em saber mais sobre as fundadoras e esse formato predominantemente feminino era recorrente. “Era muito comum surgirem questões opostas ao objetivo inicial de uma reunião, como perguntas pessoais sobre as fundadoras e seus graus de parentesco ao invés de perguntas profissionais”, contam.

No entanto, buscaram sempre se posicionar, mostrando capacidade em relação ao mercado digital, mercado esse que hoje caminha livremente, diferentemente de anos atrás em que era percebido vícios do mercado publicitário, como querer saber nome de diretores (homens) para a produção dos conteúdos.

“Atualmente é possível ver uma diferença nesses diálogos, pois o mercado digital tem outra realidade, tanto em relação à criação, tempo e/ou consumo, mas sem dúvidas há muito que mudar em relação à desigualdade de gênero. Os vícios de mercados ainda estão presentes assim como a curiosidade/choque em ter uma diretora em frente a um projeto, mesmo que esse projeto seja para um produto consumido por sua maioria feminina, como absorventes ou maquiagem”, explica Bruna Terra, diretora da beel.

À frente de centenas de criações de conteúdos digitais, a beel busca trazer em seus trabalhos o maior número de mulheres em sua equipe, oferecendo às profissionais oportunidades e experiência, e ao mercado o benefício da pluralidade.

Segundo a produtora executiva Laura Terra, não é incomum encontrar produções feitas pela beel films com a equipe 100% feminina, desde a venda até a pós-produção de um projeto, o que, por diversas vezes, chama a atenção de clientes por trazer uma atmosfera diferente ao set de gravação.

“Há casos em que a produtora atendeu aos pedidos do cliente para que fosse uma equipe 100% feminina para levar conforto à atriz, uma vez que havia cenas de exposição do corpo. Ou em outros casos, em que receberam o pedido para que a equipe fosse feminina, para executar um projeto do ponto de vista de uma diretora mulher, pois o consumidor final também era composto em sua maioria por mulheres”, explica.

Para as sócias, produto e mercado existem para todos. O que ainda é pouco explorado, e talvez configurado em modo automático, é a percepção do produto final e seu consumidor.

“Trazer diferentes pontos de vista é trazer pluralidade ao produto e oportunidades de trabalho. E isso vale para todos os setores, não apenas para o audiovisual. No momento atual, o empreendedorismo feminino precisa desse destaque em oportunidades de liderança, abrir espaço para mais mulheres para que o mercado se beneficie dessa variedade de olhares”, complementam.

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Fonte: Mulher