Nacional

De Tarcísio na corda bamba à guerra pela Sabesp: a Alesp em 2023

Comissão da Alesp pede fiscalização do Procon para voos da azul em Marília
Comissão da Alesp pede fiscalização do Procon para voos da azul em Marília


Se as expectativas estavam altas para o início do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, os deputados estaduais trataram que frear os ânimos e deixaram o governador com uma “infestação de pulgas” atrás da orelha. Tarcísio se viu pressionado pela falta de articulação com os parlamentares, mas a distribuição de emendas e o apoio de aliados mudou o cenário e o Palácio dos Bandeirantes fechou o ano de 2023 com status positivo junto à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Ao assumir o governo, Tarcísio conseguiu equilibrar sua base no Legislativo e anunciou Gilberto Kassab como o secretário responsável pela articulação com os deputados. O anúncio provocou a junção de PL, Republicanos, PSD, MDB, PSDB, Cidadania, Solidariedade, Progressistas e União Brasil na composição do Bandeirantes.

Entretanto, Kassab perdeu força com a chegada de um aliado e melhor amigo de Tarcísio para comandar a Casa Civil: Arthur Lima. Sem articulação com os parlamentares e novato na política, Lima foi alvo preferido dos deputados, que se afastaram de Tarcísio.

A cobrança sobre o governo aumentou no recesso de julho, o que acendeu o alerta do Palácio dos Bandeirantes. Os deputados queriam a liberação de emendas parlamentares para abastecerem suas bases eleitorais e Tarcísio precisou agilizar a verba para conseguir manter o controle da base.

A partir disso, Tarcísio passou a sinalizar melhora e conseguiu contornar a crise dos primeiros meses de mandato. Dos 26 projetos apresentados pelo governador, 18 foram aprovados pelos deputados. Entre eles, está a privatização da Sabesp, que gerou uma “guerra” nas dependências da Assembleia Legislativa.

Fora isso, o Bandeirantes conseguiu emplacar a Reforma Administrativa, que elimina 5,4 mil cargos comissionados e o reajuste dos policiais, uma das principais bandeiras da campanha de Tarcísio.

Porém, a relação entre o governo e deputados voltou a estremecer na reta final do ano e Tarcísio viu os adiamentos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que repassa 5% do orçamento da educação para a saúde e do projeto Plurianual de 2024 a 2027. Ambos devem ficar para o primeiro semestre de 2024.

Para o líder de governo na Alesp, Jorge Wilson (Republicanos), o Palácio dos Bandeirantes fecha o ano com saldo positivo junto aos deputados. Ele minimizou as dificuldades sofridas por Tarcísio de Freitas no começo do ano e vê o parlamento unido para a consolidação dos trabalhos.

“Faça uma análise, todos os projetos [enviados pelo governo] foram aprovados. Cada deputado tem sua prerrogativa, dele discutir uma questão, reivindicar alguma coisa, ainda mais se tratando do maior parlamento da América Latina. Quando falamos em termos de projetos, a gente fecha o ano vitorioso, um ano mostrando que a nova mesa diretora tem sido extremamente cuidadosa com a democracia, em respeitar a liberdade de expressão e as ideologias de todas as bandeiras. Esse ano foi recorde de projetos de deputados aprovados pela Alesp. Neste primeiro ano, todos os projetos importantes para o estado, nós aprovados e consolidamos o nosso trabalho. PEC Ambiental, privatização da Sabesp, reforma administrativa. No caso da Sabesp, tivemos muito votos acima do mínimo. É a consolidação da base aliada.”, declarou Wilson.

“Tenho que agradecer a todos os deputados, de forma tranquila. Tivemos juntos, de mãos dadas, para fazer a diferença no Estado de São Paulo e contribuímos para que o governo de São Paulo enviasse equipamentos e serviços públicos de qualidade”, completou.


O ano na Alesp

O ano começou com o governo emplacando a presidência da Casa, com André do Prado (PL), e todas as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI). Tarcísio ainda conseguiu a aprovação de créditos extras para reconstruir São Sebastião, após as fortes chuvas que atingiram o litoral norte do estado em fevereiro.

