Linchamentos virtuais, abuso em uso de espaços públicos e privados, desvirtuamento do que poderiam ser boas e importantes medidas de investigação de suspeitas cobriram Marília com informações que expõem o pior do jogo político e da indignação seletiva, que varia de acordo com o interesse do cliente.
A conclusão de uma sindicância sobre suspeitas de desvios na Secretaria de Esportes foi o principal capítulo desse jogo emporcalhado, com o agravante de usar espaços e recursos públicos.
Na sequência disso a divulgação de mensagens que podem indicar manipulação digital para incriminar a administração e pessoas próximas ao prefeito correu redes sociais com nenhum efeito prático ou benéfico além disso mesmo: ser fofoca em redes sociais.
Os dois casos merecem análise com detalhes
– A sindicância
A investigação sobre quatro anos da gestão de Esportes é o puro suco do milho do jogo sujo político. Foi feita em forma de sindicância com a proteção de lei municipal para promover tudo sem ouvir os acusados. Mas começou mal.
Como cita o relatório, a denúncia que levou à sindicância era a de um crime: formação de quadrilha. Não cabe à sindicância da prefeitura apurar crimes. O caso já deveria ter ido ao Ministério Público ou polícia de cara.
O procedimento seguiu e fez mais: uma auditoria contábil e administrativa que gastou dinheiro público e produziu um relatório que começa com declaração de isenção do prefeito e termina com relatório criminal. Entre as duas partes tem muitos números grandiosos e tantas suspeitas que valem uma investigação sobre a investigação. Não vai caber aqui falar de tudo o que parece suspeito no relatório.
Vão dizer que o caso envolve a investigação administrativa…Pode ser, mas isso foi feito com outros casos, como as duas ‘visitas’ da Polícia Federal ao gabinete do prefeito e até endereços particulares de assessores? Isso foi feito com inquérito policial em tramitação na polícia e acompanhamento da Justiça que trata de peculato?
Nenhum dos casos citados teve direito a relatórios de 1.260 páginas divulgados ou sindicâncias, ou todos os nomes dos suspeitos pubolicados. O uso da sindicância deixa muitos sinais de abuso, excessos, exposição indevida para citar aspectos legais. Para citar relações humanas foi cruel, foi o pior do linchamento virtual.
Tanto os eventuais crimes quanto medidas administrativas estão sujeitos a análises judiciais com contraditório e até auditorias isentas. Não havia motivos nem necessidade para que serviço público fizesse o que fez. Qualquer um que seja inocentado pode buscar uma indenização e quem pagaria? O público.
– As mensagens
Vamos então aos caso das mensagens sobre o que seria a conversa de um jornalista e um assessor do prefeito e uma potencial transação ilegal e imoral por publicações com fins políticos.
Suspeitar das relações da mídia com o poder público não é apenas plausível, é quase uma obrigação. O mundo, o Brasil em especial e Marília com certeza têm histórias de relações muito ruins nesse sentido. Mas para começar, a análise inicial deve ser do público que acredita ou não no que assiste, ouve ou lê. Depois, na forma legal, correta e direta de investigar uso de recursos públicos.
As mensagens de áudio que circularam carregam vários sinais de manipulação: não mostram conversas inteiras, detalhes de datas, como foram obtidas, quem obteve e que medidas teriam sido tomadas, como enviar à polícia e Ministério Público. Mais uma vez, foi só projeto de linchamento virtual.
É tudo jogado para contar com a indignação seletiva. Ficar mais ou menos feliz com os abusos varia de acordo com interesse político, econômico e social. Não parece um caminho bom e o país não muda assim.
Os dois casos fazem mais. São apresentados como recados, sinais do que pode haver de violência contra desafetos. Algo como filmes de velho oeste ou relações de máfia. Aceitar um ou outro de acordo com interesse só alimenta os dois. Nenhuma das situações cabe em espaços privados e muito menos nos públicos.