Marília

Desocupação no CDHU acumula danos, abandono de animais, dramas pessoais e sensação de medo

Apartamentos acumulam cenários de abandono, danos e perda dos sinais de vidas e sonhos – Fotos: – Janaina Marcantonio/@janaessence
Apartamentos acumulam cenários de abandono, danos e perda dos sinais de vidas e sonhos – Fotos: – Janaina Marcantonio/@janaessence

O avanço na desocupação do conjunto Paulo Lúcio Nogueira, conhecido como CDHU, na zona sul de Marília, mostra um cenário de danos e vandalismo, detalhes de vidas deixados por moradores, aumento na sensação de medo e percepção de que faltou projeto de cuidado, segurança e fiscalização no processo de saída.

É uma história documentada por relatos pessoais, imagens da destruição de apartamentos, animais abandonados nos prédios e isolamento de famílias que ainda estão nas unidades – o que inclui crianças – .

“Não é fácil. Só Deus sabe das nossas lutas do dia a dia. Faltam 5 dias pra desocupação total e até agora não achei casa pra alugar”, postou um dos moradores.

O homem, com 45 anos, vive no prédio com casal de filhos. Conta que está desempregado e não conseguiu alugar imóvel com o valor do auxílio mudança.

Os danos em apartamentos, furtos de fios e de material hidráulico espalham cacos, riscos e sujeiras. Há relatos de ocupações e uso de unidades por moradores em rua e usuários de drogas.

Há ainda outro tipo de vidas deixadas para trás: animais. Várias imagens de cães e gatos pelos prédios.

O cenário nas ruas do empreendimento, que tem 44 blocos de apartamentos, é de uma cidade fantasma com muitos sinais do abandono às pressas. Móveis, objetos pessoais, roupas, louças, decoração, espelhos deixados nos apartamentos reforçam esse modelo.

Atrasada e na correria, a desocupação acontece após seis anos em que a CDHU, empresa do Estado responsável pela construção, arrastou a discussão sobre a saída e reformas nos prédios.

Ficam cada vez mais perdidos os registros de que o conjunto abrigou muitas famílias, trabalhadores, aposentados e sonhos da casa própria. Aumenta a sensação de medo.

“Estive no CDHU pra fazer algumas fotos e ao chegar me dei conta de como já está perigoso…Cadê a segurança dos moradores que ainda estão lá? Cadê a casa para quem tem escritura?”, questiona a fotógrafa Janaina Marcantonio, que desde maio mantém projeto de registro de imagens no local.

Durante anos ela foi testemunha do uso do conjunto por muitas famílias, pessoas que decoraram, equiparam e valorizaram seus apartamentos.

Na última visita desviou de vários ratos mortos, restos de vandalismo e pela primeira barreira em meses de sua circulação: um homem, aparentemente morador em rua e ocupação, impediu sua entrada em um bloco.