Nesse meio tempo, o governador e seus aliados tentavam estancar a crise na articulação dos deputados e enviou o projeto que reajustava os salários dos policiais civis e militares. A matéria era uma promessa de campanha do governador e uma das principais bandeiras da ala bolsonarista na Alesp.

A tramitação do projeto, no entanto, foi uma “dor de cabeça” para o Palácio dos Bandeirantes. Sem abarcar policiais penais e agentes socioeducativos da Fundação Casa, Tarcísio viu sua base não dar quórum para as votações e a oposição se fortalecendo com apenas quatro meses de mandato.

Após quatro adiamentos, os deputados, enfim, aprovaram o texto que aumenta os salários de PMs e civis em 20%. A base só se articulou em prol do projeto depois de Tarcísio se comprometer a enviar outro projeto para abarcar setores “esquecidos” na proposta original.

Meses depois, Tarcísio de Freitas voltou a se ver em uma “sinuca de bico” ao prometer cargos no Tribunal de Contas do Estado (TCE) para três aliados diferentes. Depois de muitas reuniões e novas promessas, o governador conseguiu driblar a crise e emplacou o Marco Bertaiolli para o TCE. Bertaiolli é um nome acordado entre Gilberto Kassab e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que tinha interesse de tirar um potencial candidato à prefeitura de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, da disputa.

Tarcísio também conseguiu, com muita dificuldade, aprovar a inclusão de São Paulo no Consórcio de Integração Sul-Sudeste (Cosud). As barreiras encontradas pelo Bandeirantes, porém, não foram causadas pelo ambiente interno, mas por falas do governador mineiro, Romeu Zema (Novo). Ao aparar as arestas, Freitas se comprometeu a manter a independência do consórcio e declarou que o grupo não é uma tentativa de ataque ao governo federal ou ao Consórcio Nordeste.

Em outubro, foi a vez de Tarcísio enviar uma sinalização ao seu padrinho político: o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele alçou a aprovação do projeto que anistiava as multas aplicadas a Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19, no mesmo dia em que enviou a privatização da Sabesp para ser discutida na Alesp.

A discussão sobre o texto que vende a estatal provocou diversas desavenças entre base e oposição do governo Tarcísio, além de transformar a Assembleia Legislativa em um “ringue de UFC”. No dia da votação, policiais militares e manifestantes entraram em confronto. Dezenas ficaram feridos e bombas de gás lacrimogêneo foram usadas para dispersar os protestos.

Uma das bombas foi jogada no plenário, o que provocou um corre-corre de deputados e jornalistas com falta de ar. Horas depois, a base governista aprovou a venda da estatal por 63 votos e 1 contrário. A oposição se recusou a retomar os trabalhos após a confusão e tentou barrar a privatização da empresa na Justiça, mas sem sucesso.

O último texto polêmico aprovado por Tarcísio na Alesp é a Reforma Administrativa, que cortou cerca de 20% dos cargos comissionados do governo do estado. A proposta reduz mais de 5 mil vagas em comissão, caindo de 26,7 mil para 21,5 mil cargos por indicação. Desse total, 17 mil continuam ocupados e outros 4 mil ficarão como “banco de vagas”.

Projeções para 2024

As resistências sobre Tarcísio de Freitas tendem a se manter pelo menos nas primeiras semanas de fevereiro, quando os trabalhos no Legislativo serão retomados. Nos bastidores, a base bolsonarista voltou a ficar insatisfeita com o governo, enquanto outros deputados ficaram incomodados com ações, ou falta delas, do chefe do Bandeirantes.

Entre as prioridades, está a reorganização do orçamento da saúde. O governo quer repassar os 5% gastos a mais com a educação para a pasta, mas garante que poderá alterar caso a Secretaria de Ensino solicite maior verba no decorrer dos anos.

Outro desafio do governador é contornar o adiamento da aprovação do PL dos Pets, que trata sobre a regulamentação de criadouros e venda de animais em petshops. A proposta foi costurada por Tarcísio junto aos parlamentares, mas a própria base não comprou o texto e adiou a análise para o próximo ano. Internamente, deputados avaliam que Tarcísio de Freitas também “não se esforçou” para emplacar a medida.

O Palácio dos Bandeirantes ainda agiliza o envio de projetos sobre a criação de escolas cívico-militares, além da regulamentação da polícia penal no estado.

Fonte: Nacional